Trágico

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(4)
(3)
 
(24 edições intermediárias não estão sendo exibidas.)
Linha 1: Linha 1:
-
: Trágico, ver também [[Tragédia]]
+
: [[Trágico]], ver também [[Tragédia]]
== 1 ==
== 1 ==
-
: "O fracasso da [[verdade]] em ''Família Schroffenstein'' ou do [[amor]] em ''Pentisiléia'' são considerados [[acontecimentos]] [[trágicos]]. Quando se destrói a [[razão]] de uma [[existência]] humana, quando uma [[causa]] [[final]] e única cessa de [[existir]], nasce o [[trágico]]. Dito de outro modo, há no [[trágico]] a explosão do [[mundo]] de um [[homem]], de um povo ou de uma classe" (1). É em virtude dessa "explosão de [[mundo]]" que nem toda [[tragédia]] é [[trágica]], dizendo [[tragédia]] muito mais então uma [[classificação]] relativa ao [[gênero]], mas que seria muito melhor classificada como [[drama]].
+
: "O fracasso da [[verdade]] em ''Família Schroffenstein'' ou do [[amor]] em ''Pentisiléia'' são considerados [[acontecimentos]] [[trágicos]]. Quando se destrói a [[razão]] de uma [[existência]] humana, quando uma [[causa]] [[final]] e única cessa de [[existir]], nasce o [[trágico]]. Dito de outro modo, há no [[trágico]] a explosão do [[mundo]] de um [[homem]], de um povo ou de uma classe" (1).  
 +
 
 +
: É em virtude dessa "explosão de [[mundo]]" que nem toda [[tragédia]] é [[trágica]], dizendo [[tragédia]] muito mais então uma [[classificação]] relativa ao [[gênero]], mas que seria muito melhor classificada como [[drama]].
Linha 9: Linha 11:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) STAIGER, Emil. ''Conceitos fundamentais da poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 147.
+
: (1) STAIGER, Emil. '''Conceitos fundamentais da poética'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 147.
== 2 ==
== 2 ==
Linha 17: Linha 19:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) STAIGER, Emil. ''Conceitos fundamentais da poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 152.
+
: (1) STAIGER, Emil. '''Conceitos fundamentais da poética'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 152.
-
 
+
-
 
+
== 3 ==
== 3 ==
Linha 27: Linha 27:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em ''Vidas Secas''". In: -----. ''Travessia Poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 73.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em '''Vidas Secas'''". In: ---. '''Travessia Poética'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p.73.
-
 
+
-
 
+
== 4 ==
== 4 ==
-
: "Mas ao entrar no [[estado]] de [[indivíduo]], resultante da [[multiplicidade]] e [[aparência]], conhece que o [[gozo]] da [[aparência]] é falaz e retorna ao [[uno]]. Nesta [[perspectiva]], o [[trágico]] não resulta da luta do [[herói]] contra o [[destino]]. A própria [[Natureza]] é [[originária]] e [[radicalmente]] [[trágica]]. O [[mito]] [[trágico]] é a [[representação]] [[simbólica]] da [[sabedoria]] [[dionisíaca]], com a ajuda de meios [[artísticos]] [[apolíneos]] e, pelo aniquilamento destes, chega-se ao [[uno]]. O [[estado]] [[apolíneo]], pela [[aparência]], corresponde ao [[princípio]] da “[[medida]]” no sentido [[helênico]]. A [[afirmação]] do [[estado]] [[apolíneo]] repousa sobre o abismo oculto do [[mal]] e do [[conhecimento]]. O [[estado]] [[dionisíaco]] era a [[desmedida]]. Este, mostrando o [[erro]] da [[aparência]] e conduzindo os [[homens]] ao [[estado]] de identificação [[primordial]] da [[Natureza]], produz uma consolação [[metafísica]], e a [[desmedida]] revela-se também como [[verdade]]" (1).
+
: "Mas ao entrar no [[estado]] de [[indivíduo]], resultante da [[multiplicidade]] e [[aparência]], conhece que o [[gozo]] da [[aparência]] é falaz e retorna ao [[uno]]. Nesta [[perspectiva]], o [[trágico]] não resulta da luta do [[herói]] contra o [[destino]]. A própria [[Natureza]] é [[originária]] e [[radicalmente]] [[trágica]]. O [[mito]] [[trágico]] é a [[representação]] [[simbólica]] da [[sabedoria]] [[dionisíaca]], com a ajuda de meios [[artísticos]] [[apolíneos]] e, pelo aniquilamento destes, chega-se ao [[uno]]. O [[estado]] [[apolíneo]], pela [[aparência]], corresponde ao [[princípio]] da “[[medida]]” no sentido [[helênico]]. A [[afirmação]] do [[estado]] [[apolíneo]] repousa sobre o abismo oculto do [[mal]] e do [[conhecimento]]. O [[estado]] [[dionisíaco]] era a [[desmedida]]. Este, mostrando o [[erro]] da [[aparência]] e conduzindo os [[homens]] ao [[estado]] de identificação primordial da [[Natureza]], produz uma consolação [[metafísica]], e a [[desmedida]] revela-se também como [[verdade]]" (1).
:  Referência:
:  Referência:
-
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em ''Vidas Secas''". In: -----. ''Travessia Poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 78.
+
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em '''Vidas Secas'''". In: -----. '''Travessia Poética'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 78.
 +
 
 +
== 5 ==
 +
:      "Apenas um [[espírito]] [[extraordinariamente]] consequente pode vir a [[conhecer]] o [[trágico]]. Mas esse [[espírito]] será destruído por ele. Terminará [[louco]] ou suicidando-se, a menos que o cansaço cubra sua [[alma]] com uma [[sombra]] protetora. Por isso o [[trágico]] não pode ser expresso pura e diretamente na [[poesia]]. Aquele que poderia expressá-lo terá no mesmo momento deixado a esfera da [[realidade]] [[compreensível]] dos [[homens]]. A [[compreensão]] baseia-se na [[comunidade]] de um [[mundo]] [[limitado]]. Mas o [[desespero]] [[trágico]] faz justamente explodir os [[limites]] desse [[mundo]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
:      Referência:
 +
 
 +
:      (1) STAIGER, Emil. '''Conceitos fundamentais da poética'''. Rio: Tempo Brasileiro, 1969, p. 152.
 +
 
 +
== 6 ==
 +
: "Dos [[ritos]] [[dionisíacos]] nos advém os [[dramas]] satíricos e, posteriormente, as [[tragédias]], a mais profunda manifestação do embate do [[humano]] com a ''[[hýbris]]'', com a [[desmedida]]. Nesse embate o [[ser humano]] conhece a [[medida]] do [[ser feliz]] ou ter um final [[trágico]]. O que o [[trágico]] tem a ver com a [[morte]]? O que tudo isso significa?" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência bibliográfica:
 +
 
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 190.
 +
 
 +
== 7 ==
 +
: "O [[trágico]] surge porque o [[homem]] não sabe reter para si o seu [[direito]] e quer [[sempre]] mais do que seu [[direito]]. É na acolhida do [[sentido]] que se instaura em sua [[necessidade]] que se constitui o [[direito]], sendo este enviado na sua exigência de concreção [[singular]], sem que a [[visão]] comum-panorâmica seja possível. A intensidade do [[trágico]] não consiste no reconhecimento das forças irreconciliáveis, que precipita os [[homens]] na falta, no crime e na [[culpa]], mas, antes de [[tudo]], no [[fato]] de que o [[direito]], que [[legitima]] a [[existência]], emigra a toda a hora, e que [[tudo]] se plenifica no [[sentido]] onde se coloca o [[direito]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: WRUBLEVSKI, Sérgio. '''A Justiça na Antiguidade Grega''' - ''Uma Reflexão sobre Platão'', 1a. e. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 40.

Edição atual tal como 20h39min de 2 de Agosto de 2022

Trágico, ver também Tragédia

Tabela de conteúdo

1

"O fracasso da verdade em Família Schroffenstein ou do amor em Pentisiléia são considerados acontecimentos trágicos. Quando se destrói a razão de uma existência humana, quando uma causa final e única cessa de existir, nasce o trágico. Dito de outro modo, há no trágico a explosão do mundo de um homem, de um povo ou de uma classe" (1).
É em virtude dessa "explosão de mundo" que nem toda tragédia é trágica, dizendo tragédia muito mais então uma classificação relativa ao gênero, mas que seria muito melhor classificada como drama.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 147.

2

"Apenas um espírito extraordinariamente consequente pode vir a conhecer o trágico. Mas esse espírito assim consequente será destruído por ele. Terminará louco ou suicidando-se, a menos que o cansaço cubra sua alma como uma sombra protetora. Por isso o trágico não pode ser expresso pura e diretamente na poesia. Aquele que poderia expressá-lo terá no mesmo momento deixado a esfera da realidade compreensível dos homens. A compreensão baseia-se na comunidade de um mundo limitado. Mas o desespero trágico faz justamente explodir os limites desse mundo" (1).


Referência:
(1) STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 152.

3

"Pelo perguntar o homem está sempre adiante dele mesmo: o homem que pergunta radicalmente é o homem trágico: as respostas não o esgotam nem o definem: evidenciam o humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: ---. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p.73.

4

"Mas ao entrar no estado de indivíduo, resultante da multiplicidade e aparência, conhece que o gozo da aparência é falaz e retorna ao uno. Nesta perspectiva, o trágico não resulta da luta do herói contra o destino. A própria Natureza é originária e radicalmente trágica. O mito trágico é a representação simbólica da sabedoria dionisíaca, com a ajuda de meios artísticos apolíneos e, pelo aniquilamento destes, chega-se ao uno. O estado apolíneo, pela aparência, corresponde ao princípio da “medida” no sentido helênico. A afirmação do estado apolíneo repousa sobre o abismo oculto do mal e do conhecimento. O estado dionisíaco era a desmedida. Este, mostrando o erro da aparência e conduzindo os homens ao estado de identificação primordial da Natureza, produz uma consolação metafísica, e a desmedida revela-se também como verdade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: -----. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 78.

5

"Apenas um espírito extraordinariamente consequente pode vir a conhecer o trágico. Mas esse espírito será destruído por ele. Terminará louco ou suicidando-se, a menos que o cansaço cubra sua alma com uma sombra protetora. Por isso o trágico não pode ser expresso pura e diretamente na poesia. Aquele que poderia expressá-lo terá no mesmo momento deixado a esfera da realidade compreensível dos homens. A compreensão baseia-se na comunidade de um mundo limitado. Mas o desespero trágico faz justamente explodir os limites desse mundo" (1).


Referência:
(1) STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio: Tempo Brasileiro, 1969, p. 152.

6

"Dos ritos dionisíacos nos advém os dramas satíricos e, posteriormente, as tragédias, a mais profunda manifestação do embate do humano com a hýbris, com a desmedida. Nesse embate o ser humano conhece a medida do ser feliz ou ter um final trágico. O que o trágico tem a ver com a morte? O que tudo isso significa?" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 190.

7

"O trágico surge porque o homem não sabe reter para si o seu direito e quer sempre mais do que seu direito. É na acolhida do sentido que se instaura em sua necessidade que se constitui o direito, sendo este enviado na sua exigência de concreção singular, sem que a visão comum-panorâmica seja possível. A intensidade do trágico não consiste no reconhecimento das forças irreconciliáveis, que precipita os homens na falta, no crime e na culpa, mas, antes de tudo, no fato de que o direito, que legitima a existência, emigra a toda a hora, e que tudo se plenifica no sentido onde se coloca o direito" (1).


Referência:
WRUBLEVSKI, Sérgio. A Justiça na Antiguidade Grega - Uma Reflexão sobre Platão, 1a. e. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 40.
Ferramentas pessoais