Motivo
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). '''O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro'''. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 83. | ||
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+ | : "[[Viver]] sem [[sentido]] não implica no [[agir]] deixar-se tomar pelo sem [[sentido]]? Por vivermos já estamos agindo. Mas qual o [[motivo]] de nosso [[agir]]? O que em nossas [[ações]] temos em vista? Em outras [[palavras]]: o que dá [[sentido]] ao nosso [[agir]]? É a [[vida]]? E se não for a [[vida]], mas a [[morte]]? Como pode a [[morte]], que é [[não-ação]], [[dar]] [[sentido]]? Essa é a [[questão]] em que se move não somente o [[viver]], mas também o [[estar]] [[sendo]] no [[viver]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245. | ||
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+ | : "Não basta [[viver]], repetimos, é necessário procurar o [[motivo]] de [[existir]]. É, paradoxalmente, uma [[necessidade]] que liberta. Liberta para quê? Para a [[sabedoria]] do [[sentido]] de nossa [[finitude]]" (1). | ||
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+ | : Referência bibliográfica: | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194. | ||
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- | : (1) | + | : (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 125. |
Edição atual tal como 22h11min de 26 de Abril de 2024
Tabela de conteúdo |
1
- "Coisas simples não podem apenas ser simples. Por detrás de todo motivo há sempre outro motivo" (1).
- - Referência:
- (1) Fala da personagem Marianne no filme de Liv Ullmann Infiel, com roteiro de Ingmar Bergman.
2
- Como o tempo se dá em instantes, não poderíamos experienciar nenhum instante como tempo se este não fosse sentido, ou seja, linguagem. A linguagem é o sentido do tempo na medida em que este é vida, é memória, é ser. A linguagem é a unidade da memória vigorando enquanto sentido. Em um tal vigorar é que consiste propriamente a poesia. Portanto, tanto esta quanto a linguagem são indissociáveis de ser e tempo. E é o tempo enquanto instante que se torna o motivo de ser poeta. É o que nos diz a poeta Cecília Meireles no primoroso poema "Motivo" do livro Viagem (1):
- Motivo
- Eu canto porque o instante existe
- e a minha vida está completa.
- Não sou alegre nem sou triste:
- sou poeta (1).
- .............................
- Referência:
- (1) MEIRELES, Cecília. Viagem. In: ---. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987, p. 81.
3
- "Em todo existir há sempre um motivo, aquilo que nos move, comove e promove em tudo que fazemos e não fazemos: ser amando. Isso decorre de que não somos nós que nos movemos, mas o amar é que dá a energia e o sentido de todo mover" (1).
- Em nossa existência sempre há algo que nos move e leva a agir, a procurar. Isso se torna a motivação do nosso existir.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.
4
- "A realidade é o labirinto que exige de nós uma caminhada de sentido, um motivo que nos mova em nossa existência. É para esse sentido que a dança nos conduz, se a deixarmos operar, se tivermos a coragem de nos entregarmos a ela em sua vigência. Na dança poética somos tomados pelo que somos, pois ser é sempre uma tarefa poética, onde quem vigora é o princípio: o não cessar de estar sendo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 83.
5
- "Viver sem sentido não implica no agir deixar-se tomar pelo sem sentido? Por vivermos já estamos agindo. Mas qual o motivo de nosso agir? O que em nossas ações temos em vista? Em outras palavras: o que dá sentido ao nosso agir? É a vida? E se não for a vida, mas a morte? Como pode a morte, que é não-ação, dar sentido? Essa é a questão em que se move não somente o viver, mas também o estar sendo no viver" (1).
- A sociedade de consumo em que vivemos produz um paradoxo: embora se viva em função do consumo, as pessoas se dão, de repente, conta de que não estão aproveitando a vida. Por isso, mais do que nunca é necessário pensar a essência do agir e seu sentido, o poético da vida. Precisamos pensar o motivo que move nossas escolhas. E então se faz presente, necessariamente, a morte.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.
6
- "O que nos faz falta é o sentido do ser. O que é o sentido? Dessa maneira tudo que acontece fora do sentido é falta, que é o mal radical. É mal porque sem o sentido de ser a vida perde o seu motivo de viver. Mas o que nos motiva o viver? O simplesmente estar ou no e por estar sendo deixar o ser ser o motivo, isto é, o sentido? Como se pode viver sem sentido? E quem dá o sentido? A perda de sentido não é já deixar estar o mal nos secando?" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.
7
- "Viver sem sentido não implica no agir deixar-se tomar pelo sem sentido? Por vivermos já estamos agindo. Mas qual o motivo de nosso agir? O que em nossas ações temos em vista? Em outras palavras: o que dá sentido ao nosso agir? É a vida? E se não for a vida, mas a morte? Como pode a morte, que é não-ação, dar sentido? Essa é a questão em que se move não somente o viver, mas também o estar sendo no viver" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.
8
- "Não basta viver, repetimos, é necessário procurar o motivo de existir. É, paradoxalmente, uma necessidade que liberta. Liberta para quê? Para a sabedoria do sentido de nossa finitude" (1).
- Referência bibliográfica:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194.
9
- se quer ser criativo
- você precisa aprender
- a fazer coisas que não têm motivo
- a arte não nasce
- do trabalho sem intervalo
- antes de tudo você
- tem que sair lá fora e viver
- - logo a arte vem (1)
- Referência:
- (1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 125.