Homem

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:O [[platonismo]], ao fundar a [[metafísica]], na essência, funda o mito do homem ocidental, porque reduz o "on" ao logos enquanto ideia, delimitando conceitualmente a essência do agir à techné, ao logos enquanto eidos. Na medida em que delimita o logos pelo eidos e o eidos pelo logos, acaba por delimitar o alcance da essência do agir no logos do eidos e ao eidos do logos. Este alcance da essência do agir delimita a metafísica e, nela e por ela, a essência do homem. Nesse sentido, ele funda o homem metafísico. E este, na medida em que exclui a poiesis como ethos e sofos, determina a essência do agir do homem a partir de e como techné. Por isso, como afirma Heidegger em "A questão da técnica": a técnica é um meio para um fim e a técnica é uma atividade do homem. O que não está pensado aí é em que consiste a essência desse agir humano, dessa atividade do homem. A técnica, como ação do homem, é ética, sim, mas qual a medida dessa ação? É ela fundada no ethos? O ethos, a epistema ethiké, diz respeito ao comportamento do homem, a todo comportamento, isto quer dizer: ao seu agir, aos seus empenhos e desempenhos, à suas ações. Mas qual é o penhor das ações do homem, de todos os empenhos e desempenhos? Esta é a questão. Mas quando se coloca a questão não se trata mais simplesmente dos empenhos e desempenhos, trata-se, na verdade, da essência dos empenhos e desempenhos, ou seja, da essência do agir. Ela é, portanto, a questão das questões, porque nela se decide a essência do homem, na medida em que agindo e pelo agir ele é o que é. Na essência do agir se decide o seu ser. O platonismo se decidiu pela essência do homem como ser metafísico, porém um tal ser é devido pela decisão metafísica. E esta se decide numa cisão. Nada não se cinde apenas o sensível do inteligível. Ele cinde o ser do ser dos entes pelo silenciamento e esquecimento da clareira e do duplo velamento.
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:O [[platonismo]], ao fundar a [[metafísica]], na essência, funda o mito do homem ocidental, porque reduz o "on" ao logos enquanto ideia, delimitando conceitualmente a essência do agir à techné, ao logos enquanto eidos. Na medida em que delimita o logos pelo eidos e o eidos pelo logos, acaba por delimitar o alcance da essência do agir no logos do eidos e ao eidos do logos. Este alcance da essência do agir delimita a metafísica e, nela e por ela, a essência do homem. Nesse sentido, ele funda o homem metafísico. E este, na medida em que exclui a ''poíesis'' como ethos e sofos, determina a essência do agir do homem a partir de e como techné. Por isso, como afirma Heidegger em "A questão da técnica": a técnica é um meio para um fim e a técnica é uma atividade do homem. O que não está pensado aí é em que consiste a essência desse agir humano, dessa atividade do homem. A técnica, como ação do homem, é ética, sim, mas qual a medida dessa ação? É ela fundada no ethos? O ethos, a epistema ethiké, diz respeito ao comportamento do homem, a todo comportamento, isto quer dizer: ao seu agir, aos seus empenhos e desempenhos, à suas ações. Mas qual é o penhor das ações do homem, de todos os empenhos e desempenhos? Esta é a questão. Mas quando se coloca a questão não se trata mais simplesmente dos empenhos e desempenhos, trata-se, na verdade, da essência dos empenhos e desempenhos, ou seja, da essência do agir. Ela é, portanto, a questão das questões, porque nela se decide a essência do homem, na medida em que agindo e pelo agir ele é o que é. Na essência do agir se decide o seu ser. O platonismo se decidiu pela essência do homem como ser metafísico, porém um tal ser é devido pela decisão metafísica. E esta se decide numa cisão. Nada não se cinde apenas o sensível do inteligível. Ele cinde o ser do ser dos entes pelo silenciamento e esquecimento da clareira e do duplo velamento.
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Edição de 02h27min de 30 de março de 2009

1

Na realidade, a desconstrução do mito do homem passa pela desconstrução do poder da consciência. Ver, do ponto de vista historiográfico Bárbara Freitag (1) e, do ponto de vista ontológico, a discussão em torno da identidade e diferença, que já remonta a Parmênides no fragmento III ("pois o mesmo é pensar e ser" (2), quando referencia o mesmo (autò) como o núcleo da identidade e diferença, ou seja, do ser e do perceber. Até onde podemos entender o noein (pensar, perceber) como sendo o próprio da consciência? Não incluirá o inconsciente porque no noein advém o próprio ser? Então, desconstruir o "mito do homem" é, em verdade, libertá-lo do limite das possibilidades racionais pelo pensar e para o pensar.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) A teoria crítica ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986.
(2) Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991, p.45.


2

O homem aparece como diferença de identidade e diversidade, na medida em que ele já pertence e vige na identidade/diversidade. Mas estas se fazem pre-sentes na diferença enquanto apelo e escuta, ou, como diz Heidegger, como vigilância. Daí denominar os poetas e pensadores vigias do Ser.


- Manuel Antônio de Castro


3

É necessário pensar a construção do homem a partir do mito. Isto pode ser visto no estudo do Jaa Torrano (1). Quando trata das três fases e três linhagens dos deuses, ele nota que o homem moderno é concebido em duas tendências: ou subjetividade psicológica, ou através das leis estabelecidas pela ciência que podem ser naturais, sociais, econômicas, culturais etc (2). É nessa tensão que se dá a personalidade. Esta vem de persona, máscara. Há aí uma construção do homem de cunho metafísico, baseada na aparência e no falso, a persona. Também é uma construção do homem baseada na de-cisão do agir do homem, onde a ação de homem tem seu fundamento na subjetividade e sua vontade, em seu querer. Mas não é isso o que mito diz. O homem e sua construção, para o mito, advêm na Moîra. Mas o que é Moîra? Diz Torrano: "uma antiga expressão com que os gregos designaram a Fatalidade fosse Moîra ou Moírai; lote ou lotes: embora essa expressão fosse suscetível de receber e concebesse uma ideação antropormófica, fica claro neste nome Moîra que a Fatalidade de modo algum era concebida como uma transcendência (hyperousía), mas como imanente (parousía). A Fatalidade, Moîra, é a condição constitutiva do próprio ser em que ela se exprime, e não uma imposição que se exercesse sobre o ser a que ela acompanhasse. Essa distinção é da maior importância para percebermos o quanto o pensamento arcaico é concreto, isto é, centrado na parousía: ele tende com a sua maior força para a presença, o ser para ele se dá como presença" (3). Essa presença é alétheia (4). Moîra e alétheia, enquanto apropriação do que é próprio (5), se dá na medida em que todo ente, cada deus, está na "proximidade das origens" (6), "mas origens como as fontes permanentes e elementos constitutivos da vida" (7). Porém, é importante compreender que vida é entendida aí como dzoé e não como bíos.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função de musas". In: HESÍODO. Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 49.
(2) Idem, p. 51.
(3) Idem, p. 52.
(4) Idem, p. 51.
(5) Idem, p. 52.
(6) Idem, p. 54.
(7) Idem, p. 54.
Cf. também HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998 e LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 130 e seguintes.


Ver também:


4

O homem é mortal. É no âmbito da quadratura que se apreende o que designamos como humano (1). Essa questão é retomada no ensaio "....poeticamente o homem habita..." (2), sendo que, nesse ensaio, a reflexão está centrada na di-mensão e no medir-se na sua relação com os divinos: "o homem mede a dimensão em se medindo com o celestial. O homem não realiza essa medição de maneira ocasional, mas é somente nesse medir-se que o homem é homem". O entre diz respeito à terra e ao céu. Temos aí a apreensão do humano dentro da quadratura, mas agora pensando a referência entre os quatro no medir-se. Por isso, não é uma mera relação, mas uma referência. Mas o medir só se apreende enquanto habitar: "o levantamento da medida de seu habitar é que ele consegue ser na medida da sua essência".


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 136.
(2) Idem, p. 172.


5

"Para um grego, o bíos theoretikós, a vida de visão, sobretudo em sua forma mais refinada, o pensamento, é a atividade mais elevada. A theoría, já em si mesma e não por uma utilidade posterior, constitui a forma mais perfeita e completa do modo de ser e realizar-se do homem." (1) A construção da realidade e do homem se dá em torno de quatro tópicos: a natureza, o homem, o acontecer histórico, a linguagem. É deles que trata Heidegger ao questionar a essência da ciência. No fundo, o conhecimento, embora seja uma dimensão desses quatro núcleos, não dá conta deles.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 45.


