Exegese
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: -----. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 126.''' |
Edição atual tal como 23h19min de 24 de janeiro de 2025
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1
- "A relação leitor / texto exige a intervenção explícita de uma interpretação, mas ainda uma interpretação relativa ao texto, em sua organização e produção histórico-textual. Porém, havia uma outra dimensão que fazia comparecer a interpretação, não porque o texto não fosse legível , mas porque o seu significado era misterioso. É aí que se faz presente o mito de Hermes, como o que medeia a linguagem dos deuses para a língua dos mortais. Neste caso, a hermenêutica, embora ainda só se atenha ao texto, já articula uma realidade transcendente e outra imanente. Parte-se do domínio gramatical para o correto encaminhamento do sentido figurativo ou alegórico. À correta interpretação do que está expresso simbolicamente, à manifestação dessa outra realidade do texto deu-se o nome de exegese. Esta metodologia é sobretudo desenvolvida pelo cristianismo, diante dos textos sagrados reunidos na Bíblia, considerados a Palavra de Deus" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A questão hermenêutica". In: -------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 18.
2
- Toda leitura já é, essencialmente uma interpretação, pois a essência do ser humano exige sempre que em toda situação pratique uma interpretação, seja ela qual for. Toda opinião já é também uma interpretação, consciente ou não, todo diálogo se funda em diferentes interpretações. Mas o importante a reter e compreender é que nem toda interpretação já se torne, por isso mesmo, uma exegese. Não. Esta é uma interpretação específica. Ela diz respeito a textos sagrados. Há aí uma questão teológica, específica para o cristianismo. Quando este irrompeu há 21 séculos, já encontrou diversas outras religiões com seus deuses e seus ritos e textos sagrados. Porém, o deus Cristão se proclamava o deus único verdadeiro, perante o qual os outros deuses seriam falsos. Mas ao desenvolverem a doutrina cristã, para se defenderem de outas doutrinas e até de outras interpretações dos mesmos textos cristãos (daí surgiram sempre os hereges), os teólogos e filósofos cristãos se serviram, sobretudo da filosofia grega. Porém, muitas destas ideias provinham das ideias expressas pelos deuses mitológicos, isto é, dos mitos, de onde partiram dos ensinamentos e desenvolvimentos filosóficos gregos. É verdade, não todos os filósofos, mas a maioria, pois a filosofia também se desenvolveu em virtude dos pensadores originários. Os quais de alguma maneira tinham como horizontes questões mitológicas. Ou seja, a filosofia tinha como fundo os mitos e suas questões. Diante disso, os filósofos e teólogos cristãos se viram diante de um impasse: se negavam os deuses dos mitos como se utilizavam das ideias neles expressas. Foi então que surgiu a exegese (também e muito em virtude das heresias): a interpretação simbólica e alegórica de tais verdades míticas. Isto mascarou seus procedimentos e faz surgir uma outra questão: O que é o símbolo? O que é a Alegoria? Ver estas palavras.
3
- "Cedo os textos religiosos tiveram que se defrontar com as cultíssimas e profundas obras filosóficas na compreensão da realidade e da própria essência do humano, ou seja, da verdade. Então os comentários de todas essas obras exigiram uma outra dimensão: a exegese. Note-se que agora não se tratava apenas de levar aos leitores os conhecimentos para a compreensão das obras. Uma outra dimensão se tornou mais importante: Qual era a verdade de que as obras eram depositárias, isto é, que fundavam, que ensinavam?" (1)
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 124.
4
- "Para compatibilizar o que as obras mítico-poéticas ensinavam com essas verdades religiosas, eliminando qualquer discordância entre as obras religiosas, as filosóficas e as mítico-poéticas, dividiu-se a exegese em duas partes. As obras filosóficas se tornaram o suporte teórico para as exegeses teológicas. Estas procuravam mostrar que as obras religiosas não eram simples obras escritas por mortais, mas era a própria palavra divina, era a sua revelação, a sua verdade, que se tornava a verdade da realidade, dos homens, da vida. Então estas obras eram interpretadas através da exegese teológica, onde se estabelecia o que Deus revelava enquanto verdade em tais obras. Era uma exegese filosófico-teológica" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 124.
5
- "E como foi resolvida a incompatibilidade entre o que diziam as obras mítico-poéticas e as obras religiosas? Claro que estas deveriam determinar aquelas, numa sociedade dominada pela religião. Além do suporte filosófico-teológico, a sua exegese se baseou em um recurso usado até hoje para classificar, comentar, interpretar e analisar as obras de arte: Estas, é claro, também diziam a verdade (e nem poderia ser de outra maneira, dada a excelência e profundidade do seu conteúdo). As obras mítico-poéticas foram reduzidas a símbolos e alegorias. Tudo o que elas diziam era simbólico e alegórico. Isso para os gregos e para o Helenismo era algo totalmente desconhecido. Essas palavras não aparecem no diálogo Íon de Platão. As obras eram a própria manifestação da realidade. E essa era a sua verdade. Por isso, em grego, verdade diz-se: a-letheia, desvelamento, des-encobrimento" (1).
- Referência: