Ente

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 210.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 210.
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: "De todas as [[coisas]] [[eu]] posso [[perguntar]]: o que “[[é]]”?  O que “[[é]]” isto?  O que “[[é]]” aquilo?  Também posso [[perguntar]] por [[tudo]] de uma só vez: o que “[[é]]” isto [[tudo]]?  O que “[[é]]” a [[totalidade]] e a [[unidade]] de [[tudo]] aquilo sobre o que posso [[perguntar]]?  [[Nada]] de [[tudo]] o que é pode fugir à [[possibilidade]] de [[ser]] perguntado se “[[é]]” e o que “[[é]]”. E enquanto ela é perguntável justamente por seu “[[é]]”, ela é de todo perguntável, pois todo o que ela [[é]] entra neste seu “[[é]]”.  E também posso [[perguntar]] para além de todos os [[limites]] por [[tudo]] [[simplesmente]], e [[sempre]] de novo esta [[pergunta]] será sobre o “[[é]]” de [[tudo]] o que ultrapassa os [[limites]] imagináveis.  Significa que [[tudo]] aquilo a que posso dirigir minha [[pergunta]] - e isto significa [[tudo]] o que “[[é]]” de uma ou de outra [[forma]] - tem sua [[unidade]] [[fundamental]] no [[fato]] de que “[[é]]”; de cada [[coisa]] da [[realidade]] em [[particular]] e da [[realidade]] como [[totalidade]], devo [[dizer]] que é perguntável por seu “[[é]]”. Ora, o que “[[é]]”, nós chamamos de [[ente]]" (1).
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: Referência:
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

Edição de 16h12min de 20 de Junho de 2020

Tabela de conteúdo

1

A palavra ente, em português, provém do particípio presente latino do verbo esse: ens, entis. É, portanto, uma forma verbal em sua origem. E ela traduz o particípio presente do verbo einai (ser), em grego: on. Ente (on), particípio presente do verbo ser (em grego eínai), é entendido tanto como substantivo quanto como verbo. Ente significa o que se apresenta, o que se realiza. E o que se apresenta remete para duas dimensões: a) verbo; b) substantivo. Como substantivo é o positum (posto). Na consideração do positum não se leva em conta o verbo, a apresentação, ou seja, uma dinâmica relacional/referencial que pres-supõe a dis-posição e que remete para a quaternidade (em alemão Geviert). O ob-jeto (o posto diante de) é: 1o. relacional (ao sujeito); 2o. apresentativo. A concepção do ob-jeto como algo fixo do conhecimento não leva em conta a inter-subjetividade nem o caráter verbal e muito menos a Physis / Logos. Mas sem physis e logos não há ente nem sua percepção como logos. Daí a tradução do on como coisa ou ente não poder ser reduzida a um conceito nem subjetivo nem objetivo. Ele, como tal, sempre se retrai ao assédio dos conceitos. A outra tradução do on como res/coisa, de onde se originou a palavra realidade, deve nos levar e ver nesta algo dinâmico, verbal e não somente como algo já posto e disposto.


- Manuel Antônio de Castro.

2

Entificar é esquecer o sentido do ser. Esquecer o sentido do ser é reduzir o ser ao ente e a língua a código. Daí surge também a substituição do sentido pelo significado, este é o sentido sem a linguagem e seu vigorar, ou seja, a mera representação do que é, uma vez que foi reduzido a ente.


- Manuel Antônio de Castro

3

O ser humano pela instrumentalização da razão tende a entificar tudo, sobretudo o fundamento a que se reduziu a realidade. Toda conceituação é representação e entificação. A realidade é sem fundamento. Ela funda os fundamentos, os suportes, mas sem se fundamentar. Realidade é o vigorar e acontecer do fundar.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Surpreendemo-nos então numa con-juntura de questão: nós, seres humanos, isto é, cada sendo, só é e pode ser no, com e a partir do ser. Porém, o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Ente diz todo sendo em com-posição. Composição diz todo estar sendo. Todo estar é o ser se dando em posição, ou seja, vigorando no ente. O ser se dá em posição na medida do seu vigorar como linguagem, isto é, enquanto lógos.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"O ser não pode ser. Se fosse, já não seria ser, mas um ente. Contudo, o primeiro pensador que pensou o ser, Parmênides, não diz: Esti gar einai" (frag. 6)? Há, de fato, ser e está presente o ser presente. Temos que pensar que se, efetivamente, no einai, o ser presente, está falando a aletheia, o desvelar-se, acentuado no esti e dito do einai, é : o deixar que venha à presença. Ser: na realidade o que permite a presença"(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. In: A tese de Kant sobre o ser. Trad. Helena Cortés e Arturo Leyte. Madri: Alianza Editorial, 2007, p. 387. (Tradução do espanhol: Manuel Antônio de Castro).

6

Distinguir ser e ente não é fácil, tratando-se do pensamento grego. É sobretudo uma questão de pensamento e tradução. Vejamos. Em Carta sobre o humanismo, à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já é. Ora, o que é, antes de tudo, é o Ser ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O gibt (dá) evoca a Essência do Ser, que se doa, concedendo a sua Verdade. O dar-se a si mesmo com a abertura à abertura é o próprio Ser. Ao mesmo tempo, emprega-se o es gibt (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: o Ser é; pois o é se diz comumente daquilo que é. E a isso chamamos ente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 56.


7

"Só no plano do ente e porque somos entes é que somos, necessariamente, mortais. E ser mortal diz exatamente isso: experienciarmos como entes ser o ser do não-ente, pois todo sendo é e não é, daí estar sendo sem jamais chegar a ser como sendo o ser do sendo. O ser do não-ente não é mortal porque não é. Se fosse, seria ente e não o ser de todo não-ente. O ser não é.


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 210.

8

"De todas as coisas eu posso perguntar: o que “é”? O que “é” isto? O que “é” aquilo? Também posso perguntar por tudo de uma só vez: o que “é” isto tudo? O que “é” a totalidade e a unidade de tudo aquilo sobre o que posso perguntar? Nada de tudo o que é pode fugir à possibilidade de ser perguntado se “é” e o que “é”. E enquanto ela é perguntável justamente por seu “é”, ela é de todo perguntável, pois todo o que ela é entra neste seu “é”. E também posso perguntar para além de todos os limites por tudo simplesmente, e sempre de novo esta pergunta será sobre o “é” de tudo o que ultrapassa os limites imagináveis. Significa que tudo aquilo a que posso dirigir minha pergunta - e isto significa tudo o que “é” de uma ou de outra forma - tem sua unidade fundamental no fato de que “é”; de cada coisa da realidade em particular e da realidade como totalidade, devo dizer que é perguntável por seu “é”. Ora, o que “é”, nós chamamos de ente" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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