Liberdade
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 07h08min de 23 de Abril de 2015 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- "O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.
- Ver também:
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- Somos possibilidades de e para possibilidades. E como possibilidades somos agir ontológico. Este agir é que manifesta o que já somos e por isso não acrescenta nem pode acrescentar nada. Dá sentido ao que já somos. E a adveniência desse sentido consiste em nos deixarmos libertar para o agir da verdade e para o agir da linguagem. A liberdade não é uma questão de vontade de negação ou vitória sobre o que se nos opõe. Isso é aparente e passageiro, meramente entitativo. A liberdade é, sim, deixar-se tomar pelo agir do pensar no qual e dentro do qual o que somos chega ao saber do sentido da luz, ou seja, ao sentido da verdade e da linguagem. Por isso, verdade é sentido e não certeza ou incerteza a respeito de algo externo e meramente entitativo. Só o sentido liberta porque sentido é ação ontológica. Sentido, enfim, é saber-se sendo o que já desde sempre somos.
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- Não há, não houve e nunca haverá qualquer modelo, qualquer arquétipo, qualquer suporte, qualquer paradigma, qualquer teoria que consiga enclausurar a experiência amorosa que é viver e experienciar a liberdade de viver, tendo como horizonte de sentido permanente a morte. Viver é tornar-se, construir-se livre, ser livre poeticamente, mas uma liberdade que encontra seu vigor e sentido na morte, não na pretensa liberdade da vontade e do querer subjetivo. Como exercer a razão crítica em relação ao que não se sabe nem pode caber na consciência? Não há identidades culturais, ideológicas, formais, religiosas, políticas que possam prescrever o que só cuidando livremente podemos realizar sempre inauguralmente como atualidade e permanência do poético, da poética: apropriar-nos do que nos é próprio. Isto é a essência originária do humano em sua vigência na liberdade. Toda travessia é travessia de libertação em seu acontecer poético.