Pensador

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "O pensador existe no e pelo [[pensar]] e jamais separa pensamento-vida da [[realidade]], até porque esta é o pensar agindo. Os gregos nomearam o pensar ''noeîn'', e o [[pensamento]] ''nóus''. A [[essência]] do [[agir]] não é causar efeitos ou fazer surgir, seja lá o que for na, ordem dos [[entes] e nem se dá na correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]. Também não se identifica com o agir causal de agente e paciente. Agir essencialmente é deixar o [[ser]] [[vigorar]] em tudo que é e está sendo. O pensar pensa no pensador que age enquanto pensa e é. O pensador, tomado pela essência da [[ação]], deixa-se envolver com as provocações da realidade, do ser, e toda vez que surge uma oportunidade para que, tomando uma [[posição]], operem-se as [[possibilidades]] que ela oferece, sem se importar com os perigos, decide agir. Ainda que, como já disse o pensador-poeta Guimarães Rosa, “Viver é muito perigoso” (Rosa: 1968, 16) (1)" (2).  
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: "O pensador existe no e pelo [[pensar]] e jamais separa pensamento-vida da [[realidade]], até porque esta é o pensar agindo. Os gregos nomearam o pensar ''noeîn'', e o [[pensamento]] ''nóus''. A [[essência]] do [[agir]] não é causar efeitos ou fazer surgir, seja lá o que for na, ordem dos [[entes]] e nem se dá na correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]. Também não se identifica com o [[agir]] [[causal]] de [[agente]] e [[paciente]]. [[Agir]] essencialmente é deixar o [[ser]] [[vigorar]] em tudo que é e está sendo. O [[pensar]] pensa no [[pensador]] que age enquanto pensa e [[é]]. O [[pensador]], tomado pela [[essência]] da [[ação]], deixa-se envolver com as [[provocações]] da [[realidade]], do [[ser]], e toda vez que surge uma oportunidade para que, tomando uma [[posição]], operem-se as [[possibilidades]] que ela oferece, sem se importar com os perigos, decide [[agir. Ainda que, como já disse o pensador-poeta Guimarães Rosa, “[[Viver]] é muito [[perigoso]]” (Rosa: 1968, 16) (1)" (2).  
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: (1) ROSA, João Guimarães. ''Grande sertão: veredas'', 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
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: (1) ROSA, João Guimarães. '''Grande sertão: veredas''', 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.
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: No poético, as [[línguas]] são o [[rito]] da [[Linguagem]]. O [[mito]] narrado não é o [[mito]], mas o [[rito]] e a [[língua]] da [[Linguagem]]. Por isso o poético, toda [[arte]], tem origem mítica. E tanto o [[mito]] como a [[arte]] radicam no [[sagrado]]. Martin Heidegger afirma: "O [[pensador]] diz o [[ser]], o [[poeta]] nomeia o [[sagrado]]" (1) (2).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: ''Heidegger - Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51. 
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do  canto das Sereias". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: ''Heidegger - Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do  canto das Sereias". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: ''Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos''. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: ''Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos''. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A história na filosofia grega". In: ------. ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 20.
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A história na filosofia grega". In: ------. ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 20.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 282.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 282.
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:  "O [[pensar]] não julga. Pensa. O [[pensador]] quando assume o [[risco]] o assume inteiramente e não tem por que querer se justificar ''a priori'' ou ''a posteriori''. Todo [[pensar]] que pensa é um [[risco]], onde sempre se arrisca o tomar uma [[posição]], a [[posição]] e [[risco]] da [[não-verdade]] da [[verdade]] e da [[verdade]] da [[não-verdade]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.
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: "Na hora do [[risco]] o [[pensador]] manifesta as potencialidades da [[língua]], porque todo [[pensar]] traz [[sempre]] o [[perigo]] de deixar [[vigorar]] a [[linguagem]] de toda [[língua]]. Não é fácil nem é uma [[decisão]] do [[pensador]]. Acontece nele" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.
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: "[...] os [[pensadores]] [[Essenciais]] dizem sempre o [[mesmo]] (das Selbe); isso, no entanto, não significa que digam [[sempre]] coisas iguais (das Gleiche). Sem dúvida, eles só o dizem a quem se empenha em repensá-los. Enquanto o [[pensamento]], re-memorando Historicamente, preza o [[destino]] do [[Ser]], ele já se prendeu ao destinado (das Schlickliche), que se acorda com o [[destino]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.

