Movimento
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : Todos estes [[movimentos]], especialmente o último, que é o mais [[profundo]] e [[radical]], perturbam e inquietam o [[homem]] [[grego]], porque tornam problemático o [[ser]] das [[coisas]], mergulham-no na [[incerteza]], de tal forma que não sabe a que ater-se, em relação a elas. Se as [[coisas]] mudam, o que serão na [[verdade]]? (1). Estes [[movimentos]] remetem para muitas [[questões]], sobretudo [[tempo]], [[fenômeno]], [[representação]], [[cinema]], [[imagem]], processo, [[visão]]. A [[palavra]] [[cinema]] vem diretamente da [[palavra]] [[grega]] que diz [[movimento]]: ''kinesis''. | + | : Todos estes [[movimentos]], especialmente o último, que é o mais [[profundo]] e [[radical]], perturbam e inquietam o [[homem]] [[grego]], porque tornam problemático o [[ser]] das [[coisas]], mergulham-no na [[incerteza]], de tal forma que não sabe a que ater-se, em relação a elas. Se as [[coisas]] mudam, o que serão na [[verdade]]?" (1). |
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- | : "[[Circe]] é a “‘[[deusa]] das [[deusas]]’, ‘a filha do [[sol]]’, cujo [[nome]] remete a ''kirkos'', e que os escólios identificam com o anel ou [[círculo]] da [[natureza]] poderosa que reúne [[vida]] e [[morte]], nascimento e destruição num [[eterno]] [[movimento]], ou com o [[movimento]] [[circular]] do [[universo]]” (Schuback: 1999, 166) (1). No verso 150, do mesmo [[canto]], assim [[Ulisses]] caracteriza [[Circe]]: | + | : "[[Circe]] é a “‘[[deusa]] das [[deusas]]’, ‘a filha do [[sol]]’, cujo [[nome]] remete a ''kirkos'', e que os escólios identificam com o anel ou [[círculo]] da [[natureza]] poderosa que reúne [[vida]] e [[morte]], [[nascimento]] e destruição num [[eterno]] [[movimento]], ou com o [[movimento]] [[circular]] do [[universo]]” (Schuback: 1999, 166) (1). |
+ | : No verso 150, do mesmo [[canto]], assim [[Ulisses]] caracteriza [[Circe]]: | ||
- | : | + | : [[Circe]], de tranças bem feitas, canora e terrível [[deidade]]. (Homero: 1960, 183)"(2). |
+ | : Estas duas passagens fazem parte do meu [[ensaio]] sobre [[Ulisses]]: "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]" (3). | ||
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- | : ( | + | : (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante (Org.).''' "As cordas serenas de [[Ulisses]]". In: [[Ensaios]] de [[filosofia]]. Petrópolis R/J: Vozes, 1999.''' |
- | : (3) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das | + | : (2) HOMERO. '''Odisseia. 3.e. Trad. Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Melhoramentos, 1960.''' |
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+ | : (3) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.''' | ||
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- | : "Ora, um [[princípio]] constitui algo | + | : "Ora, um [[princípio]] constitui algo inato, pois é a partir de um [[princípio]] que [[necessariamente]] assume [[existência]] [[tudo]] aquilo que existe, ao passo que o [[princípio]] não provém de [[coisa]] alguma, pois, se começasse a [[ser]] partindo de qualquer outra [[fonte]], não seria [[princípio]]. Por outro lado, como não proveio de uma [[geração]], não se encontra [[sujeito]] à corrupção, pois é [[evidente]] que, uma vez o [[princípio]] anulado, jamais poderia gerar-se nele, porque ele é [[princípio]] e [[tudo]] provém [[necessariamente]] desse [[princípio]]. Podemos então concluir que o [[princípio]] do [[movimento]] é o que a si mesmo se move e por isso não pode ser anulado, nem pode [[ter]] começado a [[existir]], pois, de outra maneira, todo o [[universo]], todas as [[gerações]] parariam e jamais poderiam voltar a [[ser]] movidas a encontrar um ponto de partida para a [[existência]]" (1). |
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+ | : (1) [[PLATÃO]]. '''Fedro, 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d.''' | ||
