Pergunta

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 15h55min de 16 de Abril de 2014 por Fábio (Discussão | contribs)

1

"O que é real? E ela não sabia como responder. Às cegas teria que pedir. Mas ela queria que, se fosse às cegas, pelo menos entendesse o que pedisse. Ela sabia que não devia pedir o impossível: a resposta não se pede. A grande resposta não nos era dada. É perigoso mexer com a grande resposta." (1)


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, pp. 56-57.


2

Todo perguntar eclode do questionar. Neste já estamos desde sempre pré-lançados. Por isso quando perguntamos queremos saber a partir do que já nos está dado no questionar. Toda pergunta exercita assim um saber e um não-saber. Só perguntamos porque não sabemos. Por outro lado, se absolutamente não soubéssemos nada, jamais poderíamos perguntar, porque todo perguntar pergunta porque quer saber algo. Mas o que acontece quando perguntamos pelo perguntar? Só perguntamos porque já nos movemos na clareira do ser, no questionar. "Quando se pergunta o que é perguntar, não há dissociação entre a pergunta e o perguntado. O perguntar se inclui no perguntado. Já não é possível instalar-se fora da pergunta. Resta apenas a alternativa de perguntar ou não perguntar. Quando pergunto, só pergunto por já estar dentro da pergunta. O perguntar e o perguntado não se excluem, mas se incluem mutuamente" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. In: "Definições da filosofia". Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 130/131, 1997, p. 153.


3

"...o homem é este estranho espécime que pergunta. Este estranho espécime, cuja devoção é perguntar. E isso porque pensa. Quer dizer, não só porque , mas, sobrtudo, porque vê que vê! Toda pergunta é eco, ressonância desse desconcerto" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. Liberdade e criação. In: Revista Aisthe, No. 1, 2007, p. 30.


4

"Unicamente o homem é capaz de perguntar. Ele sabe e não sabe. Este saber e não-saber, se fecundam mutuamente, porque o homem já sempre está mais adiante do que onde ele está agora. Ele é existência. Está aberto ao horizonte de um mistério infinito. Este mistério, por ser infinito é inesgotável para o homem e também precisamente por ser infinito ele é também mistério para o homem. Ora, na penetração deste mistério infinito são possíveis infinitas perguntas, pois o mistério é justamente algo de que sabemos, mas que também não sabemos tudo e onde nosso não saber é fecundado pelo pré-saber que nos indica a direção, a meta, através da abertura que temos para o infinito. Unicamente de uma tal situação pode surgir uma pergunta. E esta é a situação própria do homem" (1).


Referência:
(1) HUMMES, Cláudio. Metafísica. Mímeo. Daltro Filho/Imigrantes/RS, 1963.

5

procura verdadeiramente o homem que pergunta. Daí a questão fundar a pergunta e a resposta. Estas acontecem num círculo originário, onde o fim implica o início e este o fim. A pergunta extrai sua força e vigor, tem origem nas questões. Sem questão não há pergunta. Por isso podemos caracterizar o ser humano como sendo aquele que faz perguntas. E há outro "ente" que pergunte? Não.


- Manuel Antônio de Castro


6

Toda pergunta surge o exercício do questionar. A pergunta pode exercer-se em dois horizontes: o do pensamento e o do conhecimento. Quando se pergunta para conhecer, procura-se uma resposta que aumente o conhecimento e nos traga mais informações sobre o objeto da pergunta. E aí a resposta desfaz a pergunta. Tal pergunta surge quando nos dedicamos ao estudo e nos conduz a um aprendizado. Quando se pergunta para pensar, a resposta, em vez de me trazer um conhecimento, reinstala a questão, que originou a pergunta, em outro nível, como se desse um passo para reintalar não mais saber, mas o não-saber. Esse é o exercício da aprendizagem do aprender a pensar. O aprender a pensar é aquele questionar que nos liberta para o desaprender. Nesse nível todo desaprender é em essência sempre uma renúncia, onde esta não tira, dá, porque liberta para ser sem a prisão de algo que já sabemos e não somos. Ser é ser sem limites e sem estar preso a algo.


- Manuel Antônio de Castro
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