Mater

De Dicionário de Poética e Pensamento

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: "O que é [[matéria]]? É necessário desfazer-se do seu [[significado]] banal. A [[Física Quântica]] tematiza isto muito bem e não é [[algo]] fácil, nem para ela. De qualquer modo, [[matéria]] tem o mesmo [[radical]] da [[palavra]] latina [[mater]], [[mãe]] ([[princípio]] de [[geração]])" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte: presença e forma". In: -------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 221.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Obra de arte]]: [[presença]] e [[forma]]". In: ---. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 221.'''
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: A [[mulher]], como [[verdadeira]] [[obra]] [[poética]] [[criativa]], precisa para [[procriar]] ser desvirginizada desvelando a [[fonte]] da [[vida]], da [[maternidade]]. Devemos [[compreender]] aqui esse [[desvelamento]] como a [[verdade]] [[acontecendo]] (''[[aletheia]]''). Todo [[procriar]] é um [[acontecer]] da [[maternidade]]: [[milagre]] do [[mistério]] [[extraordinário]] que é o [[procriar]], o dar à [[luz]], o [[gerar]]. A pura [[possibilidade]] que a virgindade como [[velamento]] contém em-si pode tornar a [[mulher]] a [[mãe]] de muitos filhos, continuando o [[milagre]] da [[vida]] como [[permanência]] da [[vida]] e desafio da [[morte]]. [[Vida]] e [[morte]]: faces do [[mesmo]] [[acontecer]]. Todo [[nascimento]] de uma [[criança]] reinaugura o [[mundo]] diante da [[morte]] e é, portanto, um desvirginizar, porque é fazer o [[nada]] ser criativo, [[fonte]] de todas as [[possibilidades]]. Nesse sentido, a [[mulher]] se torna [[mãe]], porque nela acontece a [[maternidade]], o [[ser]] o [[lugar]] do [[procriar]], do [[gerar]] filhos. E só acontece na [[mulher]], pois é [[próprio]] do [[feminino]], ou seja, nela acontece ''[[Eros]]''. Este acontecendo na [[mulher]] torna-a tanto mais [[humana]] quanto mais [[divina]]. Em verdade, ela co-participar da [[essência]] de ''[[Eros]]''. É neste [[sentido]] que falamos do [[amor]] maternal, tão [[radical]] quanto o [[ser]] [[mãe]].
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: A [[mulher]], como [[verdadeira]] [[obra]] [[poética]] [[criativa]], precisa para [[procriar]] ser desvirginizada desvelando a [[fonte]] da [[vida]], da [[maternidade]]. Devemos [[compreender]] aqui esse [[desvelamento]] como a [[verdade]] [[acontecendo]] (''[[aletheia]]''). Todo [[procriar]] é um [[acontecer]] da [[maternidade]]: [[milagre]] do [[mistério]] [[extraordinário]] que é o [[procriar]], o dar à [[luz]], o [[gerar]]. A pura [[possibilidade]] que a virgindade como [[velamento]] contém em-si pode tornar a [[mulher]] a [[mãe]] de muitos filhos, continuando o [[milagre]] da [[vida]] como [[permanência]] da [[vida]] e desafio da [[morte]]. [[Vida]] e [[morte]]: faces do [[mesmo]] [[acontecer]]. Todo [[nascimento]] de uma [[criança]] reinaugura o [[mundo]] diante da [[morte]] e é, portanto, um desvirginizar, porque é fazer o [[nada]] ser criativo, [[fonte]] de todas as [[possibilidades]]. Nesse sentido, a [[mulher]] se torna [[mãe]], porque nela acontece a [[maternidade]], o [[ser]] o [[lugar]] do [[procriar]], do [[gerar]] [[filhos]]. E só acontece na [[mulher]], pois é [[próprio]] do [[feminino]], ou seja, nela acontece ''[[Eros]]''. E este [[acontecendo]] na [[mulher]] torna-a tanto mais [[humana]] quanto mais [[divina]]. Em verdade, ela co-participa da [[essência]] de ''[[Eros]]''. É neste [[sentido]] que falamos do [[amor]] [[maternal]], tão [[radical]] quanto o [[ser]] [[mãe]].
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: O [[destino]] que somos nos é destinado na [[linguagem]], pois é a [[linguagem]] que fala, não o [[ser humano]], em sua [[língua]]. Esta e cada falante só falam porque já vigoram na [[linguagem]]. Assim como cada [[mãe]]-[[mulher]] só gesta seus filhos porque já lhe foi dada a [[possibilidade]] de [[gestar]], [[gerar]]. Ela não cria a [[Vida]]. Esta é que a cria e a faz ser [[mulher]]-[[mãe]]. Sem [[linguagem]] não há [[matéria]]/[[mãe]] criativa. Do mesmo modo é a [[linguagem]] que cria os [[mitos]] e, portanto, cria as [[obras de arte]], todas as [[obras de arte]].
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: O [[destino]] que somos nos é destinado na [[linguagem]], pois é a [[linguagem]] que fala, não o [[ser humano]], em sua [[língua]]. Esta e cada falante só falam porque já vigoram na [[linguagem]]. Assim como cada [[mãe]]-[[mulher]] só gesta seus filhos porque já lhe foi dada a [[possibilidade]] de gestar, [[gerar]]. Ela não cria a [[Vida]]. Esta é que a cria e a faz ser [[mulher]]-[[mãe]]. Sem [[linguagem]] não há [[matéria]]/[[mãe]] criativa. Do mesmo modo é a [[linguagem]] que cria os [[mitos]] e, portanto, cria as [[obras de arte]], todas as [[obras de arte]].
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: Na década de 70, o inglês James Lovelock elaborou a '''Hipótese de Gaia''' e, segundo ela, o [[planeta]] [[Terra]] se comporta como um só [[organismo]] vivo.
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: A [[deusa]] [[Gaia]], na [[mitologia]] [[grega]], era a [[deusa]] da [[Terra]] e [[mãe]] de todos os [[seres]] vivos.
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: "Maria é a escolhida e como tal é intercessora privilegiada. A [[mãe]] já traz em si o [[Ãgape]]. O [[amor]] sem [[limites]]. O [[amor]] que não exige retribuição" (1).
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: (1) ROSSI, Padre Marcelo. "As bodas de Caná". In: ---. '''Ãgape'''. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 40.
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: "Mas vejamos a maravilha: a [[mulher]]-[[corpo]]-[[mãe]] só chega a [[ser]]-[[mulher]]-[[mãe]] enquanto [[identidade]] no se [[diferenciar]] do [[filho]] ou da [[filha]] que [[é]] ela e não [[é]] ela. [[Mundo]] e [[corpo]] é isso: [[reunião]] [[identitária]] de [[diferenças]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: '''[[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009''', p. 20.
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: "...afinal, [[língua]] também é [[mãe]], também nos gera, nos forma e nos acrescenta [[identidade]]. Por isso gosto tanto  da expressão "[[língua]] [[materna]]" (1).
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. "As minhas duas [[mães]]".In: '''Segundo Caderno, O Globo''', p. 6, Sábado, 07-05-2022.
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: "Nenhuma [[pesquisa]] científica comprova, é achismo meu: [[mães]] são mais controladoras que os [[pais]], mais [[vigilantes]] que os [[pais]]. Resultado: os [[pais]] viram os fofos da [[casa]] e [[mães]], as megeras - ainda que megeras [[essenciais]]. O [[problema]] é que [[ser]] [[essencial]] pesa. A garotada acaba preferindo a [[companhia]] dos relaxadões, [[pais]] que parecem [[irmãos]] mais velhos. [[Tudo]] em [[tese]], [[gente]]. Em [[tese]]" (1).
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: (1) MEDEIROS, Martha. "[[Mãe]] é a solução". In:  '''[[Crônica]]. Revista Ela, O Globo, p. 7, Domingo''', 14-05-2023.

Edição atual tal como 22h30min de 28 de março de 2025

Tabela de conteúdo

1

"O que é matéria? É necessário desfazer-se do seu significado banal. A Física Quântica tematiza isto muito bem e não é algo fácil, nem para ela. De qualquer modo, matéria tem o mesmo radical da palavra latina mater, mãe (princípio de geração)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte: presença e forma". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 221.

2

A mulher, como verdadeira obra poética criativa, precisa para procriar ser desvirginizada desvelando a fonte da vida, da maternidade. Devemos compreender aqui esse desvelamento como a verdade acontecendo (aletheia). Todo procriar é um acontecer da maternidade: milagre do mistério extraordinário que é o procriar, o dar à luz, o gerar. A pura possibilidade que a virgindade como velamento contém em-si pode tornar a mulher a mãe de muitos filhos, continuando o milagre da vida como permanência da vida e desafio da morte. Vida e morte: faces do mesmo acontecer. Todo nascimento de uma criança reinaugura o mundo diante da morte e é, portanto, um desvirginizar, porque é fazer o nada ser criativo, fonte de todas as possibilidades. Nesse sentido, a mulher se torna mãe, porque nela acontece a maternidade, o ser o lugar do procriar, do gerar filhos. E só acontece na mulher, pois é próprio do feminino, ou seja, nela acontece Eros. E este acontecendo na mulher torna-a tanto mais humana quanto mais divina. Em verdade, ela co-participa da essência de Eros. É neste sentido que falamos do amor maternal, tão radical quanto o ser mãe.


- Manuel Antônio de Castro

3

O destino que somos nos é destinado na linguagem, pois é a linguagem que fala, não o ser humano, em sua língua. Esta e cada falante só falam porque já vigoram na linguagem. Assim como cada mãe-mulher só gesta seus filhos porque já lhe foi dada a possibilidade de gestar, gerar. Ela não cria a Vida. Esta é que a cria e a faz ser mulher-mãe. Sem linguagem não há matéria/mãe criativa. Do mesmo modo é a linguagem que cria os mitos e, portanto, cria as obras de arte, todas as obras de arte.


- Manuel Antônio de Castro

4

Hipótese de Gaia.
"Do ponto de vista científico, tem-se discutido muito a Hipótese de Gaia ou Teoria de Gaia, também conhecida como ecologia profunda...
Na década de 70, o inglês James Lovelock elaborou a Hipótese de Gaia e, segundo ela, o planeta Terra se comporta como um só organismo vivo.
A deusa Gaia, na mitologia grega, era a deusa da Terra e mãe de todos os seres vivos.

5

"Maria é a escolhida e como tal é intercessora privilegiada. A mãe já traz em si o Ãgape. O amor sem limites. O amor que não exige retribuição" (1).


Referência:
(1) ROSSI, Padre Marcelo. "As bodas de Caná". In: ---. Ãgape. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 40.

6

"Mas vejamos a maravilha: a mulher-corpo-mãe só chega a ser-mulher-mãe enquanto identidade no se diferenciar do filho ou da filha que é ela e não é ela. Mundo e corpo é isso: reunião identitária de diferenças" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.

7

"...afinal, língua também é mãe, também nos gera, nos forma e nos acrescenta identidade. Por isso gosto tanto da expressão "língua materna" (1).


Referência:
(1) AGUALUSA, José Eduardo. "As minhas duas mães".In: Segundo Caderno, O Globo, p. 6, Sábado, 07-05-2022.

8

"Nenhuma pesquisa científica comprova, é achismo meu: mães são mais controladoras que os pais, mais vigilantes que os pais. Resultado: os pais viram os fofos da casa e mães, as megeras - ainda que megeras essenciais. O problema é que ser essencial pesa. A garotada acaba preferindo a companhia dos relaxadões, pais que parecem irmãos mais velhos. Tudo em tese, gente. Em tese" (1).


Referência:
(1) MEDEIROS, Martha. "Mãe é a solução". In: Crônica. Revista Ela, O Globo, p. 7, Domingo, 14-05-2023.
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