Ente

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(6)
(4)
Linha 18: Linha 18:
== 4 ==
== 4 ==
-
:Surpreendemo-nos então numa [[con-juntura]] de [[questão]]: nós, seres humanos, isto é, cada [[sendo]], só é e pode ser no, com e a partir do [[ser]]. Porém, o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Ente diz todo sendo em com-posição. Composição diz todo [[estar]] sendo. Todo estar é o ser se dando em [[posição]], ou seja, vigorando no ente. O ser se dá em posição na [[medida]] do seu vigorar como [[linguagem]], isto é, enquanto ''[[lógos]]''.
+
: Surpreendemo-nos então numa [[con-juntura]] de [[questão]]: nós, seres humanos, isto é, cada [[sendo]], só é e pode ser no, com e a partir do [[ser]]. Porém, o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Ente diz todo sendo em com-posição. Composição diz todo [[estar]] sendo. Todo estar é o ser se dando em [[posição]], ou seja, vigorando no ente. O ser se dá em posição na [[medida]] do seu vigorar como [[linguagem]], isto é, enquanto ''[[lógos]]''.
-
 
+
-
 
+
-
:- [[Manuel Antônio de Castro]].
+
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
== 5 ==
== 5 ==

Edição de 22h38min de 20 de Novembro de 2019

Tabela de conteúdo

1

A palavra ente, em português, provém do particípio presente latino do verbo esse: ens, entis. É, portanto, uma forma verbal em sua origem. E ela traduz o particípio presente do verbo einai (ser), em grego: on. Ente (on), particípio presente do verbo ser (em grego eínai), é entendido tanto como substantivo quanto como verbo. Ente significa o que se apresenta, o que se realiza. E o que se apresenta remete para duas dimensões: a) verbo; b) substantivo. Como substantivo é o positum (posto). Na consideração do positum não se leva em conta o verbo, a apresentação, ou seja, uma dinâmica relacional/referencial que pres-supõe a dis-posição e que remete para a quaternidade (em alemão Geviert). O ob-jeto (o posto diante de) é: 1o. relacional (ao sujeito); 2o. apresentativo. A concepção do ob-jeto como algo fixo do conhecimento não leva em conta a inter-subjetividade nem o caráter verbal e muito menos a Physis / Logos. Mas sem physis e logos não há ente nem sua percepção como logos. Daí a tradução do on como coisa ou ente não poder ser reduzida a um conceito nem subjetivo nem objetivo. Ele, como tal, sempre se retrai ao assédio dos conceitos. A outra tradução do on como res/coisa, de onde se originou a palavra realidade, deve nos levar e ver nesta algo dinâmico, verbal e não somente como algo já posto e disposto.


- Manuel Antônio de Castro.

2

Entificar é esquecer o sentido do ser. Esquecer o sentido do ser é reduzir o ser ao ente e a língua a código. Daí surge também a substituição do sentido pelo significado, este é o sentido sem a linguagem e seu vigorar, ou seja, a mera representação do que é, uma vez que foi reduzido a ente.


- Manuel Antônio de Castro

3

O ser humano pela instrumentalização da razão tende a entificar tudo, sobretudo o fundamento a que se reduziu a realidade. Toda conceituação é representação e entificação. A realidade é sem fundamento. Ela funda os fundamentos, os suportes, mas sem se fundamentar. Realidade é o vigorar e acontecer do fundar.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Surpreendemo-nos então numa con-juntura de questão: nós, seres humanos, isto é, cada sendo, só é e pode ser no, com e a partir do ser. Porém, o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Ente diz todo sendo em com-posição. Composição diz todo estar sendo. Todo estar é o ser se dando em posição, ou seja, vigorando no ente. O ser se dá em posição na medida do seu vigorar como linguagem, isto é, enquanto lógos.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"O ser não pode ser. Se fosse, já não seria ser, mas um ente. Contudo, o primeiro pensador que pensou o ser, Parmênides, não diz: Esti gar einai" (frag. 6)? Há, de fato, ser e está presente o ser presente. Temos que pensar que se, efetivamente, no einai, o ser presente, está falando a aletheia, o desvelar-se, acentuado no esti e dito do einai, é : o deixar que venha à presença. Ser: na realidade o que permite a presença"(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. In: A tese de Kant sobre o ser. Trad. Helena Cortés e Arturo Leyte. Madri: Alianza Editorial, 2007, p. 387. (Tradução do espanhol: Manuel Antônio de Castro).

6

Distinguir ser e ente não é fácil, tratando-se do pensamento grego. É sobretudo uma questão de pensamento e tradução. Vejamos. Em Carta sobre o humanismo, à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já é. Ora, o que é, antes de tudo, é o Ser ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O gibt (dá) evoca a Essência do Ser, que se doa, concedendo a sua Verdade. O dar-se a si mesmo com a abertura à abertura é o próprio Ser. Ao mesmo tempo, emprega-se o es gibt (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: o Ser é; pois o é se diz comumente daquilo que é. E a isso chamamos ente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 56.


7

"Só no plano do ente e porque somos entes é que somos, necessariamente, mortais. E ser mortal diz exatamente isso: experienciarmos como entes ser o ser do não-ente, pois todo sendo é e não é, daí estar sendo sem jamais chegar a ser como sendo o ser do sendo. O ser do não-ente não é mortal porque não é. Se fosse, seria ente e não o ser de todo não-ente. O ser não é.


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 210.