6

O platonismo, ao fundar a metafísica, na essência, funda o mito do homem ocidental, porque reduz o "on" ao logos enquanto ideia, delimitando conceitualmente a essência do agir à techné, ao logos enquanto eidos. Na medida em que delimita o logos pelo eidos e o eidos pelo logos, acaba por delimitar o alcance da essência do agir no logos do eidos e ao eidos do logos. Este alcance da essência do agir delimita a metafísica e, nela e por ela, a essência do homem. Nesse sentido, ele funda o homem metafísico. E este, na medida em que exclui a poíesis como ethos e sofos, determina a essência do agir do homem a partir de e como techné. Por isso, como afirma Heidegger em "A questão da técnica": a técnica é um meio para um fim e a técnica é uma atividade do homem. O que não está pensado aí é em que consiste a essência desse agir humano, dessa atividade do homem. A técnica, como ação do homem, é ética, sim, mas qual a medida dessa ação? É ela fundada no ethos? O ethos, a epistema ethiké, diz respeito ao comportamento do homem, a todo comportamento, isto quer dizer: ao seu agir, aos seus empenhos e desempenhos, à suas ações. Mas qual é o penhor das ações do homem, de todos os empenhos e desempenhos? Esta é a questão. Mas quando se coloca a questão não se trata mais simplesmente dos empenhos e desempenhos, trata-se, na verdade, da essência dos empenhos e desempenhos, ou seja, da essência do agir. Ela é, portanto, a questão das questões, porque nela se decide a essência do homem, na medida em que agindo e pelo agir ele é o que é. Na essência do agir se decide o seu ser. O platonismo se decidiu pela essência do homem como ser metafísico, porém um tal ser é devido pela decisão metafísica. E esta se decide numa cisão. Nada não se cinde apenas o sensível do inteligível. Ele cinde o ser do ser dos entes pelo silenciamento e esquecimento da clareira e do duplo velamento.

7

A construção do homem e sua afirmação ao longo do trajeto da cultura ocidental é variado e pode ser entendido em dois momentos: 1) o homem como manifestação do GENOS mítico; 2) O homem como resultado da instituição do mito do homem, gerando uma dicotomia depois aprofundada e radicalizada pela metafísica. Este mito do homem, a partir da metafísica, se transforma em Paideia e humanismo, nas diversas construções: romano, cristão, renascentista e moderno. Dentro deste caminho, temos que ressaltar as diferentes interpretações do Logos e o papel nuclear do judaísmo e do cristianismo, sobretudo a partir de Santo Agostinho, depois continuado pela Escolástica, pelo Renascimento via versão germânica e que recebe o seu coroamento em Hegel. Mas há também duas outras vias. A via romana-francesa-italiana, mais ligada a uma tradição filosófica-literária e que terá em Descartes e em Voltaire uma vertente racional. E há ainda a vertente de Vico que será retomada pelo romantismo alemão e que diz respeito a uma visão da história única. O que aqui é sugerido tem de ser visto levando em conta o livro de José Ferrater Mora (1). Fica a questão: Como interpretar na Pós-modernidade a visão hegeliana e a visão da ilustração francesa (Voltaire). Estas visões transformaram-se em ideologias que a queda da União Soviética pôs em crise. E aí surgem duas novas vertentes. 1) a questão da escrita como suporte e representação; 2) a questão da técnica ou da pós-modernidade. Como pensar hoje questão do homem? Pensando o humano do homem. O humano não provém do homem, mas do ser do homem. Por isso, a questão é maior do que o homem, pois nela e por ela, o homem pode chegar a ser seu humano.


Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) MORA, José Ferrater. Quatro visiones de la história universal. Madrid: Alianza Editorial, 1982.


Ver também:

8

"O homem não é um ente ao lado de outros entes, nem é o sujeito por quem estão determinados os entes. O Ser brilha no homem e este torna-se, pois, a abertura onde se desdobra a verdade dos entes. É no homem que os entes são o que são, através do Ser que brilha nele. No brilhar, o homem se essencializa e o Ser é como Ser. A luz que brilha no homem e a verdade dos entes por ele manifesta se dá pela dinâmica de estruturação do Ser" (1). "A Essência da História é a dinâmica dessa estruturação (2)".
Referência
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 130.

9

"O ser humano é questão porque é o ser do “entre” vida E morte, saber E não-saber, querer E não-querer, agir E não-agir, dizer E não-dizer, ser E não-ser" (1).
Referência
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 164, jan.-mar. 2006, p. 20.

10

"O horizonte radical do ser humano é que ele não vive para depois conhecer. Não. Viver para ele é já desde sempre conhecer. Este projeto poético-ontológica do empenho de viver com o conhecer é que faz do ser humano o livre desempenho em que diuturnamente se empenha. Não é um projeto que possa acontecer ou não, nem que resulte do empenho de conhecer através da consciência. Tal projeto se doa na intuição originária" (1).
Referência
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Interdisciplinaridade poética: o “entre”. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 7/36, jan.-mar., 2006, p. 24.


Ver também