Cultura
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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| + | : Procura-se fazer nesse capítulo do livro ("O [[fenômeno]] cultural")uma reflexão ampla e essencial do que se [[compreender]] por cultura. Eis uma [[questão]] extremamente complexa e que se relaciona com outras questões [[essenciais]], geralmente deixada entregue às [[definições]] e [[compreensões]] meramente sociológicas ou antropológicas. Nestas já se parte de uma [[posição]] prévia que não leva em consideração o que há de [[essencial]] no [[fenômeno]] cultural. Claro que são importantes tais considerações, mas insuficientes, uma vez que não tematizam o que é a cultura em sua [[essência]]. Igualmente são insuficientes as reflexões psicológicas. Para que se compreenda um pouco esta nossa crítica, leve-se em consideração que Freud, o grande criador da psicanálise, não partiu de reflexões da psicologia da sua época, mas, sim, do [[mito]] de Édipo, narrado na [[tragédia]] de Sófocles: ''Rei Édipo''. E ele consegue no início do século XX fazer uma [[leitura]] original dessa obra-prima, escrita há 2.400 anos (2). | ||
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| + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. ''O acontecer poético - a história literária'' 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19. | ||
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético - a história literária''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 35. | :(1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético - a história literária''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 35. | ||
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Edição de 14h17min de 29 de Dezembro de 2016
1
- "Pois que é a cultura? Eu sempre acreditei que era o ciclo que o Indivíduo percorria para chegar ao conhecimento de si próprio; e aquele que recusa segui-lo obtém um muito magro proveito de ter nascido na mais preclara das épocas" (1).
- Referência:
- (1) KIERKEGAARD, Sören. Temor e tremor. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 62.
2
- "Toda cultura resulta de uma conjuntura. Nela o homem se hominiza. Um famoso filme abordou essa situação de uma maneira admirável: 2001: uma odisseia no espaço, de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande época tem sua epopeia. e esta é, sem dúvida nenhuma, a epopeia da tematização, celebração e crítica angustiada da era da Técnica. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na linguagem cinematográfica. Nela, a epopeia reencontra o caráter essencial do narrar" (1).
- Procura-se fazer nesse capítulo do livro ("O fenômeno cultural")uma reflexão ampla e essencial do que se compreender por cultura. Eis uma questão extremamente complexa e que se relaciona com outras questões essenciais, geralmente deixada entregue às definições e compreensões meramente sociológicas ou antropológicas. Nestas já se parte de uma posição prévia que não leva em consideração o que há de essencial no fenômeno cultural. Claro que são importantes tais considerações, mas insuficientes, uma vez que não tematizam o que é a cultura em sua essência. Igualmente são insuficientes as reflexões psicológicas. Para que se compreenda um pouco esta nossa crítica, leve-se em consideração que Freud, o grande criador da psicanálise, não partiu de reflexões da psicologia da sua época, mas, sim, do mito de Édipo, narrado na tragédia de Sófocles: Rei Édipo. E ele consegue no início do século XX fazer uma leitura original dessa obra-prima, escrita há 2.400 anos (2).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. O acontecer poético - a história literária 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
- (2) - Manuel Antônio de Castro.
3
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 35.
3
- "O homem cuida do crescimento das coisas da terra e colhe o que ali cresce. Cuidar e colher (colere, cultura) é um modo de construir. O homem constrói não apenas o que se desdobra a partir de si mesmo num crescimento. Ele também constrói no sentido de aedificare, edificando o que não pode surgir e manter-se mediante um crescimento. Construídas e edificadas são, nesse sentido, não somente as construções, mas todos os trabalhos feitos com a mão e instaurados pelo homem. No entanto, os méritos dessas múltiplas construções nunca conseguem preencher a essência do habitar. Ao contrário: elas chegam mesmo a vedar para o habitar a sua essência, tão logo sejam perseguidas e conquistadas somente com vistas a elas mesmas" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". In: ----------. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, pp. 168-9.
- Ver Também:
4
- "Mas o que permanece os poetas o fundam", Hölderlin (1).
- Por que a essência da poesia não pode ser apreendida em relação à cultura? Aí há dois caminhos. Pelo primeiro se fundamenta a cultura na essência da linguagem. Nessa dimensão, as culturas são manifestações da linguagem e, portanto, todas provêm de um mesmo genos, ou seja, da tensão phýsis/lógos. Pelo segundo se considera a cultura na sua diferença, como uma construção como língua, a partir da linguagem. Neste caso, não se pode apreender a essência da poesia a partir da língua, mas sempre a partir da linguagem. Então, a essência da poesia não se fundamenta na cultura. Pelo contrário, pois são as culturas que surgem a partir da essência da poesia. Sendo assim, não podemos apreendê-la partindo de uma ou outra cultura, embora sempre de imediato tenhamos uma língua como o rito da linguagem. Pois é a linguagem como mito que dá origem (memória) aos ritos, ou seja, às línguas e, portanto, às culturas.
- Referência:
- (1) Citado por Martin Heidegger. In: ______. Hölderlin und das Wesen der Dichtung. In: Erläuterungen zu Hölderlin Dichtung. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1971, p. 33.
