Religião

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Merquior no livro ''Saudades do carnaval'' faz um estudo do Cristianismo em suas características frente à GNOSE. (1) alude às diferenças entre [[Ocidente]] e [[Oriente]]: 1ª Há no Ocidente uma predominância da ação (que tanto pode ser interna como transformação do mundo), enquanto no Oriente isso não ocorre, porque haveria uma consubstanciação com a natureza (melhor, com o real). Também no Ocidente o profetismo dá origem a uma concepção linear do tempo, ao passo que no Oriente haveria o tempo circular, cíclico, "eterno retorno do idêntico", estudado por Eliade. Evidente que Merquior não toma o ''agri'' em sua essência, mas enquanto um teorizar transformador.  
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: Merquior, no livro '''Saudades do carnaval''', faz um estudo do [[cristianismo]] em suas características frente à gnose (1). Lá, alude às [[diferenças]] entre [[Ocidente]] e [[Oriente]]: 1ª Há no [[Ocidente]] uma predominância da [[ação]] (que pode ser [[interna]] como [[transformação]] do [[mundo]]), enquanto no [[Oriente]] isso não ocorre, porque haveria uma consubstanciação com a [[natureza]] (melhor, com o [[real]]). Também no [[Ocidente]] o profetismo dá [[origem]] a uma [[concepção]] linear do [[tempo]], ao passo que no [[Oriente]] haveria o [[tempo]] [[circular]], [[cíclico]], "[[eterno]] retorno do [[idêntico]]", estudado por Eliade. Merquior não toma o [[agir]] em sua [[essência]], mas enquanto um [[teorizar]] transformador.  
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) MERQUIOR, José Guilherme. ''Saudades do carnaval''. Rio: Forense, 1972, p. 69.
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: (1) MERQUIOR, José Guilherme. '''Saudades do carnaval'''. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 69.
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: '''Ver também:'''
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: * [[Divino]]
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: * [[Sagrado]]
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: * [[Mito]]
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: * [[Deus]]
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: "O [[grego]] do período [[originário]] não quer ser salvo nem quer [[salvar]] ninguém e por isso não busca nenhum messias e nenhuma [[doutrina]] de [[salvação]]. Não tem [[religião]]. A [[língua]] grega não possui nenhuma [[palavra]] própria para [[dizer]] [[religião]]. [[Religião]] é um étimo latino e designa uma [[experiência]] romana. Mas não quer isto dizer que o grego seja [[ateu]]. Apenas seus [[deuses]] não são salvadores e sua [[experiência]] histórica não inclui nenhuma missão redentora nem individual nem racional nem universal" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A história na filosofia grega". In: ------. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 19.
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: - "Não use a palavra "[[Deus]]". Diga "[[Santidade]]". Há [[santidade]] em todas as pessoas. [[Santidade]] [[humana]]. Todo o resto são [[atributos]], disfarce, manifestação e truque. Não se pode decifrar ou capturar a [[santidade]] [[humana]]. Ao mesmo tempo... é algo que podemos pegar. Algo tangível que dura até a [[morte]]. O que acontece depois é escondido de nós. Apenas os [[poetas]], músicos e santos... é que podem descrever aquilo que podemos apenas [[discernir]]: o inconcebível. Eles viram, conheceram, compreenderam... não totalmente, mas de modo fragmentado. Para mim é um conforto [[pensar]] na [[santidade]] [[humana]]" (1).
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: (1) Ingmar Bergman. No filme '''A ilha de Bergman''', de Marie Nyreröd. Bergman escolhe essa fala de um bispo, tio Jakob, personagem do filme '''Confições privadas''', roteiro de Bergman e dirigido por Liv Ullmann, para dizer, sinteticamente, o que ele pensa a propósito dos temas religiosos de seus filmes.
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: "Aquém de todo [[antropomorfismo]] e de todo [[antropocentrismo]], aquém de todo [[politeísmo]] e de todo [[monoteísmo]], aquém de todo [[materialismo]]  e de todo [[ateísmo]], o que se impõe e importa [[pensar]] hoje é a [[referência]] [[originária]] do [[homem]] à [[divindade]]. É o [[sentido]] cairológico das [[diferentes]] [[figuras]] [[históricas]] de que ela se cobriu tanto nas [[religiões]] da [[Natureza]] como nas [[religiões]] do [[Espírito]], tanto nas [[religiões]] da [[Substância]] como nas [[religiões]] do [[Sujeito]], tanto nas [[religiões]] do [[Absoluto]] como nas [[religiões]] do [[Absurdo]]. E dentro desta [[perspectiva]] é [[possível]] [[perguntar]] se a precipitação do [[Divino]] na [[representação]] [[metafísica]] de um só [[Deus]] não afundou ainda mais o [[mundo]] no [[esquecimento]] do [[Ser]] e do [[Sagrado]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Aprendendo a pensar I'''. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 216.

Edição atual tal como 00h57min de 21 de janeiro de 2024

1

Merquior, no livro Saudades do carnaval, faz um estudo do cristianismo em suas características frente à gnose (1). Lá, alude às diferenças entre Ocidente e Oriente: 1ª Há no Ocidente uma predominância da ação (que pode ser interna como transformação do mundo), enquanto no Oriente isso não ocorre, porque haveria uma consubstanciação com a natureza (melhor, com o real). Também no Ocidente o profetismo dá origem a uma concepção linear do tempo, ao passo que no Oriente haveria o tempo circular, cíclico, "eterno retorno do idêntico", estudado por Eliade. Merquior não toma o agir em sua essência, mas enquanto um teorizar transformador.
- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) MERQUIOR, José Guilherme. Saudades do carnaval. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 69.


Ver também:
* Divino
* Sagrado
* Mito
* Deus

2

"O grego do período originário não quer ser salvo nem quer salvar ninguém e por isso não busca nenhum messias e nenhuma doutrina de salvação. Não tem religião. A língua grega não possui nenhuma palavra própria para dizer religião. Religião é um étimo latino e designa uma experiência romana. Mas não quer isto dizer que o grego seja ateu. Apenas seus deuses não são salvadores e sua experiência histórica não inclui nenhuma missão redentora nem individual nem racional nem universal" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A história na filosofia grega". In: ------. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 19.

3

- "Acredita em Deus, tio Jakob? Um Pai do Céu, um Deus do Amor? Um Deus com mãos, um coração e olhar vigilante?"
- "Não use a palavra "Deus". Diga "Santidade". Há santidade em todas as pessoas. Santidade humana. Todo o resto são atributos, disfarce, manifestação e truque. Não se pode decifrar ou capturar a santidade humana. Ao mesmo tempo... é algo que podemos pegar. Algo tangível que dura até a morte. O que acontece depois é escondido de nós. Apenas os poetas, músicos e santos... é que podem descrever aquilo que podemos apenas discernir: o inconcebível. Eles viram, conheceram, compreenderam... não totalmente, mas de modo fragmentado. Para mim é um conforto pensar na santidade humana" (1).
Referência:
(1) Ingmar Bergman. No filme A ilha de Bergman, de Marie Nyreröd. Bergman escolhe essa fala de um bispo, tio Jakob, personagem do filme Confições privadas, roteiro de Bergman e dirigido por Liv Ullmann, para dizer, sinteticamente, o que ele pensa a propósito dos temas religiosos de seus filmes.

4

"Aquém de todo antropomorfismo e de todo antropocentrismo, aquém de todo politeísmo e de todo monoteísmo, aquém de todo materialismo e de todo ateísmo, o que se impõe e importa pensar hoje é a referência originária do homem à divindade. É o sentido cairológico das diferentes figuras históricas de que ela se cobriu tanto nas religiões da Natureza como nas religiões do Espírito, tanto nas religiões da Substância como nas religiões do Sujeito, tanto nas religiões do Absoluto como nas religiões do Absurdo. E dentro desta perspectiva é possível perguntar se a precipitação do Divino na representação metafísica de um só Deus não afundou ainda mais o mundo no esquecimento do Ser e do Sagrado" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 216.