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+ | : "Os [[celtas]] entendiam que o [[movimento]] é a [[realidade]] suprema: o fluxo dá [[significado]] à [[vida]]. Nas [[palavras]] de um [[filósofo]] [[grego]]: | ||
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+ | : ''Ninguém se banha no [[mesmo]] [[rio]] duas vezes'' " (1). | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) | + | : (1) HOOD, Juliette.''' "Como [[Viver]] e como [[Morrer]]". O [[livro]] [[celta]] da [[vida]] e da [[morte]]. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora [[Pensamento]], 2011, p. 67.''' |
Edição atual tal como 19h56min de 28 de março de 2025
Tabela de conteúdo |
1
- "O grego estranha o movimento. O movimento assombra-o. Que é que isto quer dizer? Movimento (kynesis) tem em grego um sentido mais amplo que nas nossas línguas. Equivale a mudança ou variação. O que nós chamamos de movimento é apenas uma forma particular de kynesis. Distinguem-se quatro tipos de movimento:
- 1o. - o movimento local (phorá), a mudança de lugar;
- 2o. - o movimento quantitativo, isto é, o aumento e a diminuição (hauksesis kai phthisis);
- 3o. - o movimento qualitativo ou alteração (alloiosis);
- 4o. - o movimento substancial, isto é: a geração e a corrupção (genesis kai phtorá).
- Todos estes movimentos, especialmente o último, que é o mais profundo e radical, perturbam e inquietam o homem grego, porque tornam problemático o ser das coisas, mergulham-no na incerteza, de tal forma que não sabe a que ater-se, em relação a elas. Se as coisas mudam, o que serão na verdade?" (1).
- Estes movimentos remetem para muitas questões, sobretudo tempo, fenômeno, representação, cinema, imagem, processo, visão. A palavra cinema vem diretamente da palavra grega que diz movimento: kinesis.
- Referência:
- (1) MARÍAS, Julián. História da filosofia. 3.e. Trad.: Alexandre Pinheiro Torres. Porto (Portugal): Sousa & Almeida, 1973, p. 34.
2
- "Circe é a “‘deusa das deusas’, ‘a filha do sol’, cujo nome remete a kirkos, e que os escólios identificam com o anel ou círculo da natureza poderosa que reúne vida e morte, nascimento e destruição num eterno movimento, ou com o movimento circular do universo” (Schuback: 1999, 166) (1).
- No verso 150, do mesmo canto, assim Ulisses caracteriza Circe:
- Estas duas passagens fazem parte do meu ensaio sobre Ulisses: "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias" (3).
- Referências:
- (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante (Org.). "As cordas serenas de Ulisses". In: Ensaios de filosofia. Petrópolis R/J: Vozes, 1999.
- (2) HOMERO. Odisseia. 3.e. Trad. Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Melhoramentos, 1960.
- (3) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
3
- "Ora, um princípio constitui algo inato, pois é a partir de um princípio que necessariamente assume existência tudo aquilo que existe, ao passo que o princípio não provém de coisa alguma, pois, se começasse a ser partindo de qualquer outra fonte, não seria princípio. Por outro lado, como não proveio de uma geração, não se encontra sujeito à corrupção, pois é evidente que, uma vez o princípio anulado, jamais poderia gerar-se nele, porque ele é princípio e tudo provém necessariamente desse princípio. Podemos então concluir que o princípio do movimento é o que a si mesmo se move e por isso não pode ser anulado, nem pode ter começado a existir, pois, de outra maneira, todo o universo, todas as gerações parariam e jamais poderiam voltar a ser movidas a encontrar um ponto de partida para a existência" (1).
- Referência:
- (1) PLATÃO. Fedro, 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d.
4
- "Os celtas entendiam que o movimento é a realidade suprema: o fluxo dá significado à vida. Nas palavras de um filósofo grego:
- Referência: