Culpa

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"A culpa é a espora e o freio do desejo" (1).
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: "A culpa é a espora e o freio do [[desejo]]" (1).
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:(1) PAZ, Octavio. ''O labirinto da solidão e post.scriptum''. Trad. Eliane Zagury. 2.e. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 179.
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: (1) PAZ, Octavio. ''O labirinto da solidão e post.scriptum''. Trad. Eliane Zagury. 2.e. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 179.
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: "Eu costumava me [[sentir]] culpado até que descobri que se [[sentir]] culpado de algo tão grave como abandonar seus filhos é mero [[fingimento]]. É um modo de se obter um pouco de [[sofrimento]] que não pode ser igualado ao [[sofrimento]] que você causou" (1).
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: (1) BERGMAN, Ingmar. Fala de Bergman no filme: ''A ilha de Bergman''. Direção de Marie Nyreröd, 2004.
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: [[Culpa]] é uma [[palavra]] que aparece muito, mas de difícil [[compreensão]], quando se tenta defini-la. Diz-se que a [[culpa]] resulta de um [[pecado]]. Claro, têm significados parecidos, mas essencialmente diferentes, pois [[pecado]] diz respeito ao não cumprimento de uma [[lei]] ou prescrição [[religiosa]]. Deve-se notar que não é em todas as [[religiões]] que se fala de [[pecado]]. A [[culpa]] está sempre ligada ao [[poder]] da [[vontade]] [[humana]]. Embora conheça a interdição de determinada [[ação]], assim mesmo o [[ser humano]] a pratica, causando [[sofrimento]] em alguém e em si mesmo, aparecendo depois o [[remorso]]. A [[culpa]] decorre do [[mal]] causado e devido à [[ação]] da [[vontade]] [[humana]]. Não podemos esquecer de que também podemos ligar a [[culpa]] ou [[pecado]] a uma [[transgressão]] da [[lei]] e da [[ética]] que rege todas as [[ações]] [[humanas]]e que é da [[essência]] de todo [[ser humano]]. Tal [[lei]] [[divina]] tem sua [[origem]] no [[destino]] ou ''[[Moira]]'', segundo os gregos, advindo o [[sofrimento]], a [[dor]]. É o caso de [[Édipo]]. Outro aspecto da [[culpa]] está ligado ao [[sofrimento]] de quem a pratica. Mais do que externo, este [[sofrimento]] é [[interno]] e profundo, atingindo o [[próprio]] [[ser]] de quem a pratica. Acrescente-se que esse [[sofrimento]] é [[misterioso]] e nos acompanha até nos podermos livrar da [[culpa]]. A culpa atua muitas vezes de modo inconsciente. Daí surge a contraface do [[pecado]]: a [[necessidade]] da confissão (ou análise), provocando um profundo alívio [[interno]], uma vez que há a intervenção de um [[poder]] [[divino]]. Por todos esses aspectos, essas [[questões]] remetem sempre para a [[essência]] do [[agir]].
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: Quanto ao aspecto [[religioso]], deve-se ter em mente que também nele não podemos ofender a [[Deus]], por um [[motivo]] [[simples]]: [[Deus]] é [[perfeição]] e jamais o podemos ofender; podemos, sim, ofender a nós mesmos no que cada um de nós tem de [[divino]] ou [[sagrado]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) ÉDIPO. In: ''Mitologia, volumes: 1, 2, 3''. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548.
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: "Que ''[[culpa]]'' tinha, efetivamente, [[Édipo]]? Matara Laio sem [[saber]] que era seu [[pai]]. Casara com Jocasta sem [[saber]] que era sua [[mãe]]. Arriscando a [[própria]] [[vida]], livrara Tebas da voracidade da [[Esfinge]]. Se, para ter [[culpa]], é [[necessário]] aderir [[conscientemente]] à [[prática]] do [[mal]], [[Édipo]] não era culpado. Mas a [[concepção]] dos [[antigos gregos]] não era essa: para eles, a [[culpa]] era como uma doença, que se adquire sem o concurso da [[vontade]] [[individual]]" (1).
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: (1) ÉDIPO. In: ''Mitologia, volumes: 1, 2, 3''. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 547.

Edição atual tal como 15h46min de 10 de Novembro de 2020

1

"A culpa é a espora e o freio do desejo" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. O labirinto da solidão e post.scriptum. Trad. Eliane Zagury. 2.e. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 179.

2

"Eu costumava me sentir culpado até que descobri que se sentir culpado de algo tão grave como abandonar seus filhos é mero fingimento. É um modo de se obter um pouco de sofrimento que não pode ser igualado ao sofrimento que você causou" (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Fala de Bergman no filme: A ilha de Bergman. Direção de Marie Nyreröd, 2004.

3

Culpa é uma palavra que aparece muito, mas de difícil compreensão, quando se tenta defini-la. Diz-se que a culpa resulta de um pecado. Claro, têm significados parecidos, mas essencialmente diferentes, pois pecado diz respeito ao não cumprimento de uma lei ou prescrição religiosa. Deve-se notar que não é em todas as religiões que se fala de pecado. A culpa está sempre ligada ao poder da vontade humana. Embora conheça a interdição de determinada ação, assim mesmo o ser humano a pratica, causando sofrimento em alguém e em si mesmo, aparecendo depois o remorso. A culpa decorre do mal causado e devido à ação da vontade humana. Não podemos esquecer de que também podemos ligar a culpa ou pecado a uma transgressão da lei e da ética que rege todas as ações humanase que é da essência de todo ser humano. Tal lei divina tem sua origem no destino ou Moira, segundo os gregos, advindo o sofrimento, a dor. É o caso de Édipo. Outro aspecto da culpa está ligado ao sofrimento de quem a pratica. Mais do que externo, este sofrimento é interno e profundo, atingindo o próprio ser de quem a pratica. Acrescente-se que esse sofrimento é misterioso e nos acompanha até nos podermos livrar da culpa. A culpa atua muitas vezes de modo inconsciente. Daí surge a contraface do pecado: a necessidade da confissão (ou análise), provocando um profundo alívio interno, uma vez que há a intervenção de um poder divino. Por todos esses aspectos, essas questões remetem sempre para a essência do agir.
Quanto ao aspecto religioso, deve-se ter em mente que também nele não podemos ofender a Deus, por um motivo simples: Deus é perfeição e jamais o podemos ofender; podemos, sim, ofender a nós mesmos no que cada um de nós tem de divino ou sagrado.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"Filosoficamente, o drama de Sófocles [Édipo Rei] afirma que a dor é constituinte básico da natureza humana. Só através da dor, o homem encontra a sua verdade mais profunda e liberta-se das culpas que o atormentam" (1).


Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548.

5

"Que culpa tinha, efetivamente, Édipo? Matara Laio sem saber que era seu pai. Casara com Jocasta sem saber que era sua mãe. Arriscando a própria vida, livrara Tebas da voracidade da Esfinge. Se, para ter culpa, é necessário aderir conscientemente à prática do mal, Édipo não era culpado. Mas a concepção dos antigos gregos não era essa: para eles, a culpa era como uma doença, que se adquire sem o concurso da vontade individual" (1).


Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 547.
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