Certeza

De Dicionário de Poética e Pensamento

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:"Os atenienses, como a maioria dos [[homens]] em todas as [[épocas]], tinham muitas certezas, sem jamais se perguntarem de onde e como tinham surgido tais certezas. Pensavam saber o que era cada uma das [[coisas]], a [[beleza]], a [[coragem]], a [[justiça]], mas quando indagados mais profundamente e mais insistentemente, o [[ser]] do seu pretenso [[saber]] se diluía em uma [[multiplicidade]] de [[palavras]] desconexas e [[proposições]] contraditórias" (1).
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: "Os atenienses, como a maioria dos [[homens]] em todas as [[épocas]], tinham muitas [[certezas]], sem jamais se perguntarem de onde e como tinham surgido tais [[certezas]]. Pensavam [[saber]] o que era cada uma das [[coisas]], a [[beleza]], a [[coragem]], a [[justiça]], mas quando indagados mais profundamente e mais insistentemente, o [[ser]] do seu pretenso [[saber]] se diluía em uma [[multiplicidade]] de [[palavras]] desconexas e [[proposições]] contraditórias" (1).
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: (1) BENOIT, Hector. ''O nascimento da razão negativa''. São Paulo: Moderna, p. 5.
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: (1) BENOIT, Hector. '''O nascimento da razão negativa'''. São Paulo: Moderna, p. 5.
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: A [[questão]] do [[verdadeiro]] enquanto [[proposição]] adequada [[entre]] o dito e a [[coisa]] ([[ente]], [[sendo]], ''to [[on]]'', [[real]]), o que [[é]], gera as [[certezas]] e estas anulam o [[vigorar]] [[verbal]] da [[dialética]] de [[verdade]] e [[não-verdade]]. Estas não são meros [[atributos]], mas o próprio [[ser]] se dando, manifestando e retraindo em tudo que [[é]] e [[não-é]]. O [[certo]] surge da [[proposição]] enquanto [[juízo]], mas não é necessariamente o [[verdadeiro]], porque este não é um simples [[atributo]] de um [[sujeito]], mas o modo como o [[ser]] se manifesta e vem ao [[aparecer]]. Sem [[aparecer]] não pode haver [[proposição]] e, portanto, [[certeza]]. A [[certeza]] é a [[verdade]] da [[proposição]], regida pela [[lógica]]. Porém, a [[dinâmica]] da [[realidade]] é mais do que o [[certo]], o [[estático]] e [[abstrato]] da [[lógica]]. A [[realidade]] é um [[acontecer]] incessante e complexo. Uma [[foto]] de uma flor exalando o seu perfume não o capta, mas ele está lá acontecendo, vivo e atuante. Esses são os [[limites]] da [[certeza]] [[lógica]]. Por isso a [[ciência]] também passou a [[trabalhar]] com a [[incerteza]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "Como já ressaltamos, tanto na dinâmica [[clássica]] quanto na [[física quântica]], as [[leis]] [[fundamentais]] exprimem agora [[possibilidades]] e não mais [[certezas]]. Temos não só [[leis]], mas também [[eventos]] que não são [[dedutíveis]] das [[leis]], mas atualizam as suas [[possibilidades]]. Nesta [[perspectiva]], não podemos evitar de colocar o [[problema]] da [[significação]]  desse [[evento]] [[primordial]] que a [[física]] batizou de "''big-bang''". Que significa o ''big-bang''? Fornece-nos ele as raízes do [[tempo]]? Começou o [[tempo]] com ''big-bang''? Ou o [[tempo]] preexistia ao nosso [[universo]]?" (1).
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: (1) PRIGOGINE, Ilya. "Uma nova racionalidade". In: ---. '''O fim das certezas - Tempo, Caos e as Leis da Natureza'''. São Paulo: Editora UNESP, 1996, 3. e., p. 13.
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: "E o físico Ilya Prigogine defende o [[fim]] da [[certeza]] (“O fim da certezaâ€, in: '''Representação e complexidade'''. Rio de Janeiro, Garamond, 2003, p. 49-67). No entanto, ele é [[paradoxal]], pois o [[fim]] da [[certeza]] da [[ciência]] apenas se dá em [[virtude]], não das [[questões]], mas de uma nova [[matemática]] da [[complexidade]], por isso afirma: “O que quero [[dizer]] é que a [[humanidade]] está em [[transição]], não há [[dúvida]], e também não há [[dúvida]] de que a [[ciência]] está em [[transição]]†p.49. Essa [[transição]] não significa o [[fim]] da [[certeza]] [[matemática]], daí o [[paradoxo]] no título do seu [[ensaio]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.

Edição atual tal como 19h52min de 22 de janeiro de 2024

Tabela de conteúdo

1

"Os atenienses, como a maioria dos homens em todas as épocas, tinham muitas certezas, sem jamais se perguntarem de onde e como tinham surgido tais certezas. Pensavam saber o que era cada uma das coisas, a beleza, a coragem, a justiça, mas quando indagados mais profundamente e mais insistentemente, o ser do seu pretenso saber se diluía em uma multiplicidade de palavras desconexas e proposições contraditórias" (1).


Referência:
(1) BENOIT, Hector. O nascimento da razão negativa. São Paulo: Moderna, p. 5.

2

A questão do verdadeiro enquanto proposição adequada entre o dito e a coisa (ente, sendo, to on, real), o que é, gera as certezas e estas anulam o vigorar verbal da dialética de verdade e não-verdade. Estas não são meros atributos, mas o próprio ser se dando, manifestando e retraindo em tudo que é e não-é. O certo surge da proposição enquanto juízo, mas não é necessariamente o verdadeiro, porque este não é um simples atributo de um sujeito, mas o modo como o ser se manifesta e vem ao aparecer. Sem aparecer não pode haver proposição e, portanto, certeza. A certeza é a verdade da proposição, regida pela lógica. Porém, a dinâmica da realidade é mais do que o certo, o estático e abstrato da lógica. A realidade é um acontecer incessante e complexo. Uma foto de uma flor exalando o seu perfume não o capta, mas ele está lá acontecendo, vivo e atuante. Esses são os limites da certeza lógica. Por isso a ciência também passou a trabalhar com a incerteza.
- Manuel Antônio de Castro

3

"Como já ressaltamos, tanto na dinâmica clássica quanto na física quântica, as leis fundamentais exprimem agora possibilidades e não mais certezas. Temos não só leis, mas também eventos que não são dedutíveis das leis, mas atualizam as suas possibilidades. Nesta perspectiva, não podemos evitar de colocar o problema da significação desse evento primordial que a física batizou de "big-bang". Que significa o big-bang? Fornece-nos ele as raízes do tempo? Começou o tempo com big-bang? Ou o tempo preexistia ao nosso universo?" (1).


Referência:
(1) PRIGOGINE, Ilya. "Uma nova racionalidade". In: ---. O fim das certezas - Tempo, Caos e as Leis da Natureza. São Paulo: Editora UNESP, 1996, 3. e., p. 13.

4

"E o físico Ilya Prigogine defende o fim da certeza (“O fim da certezaâ€, in: Representação e complexidade. Rio de Janeiro, Garamond, 2003, p. 49-67). No entanto, ele é paradoxal, pois o fim da certeza da ciência apenas se dá em virtude, não das questões, mas de uma nova matemática da complexidade, por isso afirma: “O que quero dizer é que a humanidade está em transição, não há dúvida, e também não há dúvida de que a ciência está em transição†p.49. Essa transição não significa o fim da certeza matemática, daí o paradoxo no título do seu ensaio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 15.
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