Epifania
De Dicionrio de Potica e Pensamento
(Diferença entre revisões)
(→2) |
(→4) |
||
(14 edições intermediárias não estão sendo exibidas.) | |||
Linha 1: | Linha 1: | ||
== 1 == | == 1 == | ||
- | : Não há [[clareira]] sem floresta, porém a floresta aparece como floresta na [[medida]] em que se retira e se deixa [[ver]], [[perceber]], [[manifestar]], isto é, vir à [[luz]], iluminar-se, na [[clareira]]. Eis a [[verdade]] como ''[[aletheia]]'': [[revelação]], [[desvelamento]], [[manifestação]] do [[ser]]. Nisso consiste e acontece a sua [[verdade]]. Toda [[revelação]] é uma [[epifania]], pois esta [[palavra]] diz o [[aparecer]], o [[manifestar-se]] do [[divino]], do [[ser]]. Daí o caráter [[sagrado]] da [[verdade]] em [[grego]], ou seja, [[aletheia]]. | + | : Não há [[clareira]] sem [[floresta]], porém a [[floresta]] aparece como [[floresta]] na [[medida]] em que se retira e se deixa [[ver]], [[perceber]], [[manifestar]], isto é, vir à [[luz]], [[iluminar-se]], na [[clareira]]. Eis a [[verdade]] como ''[[aletheia]]'': [[revelação]], [[desvelamento]], [[manifestação]] do [[ser]]. Nisso consiste e acontece a sua [[verdade]]. Toda [[revelação]] é uma [[epifania]], pois esta [[palavra]] diz o [[aparecer]], o [[manifestar-se]] do [[divino]], do [[ser]]. Daí o caráter [[sagrado]] da [[verdade]] em [[grego]], ou seja, [[aletheia]]. |
Linha 6: | Linha 6: | ||
== 2 == | == 2 == | ||
- | : - "Acredita em [[Deus]], tio Jakob? Um Pai do Céu, um [[Deus]] do [[Amor]]? Um [[Deus]] com mãos, um [[coração]] e [[olhar]] vigilante?" | + | : - "Acredita em [[Deus]], tio Jakob? Um [[Pai]] do [[Céu]], um [[Deus]] do [[Amor]]? Um [[Deus]] com mãos, um [[coração]] e [[olhar]] vigilante?" |
- | : - "Não use a [[palavra]] "[[Deus]]". Diga "[[Santidade]]". Há [[santidade]] em todas as [[pessoas]]. [[Santidade]] [[humana]]. Todo o resto são [[atributos]], disfarce, [[manifestação]] e truque. Não se pode decifrar ou capturar a [[santidade]] [[humana]]. Ao mesmo tempo... é [[algo]] que podemos pegar. [[Algo]] tangível que dura até a [[morte]]. O que [[acontece]] depois é escondido de nós. Apenas os [[poetas]], [[músicos]] e [[santos]]... é que podem descrever aquilo que | + | : - "Não use a [[palavra]] "[[Deus]]". Diga "[[Santidade]]". Há [[santidade]] em todas as [[pessoas]]. [[Santidade]] [[humana]]. Todo o resto são [[atributos]], disfarce, [[manifestação]] e truque. Não se pode decifrar ou capturar a [[santidade]] [[humana]]. Ao mesmo tempo... é [[algo]] que podemos pegar. [[Algo]] tangível que dura até a [[morte]]. O que [[acontece]] depois é escondido de nós. Apenas os [[poetas]], [[músicos]] e [[santos]]... é que podem descrever aquilo que podemos apenas [[discernir]]: o inconcebível. Eles viram, conheceram, [[compreenderam]]... não totalmente, mas de modo fragmentado. Para mim é um conforto [[pensar]] na [[santidade]] [[humana]]" (1). |
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) Ingmar [[Bergman]].''' No [[filme]] A ilha de [[Bergman]], de Marie Nyreröd. [[Bergman]] escolhe essa [[fala]] de um | + | : (1) Ingmar [[Bergman]].''' No [[filme]] A ilha de [[Bergman]], de Marie Nyreröd. [[Bergman]] escolhe essa [[fala]] de um bispo, tio Jakob, [[personagem]] do [[filme]] Confições privadas, roteiro de [[Bergman]] e dirigido por Liv Ullmann, para [[dizer]], sinteticamente, o que ele [[pensa]] a propósito dos [[temas]] [[religiosos]] de seus [[filmes]].''' |
== 3 == | == 3 == | ||
- | : Toda [[revelação]] é uma [[epifania]], pois esta [[palavra]] diz o [[aparecer]], o [[manifestar-se]] do [[divino]], do [[sagrado]], do que é [[santo]] do [[ser]]. Daí o caráter [[sagrado]] da [[verdade]] em grego, ou seja, [[aletheia]]. | + | : Toda [[revelação]] é uma [[epifania]], pois esta [[palavra]] diz o [[aparecer]], o [[manifestar-se]] do [[divino]], do [[sagrado]], do que é [[santo]] do [[ser]]. Daí o caráter [[sagrado]] da [[verdade]] em [[grego]], ou seja, [[aletheia]]. |
Edição atual tal como 21h43min de 17 de Maio de 2025
Tabela de conteúdo |
1
- Não há clareira sem floresta, porém a floresta aparece como floresta na medida em que se retira e se deixa ver, perceber, manifestar, isto é, vir à luz, iluminar-se, na clareira. Eis a verdade como aletheia: revelação, desvelamento, manifestação do ser. Nisso consiste e acontece a sua verdade. Toda revelação é uma epifania, pois esta palavra diz o aparecer, o manifestar-se do divino, do ser. Daí o caráter sagrado da verdade em grego, ou seja, aletheia.
2
- - "Acredita em Deus, tio Jakob? Um Pai do Céu, um Deus do Amor? Um Deus com mãos, um coração e olhar vigilante?"
- - "Não use a palavra "Deus". Diga "Santidade". Há santidade em todas as pessoas. Santidade humana. Todo o resto são atributos, disfarce, manifestação e truque. Não se pode decifrar ou capturar a santidade humana. Ao mesmo tempo... é algo que podemos pegar. Algo tangível que dura até a morte. O que acontece depois é escondido de nós. Apenas os poetas, músicos e santos... é que podem descrever aquilo que podemos apenas discernir: o inconcebível. Eles viram, conheceram, compreenderam... não totalmente, mas de modo fragmentado. Para mim é um conforto pensar na santidade humana" (1).
- Referência:
- (1) Ingmar Bergman. No filme A ilha de Bergman, de Marie Nyreröd. Bergman escolhe essa fala de um bispo, tio Jakob, personagem do filme Confições privadas, roteiro de Bergman e dirigido por Liv Ullmann, para dizer, sinteticamente, o que ele pensa a propósito dos temas religiosos de seus filmes.
3
- Toda revelação é uma epifania, pois esta palavra diz o aparecer, o manifestar-se do divino, do sagrado, do que é santo do ser. Daí o caráter sagrado da verdade em grego, ou seja, aletheia.
4
- " Devemos compreender epi-fania no seu sentido grego, de onde se forma a palavra. Epi- é advir para o livre aberto em uma clareira que de repente se abre no e pelo vigorar da energia irradiante. Esse abrir é o que diz o radical grego –fania, formado do verbo phaino, aparecer, vir à luz, manifestar-se, desvelar-se como verdade, a-létheia " (1).
- Referência: