Etimologia

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"A [[língua]] que hoje se usa nos meios de [[comunicação]] é a morte da língua. Fazer um exercício etimológico não é fazer uma pesquisa [[gramática|gramatical]]. Trata-se de tirar as camadas de cinza que os séculos foram depositando nas palavras até chegar ao seu núcleo, à brasa viva que pulsa em cada uma" (1).
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: "A [[língua]] que hoje se usa nos meios de [[comunicação]] é a [[morte]] da [[língua]]. Fazer um exercício [[etimológico]], uma [[procura]] da [[etimologia]], não é fazer uma pesquisa [[gramática|gramatical]]. Trata-se de tirar as camadas de cinza que os séculos foram depositando nas [[palavras]] até chegar ao seu núcleo, à brasa viva que pulsa em cada uma" (1).
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:(1)  CASTRO, Manuel Antônio de. "''Poíesis'', sujeito e metafísica". In: ______ (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 19.
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: (1)  CASTRO, Manuel Antônio de. "''Poíesis'', sujeito e metafísica". In: ______ (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 19.
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: "Só que os [[dicionários]] não dizem nada do que dizem as [[palavras]] na [[experiência]] [[originária]] do [[pensamento]]. Por isso, neste caso, como nos demais, não é [[verdade]] que o nosso [[pensamento]] viva de [[etimologias]]. Vive, antes, de [[pensar]] a atitude vigorosa daquilo que as [[palavras]], como [[palavra|palavras]], nomeiam de forma concentrada. A [[etimologia]], junto com os [[dicionários]], ainda pensa pouco demais" (1).
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:*[[Mistério#3|Mistério, ficha 3]]
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:*[[Palavra]], em especial [[Palavra#4|ficha 4]]
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:*[[Metafísica]]
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:*[[Linguagem]]
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A coisa". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 152.
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: "O que é a [[palavra]] sem a relação com o que nomeia e o que nela vem à [[palavra]]? Deve-se sair correndo de toda [[etimologia]] vazia e [[acidental]]: ela se torna jogatina se o que se está a [[nomear]] na [[palavra]] já não tiver sido anteriormente pensado por [[caminhos]] longos e vagarosos, e não continuar a ser [[sempre]] de novo [[pensado]], comprovado, e [[sempre]] de novo provado em sua [[essência]] de [[palavra]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1998, p. 207.
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "A coisa". In: ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 152.
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:(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz Ocidente". In: ABRANCHES, Antonio (org.). ''O que nos faz pensar''. Vol. 1, 10. Cadernos do Depto. de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p.62.
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: "Todo [[questionamento]] [[radical]] do [[sentido]] das [[palavras]] deve [[perguntar]] pelas [[palavras]] a partir do seu [[começo]]. Dito de outra [[forma]]: todo [[questionamento]] [[radical]] do [[sentido]] das [[palavras]] deve ser [[etimológico]]. Nessa [[dimensão]], a [[linguagem]] do começo é que possibilita a [[ciência]] [[etimológica]] e não o contrário. Para [[questionar]] o [[sentido]] não basta [[conhecer]] [[etimologias]]. É preciso, primeiro, transportar-se, transpor-se para a movimentação do começo, essa que reúne [[dia]] e [[noite]] como a volta para [[casa]] de quem andou, de quem peregrinou e retorna para descansar" (1).
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:"O que é a palavra sem a relação com o que nomeia e o que nela vem à palavra? Deve-se sair correndo de toda etimologia vazia e acidental: ela se torna jogatina se o que se está a [[nomear]] na palavra já não tiver sido anteriormente pensado por caminhos longos e vagarosos, e não continuar a ser sempre de novo pensado, comprovado, e sempre de novo provado em sua [[essência]] de palavra" (1).
 
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz Ocidente". In: ABRANCHES, Antonio (org.). ''O que nos faz pensar''. Vol. 1, 10. Cadernos do Depto. de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p.62.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, 104.
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: "Um dos aspectos iniciais é a [[procura]] da etimologia de [[ler]]. Mas não se trata de exercício formal filológico, pois nos motiva a [[questão]] do [[fundamento]] da etimo-logia: o ''étymos'', [[palavra]] grega que diz [[verdadeiro]]. Mas o que é o [[verdadeiro]]? De que [[verdade]] se trata? Da [[verdade]] [[causal]] e [[instrumental]] ou da [[verdade]] [[manifestativa]]?" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 17.
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: "Tomando a genética como uma primeira [[referência]] para pensarmos o que é [[ler]], há um dado fenomenal muito interessante: a descoberta de que nosso genoma se constitui de cerca de três bilhões de combinações de suas “letras”, que guardam todas as informações necessárias para dar [[forma]] a uma [[pessoa]]. E mais: as [[informações]] são guardadas por milhares de anos. Em relação às [[palavras]] e seus [[sentidos]], é isso que nos proporciona o estudo da [[etimologia]]" (1).
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Delume Dumara, 1998, p. 207.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 18.

Edição atual tal como 16h05min de 12 de Dezembro de 2020

1

"A língua que hoje se usa nos meios de comunicação é a morte da língua. Fazer um exercício etimológico, uma procura da etimologia, não é fazer uma pesquisa gramatical. Trata-se de tirar as camadas de cinza que os séculos foram depositando nas palavras até chegar ao seu núcleo, à brasa viva que pulsa em cada uma" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: ______ (org). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 19.

2

"Só que os dicionários não dizem nada do que dizem as palavras na experiência originária do pensamento. Por isso, neste caso, como nos demais, não é verdade que o nosso pensamento viva de etimologias. Vive, antes, de pensar a atitude vigorosa daquilo que as palavras, como palavras, nomeiam de forma concentrada. A etimologia, junto com os dicionários, ainda pensa pouco demais" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A coisa". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 152.

3

"O que é a palavra sem a relação com o que nomeia e o que nela vem à palavra? Deve-se sair correndo de toda etimologia vazia e acidental: ela se torna jogatina se o que se está a nomear na palavra já não tiver sido anteriormente pensado por caminhos longos e vagarosos, e não continuar a ser sempre de novo pensado, comprovado, e sempre de novo provado em sua essência de palavra" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1998, p. 207.

4

"A linguagem está sempre lembrando o seu começo. Neste sentido, a linguagem é essencialmente etimologia. Etimologia não diz, em primeiro lugar, ciência linguística, que investiga a identidade entre os radicais das palavras. Este sentido é derivado e bastante secundário. Em sentido próprio (aqui, literal), etimologia diz logos do étimo, linguagem do próprio começo. Todavia, a linguagem só pode ser essa incessante retomada e referência ao próprio começo porque, de algum modo, está sempre deslocada do começo" (1).


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz Ocidente". In: ABRANCHES, Antonio (org.). O que nos faz pensar. Vol. 1, 10. Cadernos do Depto. de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p.62.

5

"Todo questionamento radical do sentido das palavras deve perguntar pelas palavras a partir do seu começo. Dito de outra forma: todo questionamento radical do sentido das palavras deve ser etimológico. Nessa dimensão, a linguagem do começo é que possibilita a ciência etimológica e não o contrário. Para questionar o sentido não basta conhecer etimologias. É preciso, primeiro, transportar-se, transpor-se para a movimentação do começo, essa que reúne dia e noite como a volta para casa de quem andou, de quem peregrinou e retorna para descansar" (1).


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz Ocidente". In: ABRANCHES, Antonio (org.). O que nos faz pensar. Vol. 1, 10. Cadernos do Depto. de Filosofia da PUC-RIO, out. de 1996, p.62.

6

Sabemos que a força e vigor manifestativo e fundador de uma palavra está no seu radical. Os prefixos tendem apenas a alterar esse sentido fundador, ou seja, os significados que os prefixos vêm derivar só podem ser compreendidos a partir do sentido inaugural da raiz. Por este motivo é difícil criar-se uma dicotomia excludente entre os significados aportados pelos sufixos e o sentido do radical. Na realidade, gera-se um polemos/tensão ambígua.


- Manuel Antônio de Castro

7

"Etimologia também é um dizer, mas um dizer originário que emerge de uma consentaneidade. O radical étymos significa legítimo, autêntico, verdadeiro. Etimologia não é um dizer qualquer. É o dizer que remonta para o próprio processo de dizer que provém da verdade do próprio dizer e, por isso, se faz legítimo pelo vigor de sua própria vigência" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, 104.

8

"Um dos aspectos iniciais é a procura da etimologia de ler. Mas não se trata de exercício formal filológico, pois nos motiva a questão do fundamento da etimo-logia: o étymos, palavra grega que diz verdadeiro. Mas o que é o verdadeiro? De que verdade se trata? Da verdade causal e instrumental ou da verdade manifestativa?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 17.

9

"Tomando a genética como uma primeira referência para pensarmos o que é ler, há um dado fenomenal muito interessante: a descoberta de que nosso genoma se constitui de cerca de três bilhões de combinações de suas “letras”, que guardam todas as informações necessárias para dar forma a uma pessoa. E mais: as informações são guardadas por milhares de anos. Em relação às palavras e seus sentidos, é isso que nos proporciona o estudo da etimologia" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 18.
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