Aprendizagem

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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Edição de 14h09min de 7 de Dezembro de 2018

1

O aprendizado, em sua forma de substantivo, formado do particípio verbal passado, já diz o resultado ou processo de algo feito, em que predomina o aspecto passivo até certo ponto. Ele indica uma certa receptividade. O aprendizado é inerente ao "como" enquanto como configurado numa estrutura, numa formatação e numa doutrinação. Daí a correlação entre docere e discere, entre docente e discente. Isso é expresso em grego pelo verbo mantháno. Dá-se aí o "como" enquanto padrão comportamental. Ocorre que o que modula a inter-relação e interação da unidade/ente e meio é a plasticidade não de dependência, mas de uma adequação convivencial onde predomina sempre a unidade, e é neste predomínio que consiste a plasticidade autopoética da unidade/ente. A esta plasticidade autopoética é que podemos chamar "aprendizagem", mas cuja medida não vem da unidade/ente em-si. Só há aprendizagem quando a plasticidade se torna um corresponder ao apelo do sentido do lógos, do ser. A plasticidade é um figurar e diz respeito ao corpo enquanto mundo e terra. A aprendizagem não é um aprender de fora, mas o apropriar-se do que é próprio. Então, em sentido próprio, só se aprende a partir do que já sabemos e somos. Este é o sentido mais radical de mantháno. O aprendizado da matemática não nos vem pelo ensino de um outro, mas é já uma possibilidade que temos e de que devemos nos apropriar.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


2

Toda pergunta surge o exercício do questionar. A pergunta pode exercer-se em dois horizontes: o do pensamento e o do conhecimento. Quando se pergunta para conhecer, procura-se uma resposta que aumente o conhecimento e nos traga mais informações sobre o objeto da pergunta. E aí a resposta desfaz a pergunta. Tal pergunta surge quando nos dedicamos ao estudo e nos conduz a um aprendizado. Quando se pergunta para pensar, a resposta, em vez de me trazer um conhecimento, reinstala a questão, que originou a pergunta, em outro nível, como se desse um passo para reintalar não mais saber, mas o não-saber. Esse é o exercício da aprendizagem do aprender a pensar. O aprender a pensar é aquele questionar que nos liberta para o desaprender. Nesse nível todo desaprender é em essência sempre uma renúncia, onde esta não tira, dá, porque liberta para ser sem a prisão de algo que já sabemos e não somos. Ser é ser sem limites e sem estar preso a algo.


- Manuel Antônio de Castro.


3

"Há tempo renunciamos à condição de sermos aprendizes do pensamento. Ser aprendiz do pensamento significa deixar-se recolher e acolher-se pela aprendizagem. É estar atento ao vislumbre de revelações gestadas em espera. Ser aprendiz do pensamento deve ressoar como abertura, como celebração da vida. Doação ao entreaberto de cada descoberta, ser aprendiz do pensamento é, portanto, estar além do conhecimento alcançado pela funcionalidade" (1).
Referência:
(1) FILIPPOVNA, Veronica. O pensamento poético de Eduardo Portella. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 191: 131, out-dez., 2012.


4

Muito estudar é poder muito aprender, mas não é pelo muito aprender que advém a aprendizagem. A aprendizagem é um contínuo aprender a aprender, ou seja, aprender a ser o que já é e recebeu para ser.


- Manuel Antônio de Castro

5

Para a ciência, a sabedoria pode ser loucura e a aprendizagem algo com o qual nada se faz, isto é, inútil. Na ordem da ciência, a falta de bens e cultura pode ser indigência e na dimensão do humano a falta de cultura e bens pode ser renúncia para a aprendizagem. Porque a renúncia não tira, dá. Pois o silêncio não é a falta de voz da poesia e o som não é a falta de música, mas a sua plenitude.


- Manuel Antônio de Castro


6

"A medida do entre tanto é a vida quanto é a morte. Na medida está o sentido, no sentido está a medida. Toda procura, no fundo, é sempre a procura do sentir do sentido. É justamente isso que denomino aqui experienciação e não (jamais!) experiência. Toda procura advém sempre enquanto experienciação. Todo conceito advém sempre enquanto experiência. É por isso que posso dizer que “Fulano é experiente no fazer artefatos de madeira, de barro, em dar aula etc”. Todavia, jamais posso dizer que alguém é experiente na experienciação de morrer. Das experiências surge um aprendizado, passível de ser ensinado, porque é um saber baseado em conceitos, por exemplo, um carpinteiro que ensina o aprendiz a fazer móveis. Das experienciações surge uma aprendizagem, algo absolutamente pessoal e impossível de ser ensinado, porque não é redutível aos conceitos. A aprendizagem é experienciação das questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 215.


7

"Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já o disse poeticamente:
    "Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
    Isso exige um estudo profundo,
    Uma aprendizagem de desaprender . (Poema XXIV)
    Procuro despir-me do que aprendi,:
    Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
    E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos ... (Poema XLVI)" (1)

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Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.
Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.
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