Estar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de: "Ser e estar". In: ------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 22.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 21.
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: Todo [[estar]] é [[ser]], mas não há necessidade de o [[ser]] [[ser]] só estando. O [[ser]] vigora e só porque vigora é que se dá como [[estar]], o [[horizonte]] da [[causalidade]].
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: "A grande incompreensão e [[banalização]] em [[relação]] ao [[ser]] dão-se, justamente, em virtude de nunca se [[pensar]] que não há [[estar]] sem o [[ser]] e que é este e somente este que possibilita qualquer [[estar]], seja referente aos estados internos e externos, seja referente às [[circunstâncias]] onde corre e decorre nossa [[existência]]: [[pessoal]], [[social]], [[familiar]], [[econômica]], [[histórica]], [[afetiva]], [[psíquica]], [[política]], dentre outras, ou seja, ainda em [[relação]] às [[conjunturas]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 24.
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: Eis o [[radical]] do [[verbo]] [[estar]]: [[-sto]]. "Sto diz: 1º) [[estar]] de pé, [[estar]] levantado (oposto a ''[[sedeo]]'', ''iaceo'', ''cado''); 2º) [[estar]] imóvel (oposto a ''eó'')" (1). (Ernout e Meillet: 1979, 651). "Essas o-posições esclarecem muito as distinções fundamentais [[entre]] [[ser]] e [[estar]]" (2)
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: (1) ERNOUT. A.: MEILLET. A. '''Dictionnaire étymologique de la langue latine'''. 4. e. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 651.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 50.
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: "As [[oposições]] que o [[próprio]] [[estar]] cria não remetem para o [[ser]], antes se tornam pretextos para [[ler]] e [[compreender]] o [[ser]] a partir do [[estar]], reduzindo-o a este. Eis o [[motivo]] do uso intenso em [[português]] do [[estar]] e sua [[apreensão]] mais imediata" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 50.
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: Notemos bem o segundo [[significado]] de [[estar]] (''Sto''), nele notamos a [[referência]] a uma [[oposição]], diz: "A segunda [[oposição]] a [[estar]], o ''eo'', [[presente]] do [[verbo]] ''ire'', como indica [[movimento]], acaba estabelecendo uma [[dicotomia]] [[falsa]] com o ''stare'': este é apreendido como [[ser]] [[imóvel]]. Na verdade se dá o [[contrário]], pois no [[ser]] se concentra o máximo de [[ação]], de [[movimento]], que é o [[repouso]]. Todo [[sendo]] é [[sempre]] [[estar]] [[sendo]]" (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 50.
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: "O [[permanecer]] da [[noite]] é a [[possibilidade]] do [[mudar]] do [[dia]]. O [[mudar]] do [[dia]] é a [[possibilidade]] do [[permanecer]] da [[noite]], porque esta não pode [[permanecer]] sem o [[dia]] [[ser]] [[mudança]]. A [[mudança]] do [[dia]] é a [[permanência]] da [[noite]]. A [[permanência]] da [[noite]] é a [[mudança]] do [[dia]]. Não podemos nunca [[apreender]] e [[aprender]] a [[permanência]] como o que se tornou [[estático]]. A [[permanência]] não é [[estática]] nem [[dinâmica]], porque não é. [[Vigora]]. Acontece. O [[acontecer]] é o [[vigorar]] que se presenteou em [[sentido]]. O [[sentido]] é a [[vigência]] da [[linguagem]] do [[ser]]. O [[vigorar]] jamais pode tornar-se apenas [[devir]]. [[Ser]] [[devir]] é [[estar]] sendo. O [[ser]] nunca está sendo, só sendo no [[estar]]. Apenas o [[sendo]] pode e deve [[estar]] sendo. O [[sendo]] é o [[estar]] que vigora no [[permanecer]] e [[mudar]]. Só o [[sendo]] permanece e muda, torna-se, [[é]] [[devir]], aparecer e desaparecer, parecendo no [[estar]]" (1).
: Referência:
: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de: "Ser e estar". In: ------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 22.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 259.

