Escolher
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : ( | + | : (1) FERRAZ, Antonio Máximo.''' “[[Liberdade]]”. In: CASTRO, Manuel Antonio de e Outros (org). Convite ao [[pensar]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 134.''' |
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+ | : "Ora, o [[homem]] [[concreto]], [[eu]] concretamente existente, não posso ser reduzido a uma [[definição]] [[essencial]] fixa de uma vez para [[sempre]], diz o [[existencialismo]]. E isto precisamente porque o [[próprio]] do [[homem]] é o [[escolher]]. E não se trata de um [[escolher]] considerado abstratamente ou como não afetando o meu [[ser]], mas um [[escolher]] em toda a sua concretude, em que eu mesmo “entro em jogo, numa tensão [[existencial]] [[entre]] um ou outro [[caminho]] que posso [[escolher]]. Por isto nunca se dá um [[escolher]] neutro, mas sempre toda [[escolha]] significa um [[escolher]]-se a si [[mesmo]]. [[Existir]], para o [[homem]], significa [[escolher]] continuamente ou sua [[autenticidade]] ou sua [[inautenticidade]]. E é neste [[sentido]] que nós, segundo a [[escolha]] que fazemos, segundo o modo como nos escolhemos e nos realizamos pela [[escolha]], nos damos a [[essência]]: [[eu]] [[sou]] apenas aquilo que escolho [[ser]]. É este o significado [[fundamental]] do dito [[existencialista]]: “a [[existência]] precede a [[essência]]”, terminando assim com toda a [[teoria]] de um valor filosófico atribuído às [[essências]] possíveis, mas ainda não existentes, [[teoria]] tipicamente [[racionalista]]" (1). | ||
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+ | : (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio. '''[[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal. ''' |
Edição atual tal como 21h51min de 29 de março de 2025
1
- "A palavra escolher é composta de ex- (movimento para fora, manifestação, exposição), cum- (com) e legere (colher, ler, interpretar). O termo significa, portanto, colher e interpretar o que por si só já se manifesta, se expõe (ex-). É o dialogar com (cum) o que se manifesta sem que o homem, por sua vontade, tenha deliberado: o que nele já se destina. Escolher, assim, não é uma decisão subjetiva. É acolher o que no homem já se dá para que ele seja. A-colher é bem receber, interpretar com criatividade, o que, vindo de longe, se aproxima, movimento expresso pelo prefixo ad- " (1).:
- Referência:
- (1) FERRAZ, Antonio Máximo. “Liberdade”. In: CASTRO, Manuel Antonio de e Outros (org). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 134.
2
- "Ora, o homem concreto, eu concretamente existente, não posso ser reduzido a uma definição essencial fixa de uma vez para sempre, diz o existencialismo. E isto precisamente porque o próprio do homem é o escolher. E não se trata de um escolher considerado abstratamente ou como não afetando o meu ser, mas um escolher em toda a sua concretude, em que eu mesmo “entro em jogo, numa tensão existencial entre um ou outro caminho que posso escolher. Por isto nunca se dá um escolher neutro, mas sempre toda escolha significa um escolher-se a si mesmo. Existir, para o homem, significa escolher continuamente ou sua autenticidade ou sua inautenticidade. E é neste sentido que nós, segundo a escolha que fazemos, segundo o modo como nos escolhemos e nos realizamos pela escolha, nos damos a essência: eu sou apenas aquilo que escolho ser. É este o significado fundamental do dito existencialista: “a existência precede a essência”, terminando assim com toda a teoria de um valor filosófico atribuído às essências possíveis, mas ainda não existentes, teoria tipicamente racionalista" (1).
- Evidente que o ser humano como ser humano não tem esse poder. É, no fundo, a radicalização do racionalismo. O ser que somos nos foi doado. Porém, a realização deste ser que nos foi doado exige uma caminhada de apropriação, pois todas as nossas escolhas são regidas pela lei do que nos é próprio ou como diziam os gregos: por nossa Moira. E ninguém pode fugir à sua Moira.
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.