Horizonte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. As cordas serenas de Ulisses. In: ''Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carenerio Leão''. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 172.
:(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. As cordas serenas de Ulisses. In: ''Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carenerio Leão''. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 172.
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: Tanto externa como internamente sempre e sempre nos projetamos numa linha de  horizonte para além da qual sabemos [[nada]] e que, no entanto, é o horizonte de toda [[procura]] e [[cuidado]]: a terceira margem do horizonte. Um horizonte onde procuramos ver tanto e contraditoriamente não vemos nem podemos [[ver]] o que precede todo o [[olhar]] do próprio olho. Tão distante  e insondável o horizonte e, misteriosamente, esse é sempre o [[limite]] do que não tem limite, um limite que sempre está próximo, tão próximo que não o podemos [[ver]]. Como nossa [[razão]], tão brilhante, potente e deslumbrante é limitada e pequena!
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 01h38min de 5 de Novembro de 2016

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Todo enigma e imprecisão do limite se expressa bem no termo horizonte, do grego horidzo, que significa limitar. E esse enigma vê-se bem numa pergunta: Como caminhar até a linha do horizonte? Pois quanto mais nele caminhamos e o pro-curamos mais o horizonte se abre em novas possibilidades. Essa é a utopia cotidiana do viver o que podemos ser, o que nos é próprio. A esta abertura de possibilidades para o realizar-se do ser humano cotidiano e utópico é o que se chama transcendência, abertura de mundo, logos.


- Manuel Antônio de Castro

2

"... com relação à filosofia platônica, deve-se assinalar, antes de mais nada, que Platão pensou não bem o "mundo das ideias", mas a diferença, a separação, o horismós, o horizonte de constituição das coisas. Platão se curvou para os sortilégios do além, sacrificando as coisas do aqui. A essência da árvore, essência da pedra, a essência do homem, a essência do animal, a essência do divino, não constituem uma "coisa", uma espécie de ideal, mas o horizonte a partir do qual a árvore, a pedra, o homem, o animal, um deus aparecem em seu ser" (1). Ora, só podemos pensar em sacrificar as "coisas do aqui", caso partamos do platonismo, onde predomina a lógica e não mais a dialética do diálogo, dos diálogos, isto é, as obras que Platão, o pensador, escreveu. Na dialética não há sacrifício de nada, há integração sem exclusão. Essa é a dialética do pensador Platão e seus diálogos. Nesse sentido a dialética move-se sempre no horizonte, no sentido em que a autora o diz.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. As cordas serenas de Ulisses. In: Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carenerio Leão. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 171.

3

Horizonte foi um termo lançado por Husserl, mas que ainda é, em sua obra, um conceito empírico-fenomenológico. Heidegger o re-elaborou dando-lhe uma dimensão transcendental a priori. Está relacionado à pergunta e ao saber e ao não-saber-ciente.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
HUMMES, Cláudio. Metafísica. Mimeo, 1963, p. 46. Acessível em: Travessia Poética.

4

Quando se considera a questão do horizonte em toda a sua amplitude aparece uma das características de Hermes, o deus das encruzilhadas. Ora, essas encruzilhadas são tanto as do horizonte (vertical e horizontal) como as de limite e não-limite, verdade e não-verdade, ser e não-ser. Por isso, o ser humano é ser-entre (Dasein) e seu percurso se dá no discurso da tra-vessia. Ele é um ser-em-travessia como entre-ser, na liminaridade do horizonte. Além de ser deus das encruzilhadas, Hermes é também aquele que diz sempre a verdade, porém, não toda a verdade, ou seja, há sempre em toda verdade a não-verdade, como fonte de toda verdade.


- Manuel Antônio de Castro

5

"Em tudo, que aí vemos, nós nos percebemos numa dada posição. É que horizonte, panorama e perspectiva se coordenam e referem à posição que ocupamos [...]. A solidez e estabilidade de uma posição não dependem nem da perspectiva nem do horizonte nem do panorama. Dependem da abertura que, possibilitando perspectivas, dá acesso à visibilidade de horizonte e panorama. Por isso só nos é acessível o que se nos pro-sta aberto pela abertura. Só temos acesso àquilo para o que estamos abertos [...]. A abertura não nos abre apenas o acessível. Também o acesso ao inacessível, como tal, nos é facultado pela abertura que se exerce na própria diferenciação de aberto e fechado, acessível e inacessível" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 184-5.

6

"Na verdade, mais do que incluir o horizonte na visão das coisas, o que Platão fez foi relembrar que as coisas são os contornos-limites que aparecem no aberto do horizonte. Platão não ultrapassa as coisas. Ultrapassa, transcende a visão que destaca as coisas de seu horizonte e esquece essa duplicidade, essa conjugação dual de horizonte e realidade" (1).


Referência:


(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. As cordas serenas de Ulisses. In: Ensaios de filosofia - Homenagem a Emmanuel Carenerio Leão. Márcia S.C. Schuback (org.). Petrópolis: Vozes, 1999, p. 172.


7

Tanto externa como internamente sempre e sempre nos projetamos numa linha de horizonte para além da qual sabemos nada e que, no entanto, é o horizonte de toda procura e cuidado: a terceira margem do horizonte. Um horizonte onde procuramos ver tanto e contraditoriamente não vemos nem podemos ver o que precede todo o olhar do próprio olho. Tão distante e insondável o horizonte e, misteriosamente, esse é sempre o limite do que não tem limite, um limite que sempre está próximo, tão próximo que não o podemos ver. Como nossa razão, tão brilhante, potente e deslumbrante é limitada e pequena!


- Manuel Antônio de Castro
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