Obra

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 22h16min de 14 de Abril de 2017 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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A obra não é, opera, mas só opera enquanto é. Um tal operar no qual ela consiste se dá enquanto linguagem e verdade. Como a linguagem e a verdade não são, mas dão-se, uma tal doação nos advém como imagem-questão e sintaxe-questão ou poética. Quando digo que a obra não é, quero acentuar sua dimensão verbal. Nesse sentido, um tal verbal lhe advém do ser. Por isso, o que a phýsis destina à ação do homem para ser, não consiste num ente como, por exemplo, todo sendo-ser dotado de um código genético. Mas este código genético não dá a substantividade objetual, mas a singularidade do sendo na dinâmica da ciranda. O encontro do ón seja como código genético, seja como obra/ instrumento está no fato de o ser ser sempre verbal e fundar o hèn pánta. A instrumentalidade/intensidade objetual vem da obra e na dimensão da obra dentro da sintaxe-poética. Nesta, como ciranda, tudo se harmoniza na medida dos quatro.
No fundo, trata-se apenas de uma questão: sair do caráter substantivo/subjetivo a que a metafísica reduziu o ser e que a tradução latina só fez acentuar. Por isso, toda questão do enigma do ser não está no ser, mas no seu destinar-se no ser humano, daí a insistência da ligação de obra de arte ao ser humano não enquanto o ser humano a produz, mas enquanto um tal destino produz como cura o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


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A palavra obra, do latim opus, operis, do verbo operar, se diz em alemão Werk. "Operar", wirken, pertence à raiz indo-européia uerg, de onde provém a palavra "obra", "Werk", e o grego érgon. Para ver o que é ergon para Aristóteles, cf. (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 42-3.


Ver também:


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"Pode-se alegar que um texto não passa da realização de um discurso em uma ordem sintática coesa e coerente. Não basta coesão e coerência sintática, toda obra de arte vai além disso. Uma obra só é obra se, em sua constituição originária, opera. O operar de toda obra exige e solicita um diálogo, não qualquer diálogo, mas um diálogo poético. Neste somos provocados a nos deixarmos tomar pelo nada criativo a partir do qual toda obra de arte opera" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 225.


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"A moral tende ao estático e estabelecido, ao sistema auto-referenciado. É bem o contrário da ética, onde o essencial é o poético. Não há ético sem poético e não há poético sem ético. E é isso que desde sempre se denominou obra de arte, se pusermos em primeiro lugar o que a palavra “obra” diz, aliás, o mesmo que poético no grego: o que age, o que faz acontecer, o que realiza. É necessário pensar a essência do agir, horizonte onde nos aparece a condição humana" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O humano, o poético e a contracultura". In: www.travessiapoetica.Blogspot.com.


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"... não podemos confundir “obra” nem com suporte material, escrito ou oral, nem com o discurso entendido gramatical ou até ficcionalmente, e muito menos com objeto ou forma estética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.


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língua como corpo vivo que é mundo é que denomino vocabulário. A grande diferença que aí acontece está em que mundo passa a ser o sentido do ser. Sentido se constitui então no sangue do corpo vivo, porque nele o ser acontece permanentemente. Surpreender numa obra o seu vocabulário não é uma tarefa gramatical, nem semântica, nem lexical, nem sintática. É poética, enquanto corpo vivo; mundo, enquanto sentido. Este não provém do vocabulário, mas do logon [[ver logos] do ser, da voz do sagrado. Logon [[ver logos] mais do que vocabulário é sentido".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.
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