Ente

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Distinguir [[ser]] e ente não é fácil, tratando-se do [[pensamento]] grego. É sobretudo uma [[questão]] de [[pensamento]] e [[tradução]]. Vejamos. Em ''Carta sobre o humanismo'', à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já ''é''. Ora, o que ''é'', antes de tudo, é o ''[[Ser]]'' ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O ''gibt'' (dá) evoca a [[Essência]] do [[Ser]], que se doa, concedendo a sua [[Verdade]]. O dar-se a si mesmo com a [[abertura]] à [[abertura]] é o próprio [[Ser]]. Ao mesmo tempo, emprega-se o ''es gibt'' (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: ''o Ser é''; pois o ''é'' se diz comumente daquilo que ''é''. E a isso chamamos ente" (1).  
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: Distinguir [[ser]] e [[ente]] não é fácil, tratando-se do [[pensamento]] grego. É sobretudo uma [[questão]] de [[pensamento]] e [[tradução]]. Vejamos. Em ''Carta sobre o humanismo'', à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já ''é''. Ora, o que ''é'', antes de tudo, é o ''[[Ser]]'' ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O ''gibt'' (dá) evoca a [[Essência]] do [[Ser]], que se doa, concedendo a sua [[Verdade]]. O dar-se a si mesmo com a [[abertura]] à [[abertura]] é o próprio [[Ser]]. Ao mesmo tempo, emprega-se o ''es gibt'' (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: ''o Ser é''; pois o ''é'' se diz comumente daquilo que ''é''. E a isso chamamos [[ente]]" (1).  

Edição de 15h58min de 22 de Junho de 2018

Tabela de conteúdo

1

A palavra ente, em português, provém do particípio presente latino do verbo esse: ens, entis. É, portanto, uma forma verbal em sua origem. E ela traduz o particípio presente do verbo einai (ser), em grego: on. Ente (on), particípio presente do verbo ser (em grego eínai), é entendido tanto como substantivo quanto como verbo. Ente significa o que se apresenta, o que se realiza. E o que se apresenta remete para duas dimensões: a) verbo; b) substantivo. Como substantivo é o positum (posto). Na consideração do positum não se leva em conta o verbo, a apresentação, ou seja, uma dinâmica relacional/referencial que pres-supõe a dis-posição e que remete para a quaternidade (em alemão Geviert). O ob-jeto (o posto diante de) é: 1o. relacional (ao sujeito); 2o. apresentativo. A concepção do ob-jeto como algo fixo do conhecimento não leva em conta a inter-subjetividade nem o caráter verbal e muito menos a Physis / Logos. Mas sem physis e logos não há ente nem sua percepção como logos. Daí a tradução do on como coisa ou ente não poder ser reduzida a um conceito nem subjetivo nem objetivo. Ele, como tal, sempre se retrai ao assédio dos conceitos. A outra tradução do on como res/coisa, de onde se originou a palavra realidade, deve nos levar e ver nesta algo dinâmico, verbal e não somente como algo já posto e disposto.


- Manuel Antônio de Castro.

2

Entificar é esquecer o sentido do ser. Esquecer o sentido do ser é reduzir o ser ao ente e a língua a código. Daí surge também a substituição do sentido pelo significado, este é o sentido sem a linguagem e seu vigorar, ou seja, a mera representação do que é, uma vez que foi reduzido a ente.


- Manuel Antônio de Castro

3

O ser humano pela instrumentalização da razão tende a entificar tudo, sobretudo o fundamento a que se reduziu a realidade. Toda conceituação é representação e entificação. A realidade é sem fundamento. Ela funda os fundamentos, os suportes, mas sem se fundamentar. Realidade é o vigorar e acontecer do fundar.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Surpreendemo-nos então numa con-juntura de questão: nós, seres humanos, isto é, cada sendo, só é e pode ser no, com e a partir do ser. Porém, o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Ente diz todo sendo em com-posição. Composição diz todo estar sendo. Todo estar é o ser se dando em posição, ou seja, vigorando no ente. O ser se dá em posição na medida do seu vigorar como linguagem, isto é, enquanto lógos.


- Manuel Antônio de Castro.


5

"O ser não pode ser. Se fosse, já não seria ser, mas um ente. Contudo, o primeiro pensador que pensou o ser, Parmênides, não diz: Esti gar einai" (frag. 6)? Há, de fato, ser e está presente o ser presente. Temos que pensar que se, efetivamente, no einai, o ser presente, está falando a aletheia, o desvelar-se, acentuado no esti e dito do einai, é : o deixar que venha à presença. Ser: na realidade o que permite a presença"(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. In: A tese de Kant sobre o ser. Trad. Helena Cortés e Arturo Leyte. Madri: Alianza Editorial, 2007, p. 387. (Tradução do espanhol: Manuel Antônio de Castro).

6

Distinguir ser e ente não é fácil, tratando-se do pensamento grego. É sobretudo uma questão de pensamento e tradução. Vejamos. Em Carta sobre o humanismo, à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já é. Ora, o que é, antes de tudo, é o Ser ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O gibt (dá) evoca a Essência do Ser, que se doa, concedendo a sua Verdade. O dar-se a si mesmo com a abertura à abertura é o próprio Ser. Ao mesmo tempo, emprega-se o es gibt (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: o Ser é; pois o é se diz comumente daquilo que é. E a isso chamamos ente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 56.