Sagrado
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 13h49min de 13 de Novembro de 2017 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- O sagrado é o mistério que constitui e possibilita a manifestação da realidade. O sagrado é a energia que dá vida iluminando e sentido a tudo. Iluminar é fazer vigorar a claridade e a escuridão. O sagrado, energia de sentido que é e não é, vigora: tempo, memória, linguagem, sentido, ser. Sagrado é a energia da verdade e do sentido.
- Ver também
- * Deus
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- "O que é o sagrado para Hölderlin? É a palavra com que ele nomeia a natureza. Esta, contudo, não deve ser tomada como a natura dos romanos, nem como natureza no sentido moderno, pois em ambos os casos é apreendida como conjunto dos fenômenos ou coisas pertencentes a um determinado setor do real, ou seja, o mundo natural. Natureza para o poeta possui, antes, a ressonância da palavra-guia dos primeiros pensadores gregos – phýsis –, como o aberto, por onde as coisas brotam e desabrocham, mas também como o obscuro, por onde elas se escondem e repousam" (1).
- Referência:
- (1) MICHELAZZO, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo: Annablume, 1999, p. 144.
- Ver também:
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- "Quando os índios norte-americanos e certas tribos de esquimós mandam mensagens convidando os outros para um festival religioso, os mensageiros carregam bastões com penas e estas conferem ao portador a qualidade sacrossanta" (1).
- Referência:
- (1) FRANZ, Marie Louise von. A interpretação dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Achiamé, 1981, p. 78 (Cf. Idem, p. 88, quando fala dos motivos religiosos dos tapetes).
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- "Em que consiste o sagrado? Este, se formos à etimologia, mostrará uma outra realidade diferente daquela apreendida pelo religioso. O sintoma maior desta outra realidade está na não separação, no âmbito do sagrado, entre mal e bem. O sagrado diz do lugar de abertura da realidade, onde tal separação e divisão não existe. O criminoso, por exemplo, que entrasse num templo, passava a fazer parte de um lugar onde não mais poderia ser perseguido nem punido. O âmbito do sagrado não comporta as dicotomias metafísicas" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: -----. Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 71.
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- "O canto sagrado não é outra coisa que a própria divindade se manifestando na música das palavras" (1).
- Referência:
- (1) BRAGA, Diego. "A terceira margem do mito: hermenêutica da corporeidade". In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 57.
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- "Todos sabem que do mar se originou a vida porque é no mar que o sagrado faz vigorar a sua presença constante. A água não nos liberta de nossos limites porque representa algo externo a ela, que ela simboliza. Não. A água não simboliza. Ela liberta, purificando porque é água do mar, é energia irradiante. Purificar diz iluminar. O sagrado é a energia que dá vida iluminando. Iluminar é fazer vigorar o claro e escuro. O sagrado não é, vigora: tempo, memória, mar, linguagem, sentido, ser " (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d'água e o mar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 252.
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- "Deuses não são entidades, mas as diferentes modalidades manifestativas do vigorar do sagrado. Deuses são forças misteriosas que constituem a realidade e o ser humano em sua realidade. Por isso, todas as culturas sempre tiveram deuses"(1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 222.
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- No poético, as línguas são o rito da Linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da Linguagem. Por isso o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado. Martin Heidegger afirma: "O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado" (1) (2).
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: Heidegger - Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do canto das Sereias". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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- "Porque na narrativa da Escritura, três dentre eles dependem de um Primus que é sua origem e também, ao mesmo tempo, seu centro. No lugar de estar em primeiro lugar ou de ser a primazia o divino, Heidegger nomeia, portanto, a quaternidade ou uma Uno-quaternidade do qual o centro não é nenhum dos quatro... Mas qual é então o nome de um tal centro? Heidegger o nomeia: das Heilige, que podemos provisoriamente traduzir por o sagrado" (1). O autor está se referindo à quaternidade composta por: Mortais (homens) e Imortais (deuses), Céu e Terra.
- Referência:
- (1) BEAUFRET, Jean. "Heidegger e a teologia". In: Heidegger e a questão de Deus. KEARNEY, Richard e O'LEAREY, Joseph Stephen (org). Paris: Bernard Grasset, 1980, p. 28.
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- "O Sagrado, o "intacto", escapa a qualquer definição conceitual, é mais incapturável que o próprio ser, é uma derrota para a lógica, paradoxal, ao mesmo tempo arquiantigo e sempre novo, próximo e inabordável, familiar e desorientador; é o que permanece em si e o que atravessa tudo. Na medida em que o Sagrado que a poesia celebra situa-se radicalmente fora de toda espécie de utilidade e de relação instrumental, o Sagrado tende a desaparecer nesta nossa época, dominada pela técnica" (1).
- Referência:
- (1) HAAR, Michel. "A 'elaboração' da verdade". In: -----. A obra de arte. Trad. Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Difel, 2.000, p. 95.
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- O que é o sagrado? Não podemos confundir o sagrado com o religioso. Ele é mais. Ele é um mistério. Ele é o próprio Ser-tão. O homem ocidental experienciou de seis modos diferentes o sagrado: no mito, no religioso, na poesia, no místico, no pensamento, na metafísica. Essas seis facetas do sagrado percorrem profundamente Grande sertão: veredas.
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- "O sagrado não gira apenas nas religiões: talvez, nelas já nem possa girar, uma vez tornado objeto dos sujeitos, fechado em um sistema " (1).
- Referência:
- (1) FAGUNDES, Igor. "Globalização como poética e incorporação". Revista Tempo Brasileiro - Globalização pensamento e arte. Rio de Janeiro: 201-202, abr-set., 2013, p. 30.
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- "A dessacralização que domina hoje é devida a quê? Certamente muitos são os fatores. É no âmago dessa questão que a arte como questão se faz presente. Pode se falar em arte sem levar em consideração a questão do sagrado? Difícil. Porém, ela se faz presente de um modo muito simples e especial que se perdeu com o próprio distanciamento do sagrado acontecido na dinâmica dessas transformações históricas. Transformações essas que dizem respeito à própria dinâmica de o próprio sagrado se destinar. Mas ele, por mais que esteja esquecido, nunca se distancia e torna ausente como tal. Pelo contrário, sem sua presença, sua proximidade, tudo perderia o sentido e o próprio vigor de realização do real. E ele é próximo, tão próximo que até para sermos o que somos só podemos ser sendo essa proximidade. Porém, em tudo que fazemos temos a tendência, hoje e há muito tempo, a considerá-lo distante e inalcançável, como se ele fosse outro que não o vigor do que nos é próprio" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.
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- "Palavra, canto, música, dança e, rodando, rodando, o jovem sem religião, cansado de ciência, se atreve a chamar o desconhecido em cultivo, em culto, em cultura, de: poesia – o milagre do imenso imediatamente em corpo, a saber-se quando ainda não, já não mais. Sem um lugar segundo, na verdade primeiro, que o fundamente abstratamente, se toda localidade é que primeiramente por ele, pelo aberto, imenso, vazio – chamemos: sagrado – se funda como possível pátria" (1).
- Referência:
- (1) FAGUNDES, Igor. "Globalização como poética e incorporação". Revista Tempo Brasileiro - Globalização pensamento e arte. Rio de Janeiro: 201-202, abr-set., 2013, p. 31.