Edição atual tal como 01h29min de 25 de janeiro de 2024

Tabela de conteúdo

1

"Ora, a raiz do verbo estar não manifesta jamais uma dicotomia. Sua raiz indo-europeia *st diz: ficar, manter-se em pé. Diante do aparecer e desaparecer, sua raiz forma, portanto, um verbo no qual prevalecem os sucessivos estados em que se nos dá a ver a realidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 23.

2

"Se o estar nos remete para estados, sempre substantivos, o ser recupera essa substantivação e lhe insufla o vigorar verbal, recupera no sentido de que não pode haver separação, mas um manifestar-se contínuo no vazio do entre. Todo estar tende para o ser na medida em que o próprio ser se dá, se manifesta, de uma maneira tal contíua e incessante, que nunca pode declinar no fazer e desaparecer, no pôr e depor de cada sendo. Não só é impossível separar cada sendo do ser, pois senão o estar não poderia estar, como também é impossível separar o estar do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de: "Ser e estar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 22.

3

"Pode-se estar sem ser? Ser sem estar? Ser não é estar e estar não é ser? Com essa formulação não há o perigo de se cair em mais uma dicotomia funcional e metafísica, tão presentes na cultura ocidental? O melhor caminho para evitar as dicotomias é sempre questionar em lugar de simplesmente conceituar. Portanto, questionemos: O que é ser? O que é estar? Ora, as respostas não serão conceitos? Não. São os passos que nos reencaminham para as questões de ser estando e de estando ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 21.

4

Todo estar é ser, mas não há necessidade de o ser ser só estando. O ser vigora e só porque vigora é que se dá como estar, o horizonte da causalidade.


- Manuel Antônio de Castro

5

"A grande incompreensão e banalização em relação ao ser dão-se, justamente, em virtude de nunca se pensar que não há estar sem o ser e que é este e somente este que possibilita qualquer estar, seja referente aos estados internos e externos, seja referente às circunstâncias onde corre e decorre nossa existência: pessoal, social, familiar, econômica, histórica, afetiva, psíquica, política, dentre outras, ou seja, ainda em relação às conjunturas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 24.

6

Eis o radical do verbo estar: -sto. "Sto diz: 1º) estar de pé, estar levantado (oposto a sedeo, iaceo, cado); 2º) estar imóvel (oposto a )" (1). (Ernout e Meillet: 1979, 651). "Essas o-posições esclarecem muito as distinções fundamentais entre ser e estar" (2)


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) ERNOUT. A.: MEILLET. A. Dictionnaire étymologique de la langue latine. 4. e. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 651.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 50.

7

"As oposições que o próprio estar cria não remetem para o ser, antes se tornam pretextos para ler e compreender o ser a partir do estar, reduzindo-o a este. Eis o motivo do uso intenso em português do estar e sua apreensão mais imediata" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 50.

8

Notemos bem o segundo significado de estar (Sto), nele notamos a referência a uma oposição, diz: "A segunda oposição a estar, o eo, presente do verbo ire, como indica movimento, acaba estabelecendo uma dicotomia falsa com o stare: este é apreendido como ser imóvel. Na verdade se dá o contrário, pois no ser se concentra o máximo de ação, de movimento, que é o repouso. Todo sendo é sempre estar sendo" (1).


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 50.

9

"O permanecer da noite é a possibilidade do mudar do dia. O mudar do dia é a possibilidade do permanecer da noite, porque esta não pode permanecer sem o dia ser mudança. A mudança do dia é a permanência da noite. A permanência da noite é a mudança do dia. Não podemos nunca apreender e aprender a permanência como o que se tornou estático. A permanência não é estática nem dinâmica, porque não é. Vigora. Acontece. O acontecer é o vigorar que se presenteou em sentido. O sentido é a vigência da linguagem do ser. O vigorar jamais pode tornar-se apenas devir. Ser devir é estar sendo. O ser nunca está sendo, só sendo no estar. Apenas o sendo pode e deve estar sendo. O sendo é o estar que vigora no permanecer e mudar. Só o sendo permanece e muda, torna-se, é devir, aparecer e desaparecer, parecendo no estar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 259.
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