Ironia

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Tropo vital, e não retórico, a ironia é a única forma de dizer que o [[homem]] é uma [[contradição]] consentida pela [[interação]] [[dialética]] do [[bem]] e do [[mal]], do [[ser]] e do [[nada]], da [[vida]] e da [[morte]] etc. A própria vida é uma ironia suprema, simplesmente porque morre" (1).
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: "Tropo vital, e não [[retórico]], a [[ironia]] é a única forma de [[dizer]] que o [[homem]] é uma [[contradição]] consentida pela [[interação]] [[dialética]] do [[bem]] e do [[mal]], do [[ser]] e do [[nada]], da [[vida]] e da [[morte]] etc. A própria [[vida]] é uma [[ironia]] suprema, simplesmente porque morre" (1).
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:(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da ironia". In: ''Revista Linha de Pesquisa''. Rio de Janeiro: volume 1, número 1, outubro/2000, p. 42.
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: (1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da ironia". In: ''Revista Linha de Pesquisa''. Rio de Janeiro: volume 1, número 1, outubro/2000, p. 42.
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: [[Ironia]] forma-se do grego ''eironeía'', proveniente do verbo grego: ''eíro'' ou ''eréo'', que significa: [[perguntar]], [[questionar]]. Todo [[questionar]] questiona porque não sabe e, ao mesmo tempo, porque já sabe (atematicamente), senão nem poderia [[perguntar]]. No e pelo [[perguntar]] há um ''krínein'', isto é, um [[distinguir]], ou seja, um [[diferenciar]]. Todo [[questionar]] pressupõe um [[diálogo]]. Portanto, o [[questionar]] exercita sempre um [[criticar]], no sentido de [[diferenciar]], pelo e no [[diálogo]]. Todo [[diálogo]] já é, em si, um exercer [[diferenças]]. A [[ironia]] nas [[obras de arte]] funda explicitamente o [[diálogo]] de [[leitura]] como um [[diferenciar]] e um [[questionar]]. O [[diferenciar]] já traz em si o [[caminhar]] no [[entre]] em que o [[ser humano]] já desde [[sempre]] está lançado. Portanto, todo [[humano]] do [[ser humano]] se dá como [[ironia]], porque em [[vida]] experiencia a [[morte]] como [[horizonte]] do [[sentido]] da [[vida]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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:[...] o [[questionar]], o consentimento entre o que se [[dizer|diz]] e se contradiz num único fôlego, perfazendo a vitalidade de [[existir]] enquanto fronteira que coaduna vida e morte” (1).
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: (A [[ironia]]) "É o furo no tecido das [[analogias]], a exceção que interrompe as [[correspondências]]... A [[ironia]] é a [[dissonância]] que rompe o [[concerto]] das [[correspondências]] e o transforma em galimatias. A [[ironia]] tem vários nomes: é a exceção, o irregular, o bizarro, como dizia Baudelaire, e, numa [[palavra]], o grande [[acidente]]: a [[morte]]...  A [[ironia]] é a [[manifestação]] da crítica, no reino da [[imaginação]] e da [[sensibilidade]]; sua [[essência]] é o [[tempo]] sucessivo que desemboca na [[morte]]" (1).
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:(1) PESSANHA, Fábio Santana. ''A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 119.
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: (1) PAZ, Octavio. "Ruptura e convergência". In: ''A outra voz''. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 38.
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: "Para [[expressar]] o que é a [[ironia]] e o [[humor]], Schopenhauer parte do [[conceito]] de [[seriedade]]. Esta é o oposto do [[riso]] ou da [[brincadeira]]. A [[seriedade]] surge da [[certeza]] [[entre]] o que se pensa e o que se vê. Ora, a [[piada]] é o [[lúdico]] [[intencional]]. A [[ironia]] será o [[lúdico]] escondido sob a [[seriedade]]. Inicialmente há uma [[concordância]] [[aparente]] para depois fazer surgir a [[incongruência]]. Já o [[humor]], para ele, é o oposto da [[ironia]]: é a [[seriedade]] escondida sob o [[lúdico]]. Ainda distingue a [[ironia]] do [[humor]], ao achar que a [[ironia]] é [[objetiva]] e se [[destina]] para o [[outro]], enquanto que o [[humor]] é [[subjetivo]], existindo primariamente só para a [[própria]] [[pessoa]]" (1).
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: Para maiores esclarecimentos, consultar: STAIGER, Emil. ''Conceitos fundamentais da poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O lúdico e o humano". In: ------. ''Travessia Poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 48.

Edição atual tal como 20h48min de 13 de Agosto de 2020

1

"Tropo vital, e não retórico, a ironia é a única forma de dizer que o homem é uma contradição consentida pela interação dialética do bem e do mal, do ser e do nada, da vida e da morte etc. A própria vida é uma ironia suprema, simplesmente porque morre" (1).


Referência:
(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da ironia". In: Revista Linha de Pesquisa. Rio de Janeiro: volume 1, número 1, outubro/2000, p. 42.

2

Ironia forma-se do grego eironeía, proveniente do verbo grego: eíro ou eréo, que significa: perguntar, questionar. Todo questionar questiona porque não sabe e, ao mesmo tempo, porque já sabe (atematicamente), senão nem poderia perguntar. No e pelo perguntar há um krínein, isto é, um distinguir, ou seja, um diferenciar. Todo questionar pressupõe um diálogo. Portanto, o questionar exercita sempre um criticar, no sentido de diferenciar, pelo e no diálogo. Todo diálogo já é, em si, um exercer diferenças. A ironia nas obras de arte funda explicitamente o diálogo de leitura como um diferenciar e um questionar. O diferenciar já traz em si o caminhar no entre em que o ser humano já desde sempre está lançado. Portanto, todo humano do ser humano se dá como ironia, porque em vida experiencia a morte como horizonte do sentido da vida.


- Manuel Antônio de Castro.

3

(A ironia) "É o furo no tecido das analogias, a exceção que interrompe as correspondências... A ironia é a dissonância que rompe o concerto das correspondências e o transforma em galimatias. A ironia tem vários nomes: é a exceção, o irregular, o bizarro, como dizia Baudelaire, e, numa palavra, o grande acidente: a morte... A ironia é a manifestação da crítica, no reino da imaginação e da sensibilidade; sua essência é o tempo sucessivo que desemboca na morte" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. "Ruptura e convergência". In: A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 38.

4

"Para expressar o que é a ironia e o humor, Schopenhauer parte do conceito de seriedade. Esta é o oposto do riso ou da brincadeira. A seriedade surge da certeza entre o que se pensa e o que se vê. Ora, a piada é o lúdico intencional. A ironia será o lúdico escondido sob a seriedade. Inicialmente há uma concordância aparente para depois fazer surgir a incongruência. Já o humor, para ele, é o oposto da ironia: é a seriedade escondida sob o lúdico. Ainda distingue a ironia do humor, ao achar que a ironia é objetiva e se destina para o outro, enquanto que o humor é subjetivo, existindo primariamente só para a própria pessoa" (1).
Para maiores esclarecimentos, consultar: STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O lúdico e o humano". In: ------. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 48.