Evidência
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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: Na medida em que todo [[ver]] pressupõe o já ter visto de alguma maneira é que dá [[origem]] ao [[vidente]] e à [[evidência]]. Esta não precisa de [[mediação]], por ela a [[realidade]] se mostra no que ela [[é]] e em-si. Por isso, dizemos frequentemente: isso é [[evidente]], ou seja, não precisa de uma [[explicação]], de uma [[mediação]]. Em sua [[essência]], todo [[ser humano]] é um [[vidente]], embora poucos consigam quebrar o [[hábito]] do [[ver]] [[banal]] e cotidiano. Todo [[artista]], especialmente o [[poeta]] e [[pintor]], se deixa tomar em seu [[ver]] e [[dizer]] pela [[evidência]]. Na [[dança]], o meio de manifestar o [[evidente]] é o [[gesto]]. Todo [[gesto]] na [[dança]] manifesta a [[realidade]] acontecendo, dando-se a [[ver]]. | : Na medida em que todo [[ver]] pressupõe o já ter visto de alguma maneira é que dá [[origem]] ao [[vidente]] e à [[evidência]]. Esta não precisa de [[mediação]], por ela a [[realidade]] se mostra no que ela [[é]] e em-si. Por isso, dizemos frequentemente: isso é [[evidente]], ou seja, não precisa de uma [[explicação]], de uma [[mediação]]. Em sua [[essência]], todo [[ser humano]] é um [[vidente]], embora poucos consigam quebrar o [[hábito]] do [[ver]] [[banal]] e cotidiano. Todo [[artista]], especialmente o [[poeta]] e [[pintor]], se deixa tomar em seu [[ver]] e [[dizer]] pela [[evidência]]. Na [[dança]], o meio de manifestar o [[evidente]] é o [[gesto]]. Todo [[gesto]] na [[dança]] manifesta a [[realidade]] acontecendo, dando-se a [[ver]]. | ||
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "A [[sentença]] de Anaximandro". In: Os pré-socráticos. Coleção Os [[pensadores]]. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 34.''' |
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+ | : "As [[evidências]] inquestionáveis que acontecem na [[dobra]] tensional de [[ser]] e [[essência]] do [[ser humano]] são: | ||
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+ | : Estas duas [[evidências]] inquestionáveis nos colocam diante de duas [[questões]] em tensão ou [[dobra]] permanente: ''[[phýsis]]'' e [[ser humano]], onde a [[cultura]], como [[lugar]] do [[acontecer]] dessa tensão, tanto se refere à ''[[phýsis]]'' quanto se refere ao [[ser humano]]. Sem essa [[referência]] [[poética]] não há [[cultura]] nem o [[humano]] de todo [[ser humano]] se manifesta. Há [[cultura]] onde houver [[sentido]] e [[vigorar]] da [[linguagem]]. As [[diferenças]] [[culturais]] se fundam no [[acontecer]] do [[sentido do ser]] enquanto [[linguagem]]. Tal [[fundar]] dá-se e constitui a [[essência]] do [[agir]] do [[ser humano]]. O [[ser humano]] torna-se [[humano]] quando se experincia no [[horizonte]] do [[sentido do ser]] e na [[medida]] em que habita a [[linguagem]], [[casa]] do [[ser]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' " [[Phýsis]] e [[humano]]: a [[arte]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 263.''' |
Edição atual tal como 20h30min de 28 de março de 2025
1
- "O vidente é aquele que já tem visto a totalidade das coisas que se apresenta na presença: em latim vidit; em alemão er steht in Wissen (ele está a par). Ter visto é a ausência do saber. No ter visto já há sempre outra coisa em jogo que a simples realização de um processo ótico. No ter visto a relação com aquilo que se apresenta já retrocedeu para trás de toda a espécie de percepção sensível e não-sensível. A partir daí, o ter visto está relacionado com a presença que se clarifica. O ver não se determina a partir do olho, mas a partir da clareira do ser. A in-sistência nela constitui a articulação de todos os sentidos humanos. A essência do ver enquanto ter visto é o saber. Este contém a visão. Ele permanece na lembrança da presença. O saber é a lembrança do ser. É por isso que Mnemosýne é a mãe das musas. Saber não é a ciência no sentido moderno. Saber é salvaguarda pensante da guarda do ser" (1).
- Na medida em que todo ver pressupõe o já ter visto de alguma maneira é que dá origem ao vidente e à evidência. Esta não precisa de mediação, por ela a realidade se mostra no que ela é e em-si. Por isso, dizemos frequentemente: isso é evidente, ou seja, não precisa de uma explicação, de uma mediação. Em sua essência, todo ser humano é um vidente, embora poucos consigam quebrar o hábito do ver banal e cotidiano. Todo artista, especialmente o poeta e pintor, se deixa tomar em seu ver e dizer pela evidência. Na dança, o meio de manifestar o evidente é o gesto. Todo gesto na dança manifesta a realidade acontecendo, dando-se a ver.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Os pré-socráticos. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 34.
2
- "As evidências inquestionáveis que acontecem na dobra tensional de ser e essência do ser humano são:
- 1ª. Todo ser humano é uma doação presentificadora da phýsis;
- 2ª. Toda cultura é manifestação da phýsis, enquanto o efetivar-se das possibilidades do humano do ser humano.
- Estas duas evidências inquestionáveis nos colocam diante de duas questões em tensão ou dobra permanente: phýsis e ser humano, onde a cultura, como lugar do acontecer dessa tensão, tanto se refere à phýsis quanto se refere ao ser humano. Sem essa referência poética não há cultura nem o humano de todo ser humano se manifesta. Há cultura onde houver sentido e vigorar da linguagem. As diferenças culturais se fundam no acontecer do sentido do ser enquanto linguagem. Tal fundar dá-se e constitui a essência do agir do ser humano. O ser humano torna-se humano quando se experincia no horizonte do sentido do ser e na medida em que habita a linguagem, casa do ser" (1).
- Referência: