Trabalho

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:É uma [[questão]] que aparece na [[ascese]] cristã por oposição à [[gnose]] – daí o lema de S. Bento: " ''Ora et labora'' ", ''Ora e trabalha''. Surge em Marx como [[possibilidade]] de [[realização]] do [[homem]], fundada no humanismo. Mas aparece também no domínio puramente pragmático do [[agir]] instrumental. O leitor confira o livro de Merquior (1), p. 137. Retoma o tema depois à página 198 e seguintes, mas agora a propósito de Nietzsche.
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:É uma [[questão]] que aparece na [[ascese]] cristã por oposição à [[gnose]] – daí o lema de S. Bento: " ''Ora et labora'' ", ''Ora e trabalha''. Surge em Marx como [[possibilidade]] de [[realização]] do [[homem]], fundada no humanismo. Mas aparece também no domínio puramente pragmático do [[agir]] instrumental. O [[leitor]] confira o livro de Merquior (1), p. 137. Retoma o [[tema]] depois à página 198 e seguintes, mas agora a propósito de Nietzsche.
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:(1) MERQUIOR, José Guilherme. ''Saudades do carnaval''. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 137.
:(1) MERQUIOR, José Guilherme. ''Saudades do carnaval''. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 137.
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Edição de 02h42min de 27 de Agosto de 2016

1

É uma questão que aparece na ascese cristã por oposição à gnose – daí o lema de S. Bento: " Ora et labora ", Ora e trabalha. Surge em Marx como possibilidade de realização do homem, fundada no humanismo. Mas aparece também no domínio puramente pragmático do agir instrumental. O leitor confira o livro de Merquior (1), p. 137. Retoma o tema depois à página 198 e seguintes, mas agora a propósito de Nietzsche.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) MERQUIOR, José Guilherme. Saudades do carnaval. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 137.

2

Caminhar nas e com as questões dá o mesmo trabalho de limpar, arar, semear, plantar, o terreno e esperar a firme, mas lenta maturação do semeado para sua eclosão no e com o tempo propício. A semente para amadurecer precisa de três instâncias: a semente como tal, o terreno, o tempo de maturação. Notamos que a ação do homem - o trabalho - apenas agencia o que já tem ação em si mesmo, mas pelo ordenamento (legein) lhe dá sentido. Isso é o mesmo que questionar e aprender, porque quem medra enquanto aprender é o que se é, a vida que se recebeu. Desse trabalho surge o formar do que chega a desabrochar (infelizmente muitas sementes e seres humanos estiolam antes disso tudo acontecer), mas também a forma das obras de arte (e dos utensílios) e do próprio ser humano, que são indissociáveis, sendo impossível haver forma sem o triplo agir (trabalho em sentido amplo), onde se inclui e é necessário incluir o agir da [[natureza / physis]], acima apresentado. Portanto, nada tem a ver com formalismos técnicos. Pelo contrário, é o que os gregos denominavam morphe, a presença da forma enquanto presença do agir e realizar-se. É nesse sentido que a obra de arte é aquela onde se faz presente não apenas uma [[forma], mas onde nesta vigora o próprio agir enquanto presença do sentido. Se considerarmos que a forma, de alguma maneira, introduz o limite, a presença enquanto sentido projeta o agir da obra para além do limite. É isso a morphe, em sentido grego.


- Manuel Antônio de Castro

3

O trabalho na dimensão da técnica é produzir para a entificação, isto é, fazer aparecer um ente, é um produzir substancial, pois é a verdade manifestativa do que é enquanto ente, por isso a verdade se reduz à vigência da lógica e não da verdade enquanto aletheia. É um trabalho onde predomina o fazer em detrimento e esquecimento do ser. Já o trabalho na dimensão do sentido do ser, diz do agir no e pelo pensar, e não simplesmente do fazer, porque nele o agir é deixar a verdade advir em sua essência: manifestação e vigorar do ser do sendo em tudo que é e está sendo. Neste agir, o ser humano não intervém e nem jamais tem a intenção de intervir nem comandar o destino, a manifestação do sagrado, ele se empenha no penhor de chegar deixando advir o bem e ser tomado pelo pensar. Por isso noein e dianoia nos remetem muito mais para o pensar do que para o conhecer, em sentido causal. O conhecer é então o descobrir as leis causais e através delas operar o real dentro de uma finalidade e eficiência funcional. Eis o trabalho técnico.


- Manuel Antônio de Castro