Ação

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "''No princípio era o Verbo''. É esta a letra expressa;  
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:  Como hei de progredir? Há  'í quem tal me aclare?
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:  nessa primeira linha; às vezes se atropela
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:  a [[verdade]] e a [[razão]] coa rapidez da pena;
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:  pois o Senso faz tudo, e tudo cria e ordena?...
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:  Contra isso que pus interna [[voz]] me brada.
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:  ...Agora é que atinei: ''No [[princípio]] era a [[Ação]]''..." (1)
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: (1) GOETHE, Johann W. ''Fausto'', trad. Antônio Feliciano de Castilho. Rio de Janeiro; Edições de Ouro, 1969, p. 113. Quadro IV, Cena I.
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Edição de 15h02min de 19 de Maio de 2017

1

O agir, o vir-a-ser da phýsis, do ser, sempre provocou o nosso espanto. Este espanto ao longo do percurso ocidental permaneceu e permanece, apesar das diferentes teorias e respostas. A teoria, enquanto um ver/saber, percorre diversas disciplinas. Na física, o agir se indaga como força. Para ela há quatro forças fundamentais. A primeira delas é a gravidade, que sustenta a órbita dos planetas em torno do sol ou atrai os corpos para o centro da terra. A segunda é a força eletromagnética, que mantém os átomos inteiros. A terceira, a força nuclear fraca, é responsável pela produção de energia solar. A quarta, a força nuclear forte, é a que mantém unidas as partículas fundamentais de toda a matéria, os quarks. Esta é ambígua, porque quanto mais se tenta quebrar essas partículas, mais poderosa fica a força. Por isso é impossível isolá-los. Estas forças remetem para o enigma da phýsis como ser, vir-a-ser e não-ser. Como achar uma teoria que ex-plique, sozinha, como a matéria se combina, se mantém unida e se repele? Não seria fundamental pensar a essência da matéria no seu sentido de ser?


- Manuel Antônio de Castro

2

"No princípio era o Verbo. É esta a letra expressa;
aqui está... No sentido é que a razão tropeça.
Como hei de progredir? Há 'í quem tal me aclare?
O Verbo!! Mas o Verbo é coisa inacessível.
Se apurar a razão, talvez me depare
para o lugar de Verbo um termo inteligível...
Ponho isto: No princípio era o Senso... Cautela
nessa primeira linha; às vezes se atropela
a verdade e a razão coa rapidez da pena;
pois o Senso faz tudo, e tudo cria e ordena?...
É melhor: No princípio era a Potência... Nada!
Contra isso que pus interna voz me brada.
(Sempre a almejar por luz, e sempre na escuridão)
...Agora é que atinei: No princípio era a Ação..." (1)


Referência:
(1) GOETHE, Johann W. Fausto, trad. Antônio Feliciano de Castilho. Rio de Janeiro; Edições de Ouro, 1969, p. 113. Quadro IV, Cena I.

2

A ação está ligada ao movimento. Os gregos distinguiram quatro tipos de movimento: 1º. O local, a mudança de lugar; 2º. O quantitativo: o aumento e diminuição; 3º. O qualitativo ou alteração; 4º. O substancial: a geração e a corrupção. Se pensarmos todos esses movimentos numa única questão, na união de ser e saber, de lógos e poíesis, teremos a questão fundamental da sabedoria. Esta é a questão que atravessa mito, poíesis e filosofia. E então joga o ser humano no horizonte do sagrado, onde o ser do ser humano acontece.


- Manuel Antônio de Castro

3

"... toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 13.e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, 137.


4

"... para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto; mas, fora dessa consequência, tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é errado" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 13.e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, 366.


5

"O pensamento não se transforma em ação por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O pensamento age enquanto pensa. Seu agir é, de certo, o que há de mais simples e elevado, por afetar a re-ferência do Ser ao homem. Toda produção se funda no Ser e se dirige ao ente. O pensamento, ao contrário, se deixa requisitar pelo Ser a fim de proferir-lhe a Verdade. O pensamento con-suma esse deixar-se" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER. Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 25.