Edição atual tal como 16h14min de 18 de janeiro de 2024

1

"O pensador existe no e pelo pensar e jamais separa pensamento-vida da realidade, até porque esta é o pensar agindo. Os gregos nomearam o pensar noeîn, e o pensamento nóus. A essência do agir não é causar efeitos ou fazer surgir, seja lá o que for na, ordem dos entes e nem se dá na correlação de sujeito e objeto. Também não se identifica com o agir causal de agente e paciente. Agir essencialmente é deixar o ser vigorar em tudo que é e está sendo. O pensar pensa no pensador que age enquanto pensa e é. O pensador, tomado pela essência da ação, deixa-se envolver com as provocações da realidade, do ser, e toda vez que surge uma oportunidade para que, tomando uma posição, operem-se as possibilidades que ela oferece, sem se importar com os perigos, decide [[agir. Ainda que, como já disse o pensador-poeta Guimarães Rosa, “Viver é muito perigoso” (Rosa: 1968, 16) (1)" (2).
Referência:


(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.

2

"O pensador vive em tudo o não saber. Pois pensar não é saber. É não saber. Quando se pensa não se pretende saber e quando se pretende saber, não se pensa. Desde o poema de Parmênides, lembra Heidegger, pensador é aquele que não cessa de questionar as raízes em que se encontram e desencontram, numa encruzilhada da verdade, os caminhos do ser, do não ser e do parecer" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A mistificação negativa". In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 224.

3

O pensador jamais teme os julgamentos que nunca vigoram no pensar. O pensar não julga. Pensa. O pensador quando assume o risco o assume inteiramente e não tem porque querer se justificar a priori ou a posteriori. Todo pensar que pensa é um risco, onde sempre se arrisca o tomar uma posição, a posição e o risco da não-verdade da verdade e da verdade da não verdade.


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.


Ver também:
*Razão
*Filósofo

4

O pensador não diz verdades, escuta o apelo da não-verdade. Não faz descobertas, acolhe a vigor do não-saber. Não busca o uniforme do idêntico, afirma a unidade do diferente. Lançado nos limites do é, pensa os não-limites do não-é. O pensador não pensa o ser, é pensado pelo não-ser. O pensador não ensina nada, aprende a aprendizagem do nada.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:
*Homem
*Filósofo
*Dasein
*Ausculta

5

O que é o pensador? Pensador é aquele que pensa e não alguém que simplesmente raciocina. Pensar não é a mesma coisa que raciocinar. Nessa diferença está todo o enigma do que é não só o pensar como também do pensador em relação, por exemplo, ao filósofo, ao lógico, ao retórico, ao cientista. Mas não será por essa oposição que melhor poderemos compreender e apreender o que é o pensador. Não é filosofando, sendo retórico ou criando teorias lógico-dedutivo-científicas que vamos entender o que é pensar. O pensador também raciocina, mas não pára aí. Certamente o que é pensar encontra a sua compreensão nas vias e envios das obras dos grandes poetas, dos grandes pensadores, cada um à sua maneira. Diz Emmanuel Carneiro Leão: “... pensar é deixar a realidade ser realidade, nas peripécias de realizações do próprio pensamento” (1)


Referência:
(1) ( LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O pensamento a serviço do silêncio". In: SCHUBACK, Márcia S. C. (org.). Ensaios de filosofia. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 251.

6

No poético, as línguas são o rito da Linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da Linguagem. Por isso o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado. Martin Heidegger afirma: "O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado" (1) (2).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: Heidegger - Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do canto das Sereias". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

7

"Todo pensador só é pensador na medida em que se abre e deixa acontecer nele e em cada um o que é, e é, aprendendo o seu sentido sócio-histórico. Professor não é quem ensina, mas quem com a paciência do silêncio eloquente deixa aprender " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.

8

"O pensador em tudo e, sobretudo, vive o não saber. Pois pensar não é saber. É não saber. Quando se pensa não se pretende saber, e quando se pretende saber, não se pensa. Desde o Poema de Parmênides, o pensador-filósofo é aquele que não cessa de questionar as raízes em que se encontram e desencontram, numa encruzilhada da verdade, os caminhos do ser, do não ser e do parecer" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A história na filosofia grega". In: ------. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 20.

9

"Todo o empenho e desempenho do pensador é propor como penhor a abertura de pensamento para o sentido e o esquecimento do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 282.

10

"O pensar não julga. Pensa. O pensador quando assume o risco o assume inteiramente e não tem por que querer se justificar a priori ou a posteriori. Todo pensar que pensa é um risco, onde sempre se arrisca o tomar uma posição, a posição e risco da não-verdade da verdade e da verdade da não-verdade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.

11

"Na hora do risco o pensador manifesta as potencialidades da língua, porque todo pensar traz sempre o perigo de deixar vigorar a linguagem de toda língua. Não é fácil nem é uma decisão do pensador. Acontece nele" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.

12

"[...] os pensadores Essenciais dizem sempre o mesmo (das Selbe); isso, no entanto, não significa que digam sempre coisas iguais (das Gleiche). Sem dúvida, eles só o dizem a quem se empenha em repensá-los. Enquanto o pensamento, re-memorando Historicamente, preza o destino do Ser, ele já se prendeu ao destinado (das Schlickliche), que se acorda com o destino" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.
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