Signo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:[[Conotação]] é o signo que, como significante e [[significado]], além deste significado enquanto denotação, ainda tem um outro significado não diretamente notado e assinalado, mas que se dá na reunião da realidade denotada com a realidade conotada. Etimologicamente tanto denotação como conotação são sím-bolos. O signo (obra-texto) representação que é um objeto e que como significante, além do seu significado enquanto representação, ainda tem uma outra representação que é o símbolo. Se o signo está mais diretamente ligado a sintomas, enquanto corpo que procura a [[linguagem]]: psicanálise concebida como sintoma e signo, o objeto-representação está mais diretamente ligado à imaginação que procura a realidade. Resta a questão: sintoma é, mas de que é sintoma? Imaginação é, mas de que é imaginação? Signo é, mas de que é significante e significado? Símbolo é, mas de que é símbolo? Como ficam todos esses conceitos se o que é se mostrando como aparecimento e aparência é e não é, como é e como não é?
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: [[Conotação]] é o signo que, como [[significante]] e [[significado]], além deste significado enquanto [[denotação]], ainda tem um outro significado não diretamente notado e assinalado, mas que se dá na reunião da realidade denotada com a realidade conotada. Etimologicamente, tanto denotação como conotação são sím-bolos. O signo (obra-texto) representação que é um objeto e que como significante, além do seu significado enquanto representação, ainda tem uma outra representação que é o símbolo. Se o signo está mais diretamente ligado a sintomas, enquanto corpo que procura a [[linguagem]]: psicanálise concebida como sintoma e signo, o objeto-representação está mais diretamente ligado à [[imaginação]] que procura a realidade. Resta a questão: sintoma é, mas de que é sintoma? Imaginação é, mas de que é imaginação? Signo é, mas de que é significante e significado? Símbolo é, mas de que é símbolo? Como ficam todos esses conceitos se o que é se mostrando como aparecimento e aparência é e não é, como é e como não é?
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:O que é o signo? Até onde vai sua consistência, sua substância? Não podemos achar que por o signo ser algo este algo que é no signo de seus traços. Por exemplo, numa fala, não são os traços fônicos que constituem o que o signo é. Quando assim é considerado, acontece uma dupla abstração. A primeira diz respeito à relação dentro da qual qualquer signo é signo. Cada signo é não só signo de, mas também é signo para alguém. A segunda abstração é mais profunda, porque originada na metafísica. O signo como tal se constitui como significado a partir da linguagem mas dentro da linguagem como um código. A primeira abstração consiste em considerar o signo como signo sem o código. Já a segunda silencia o sentido. Porém é na sintaxe poética do sentido que o signo é signo. Ou seja, a partir do sentido que funda o signo, o eu que o usa e o para quê o usa (supondo implicitamente sempre um outro eu) é que o signo se pode tornar significado. O sentido é a linguagem. O significado é o uso da linguagem como instrumento comunicativo. a semiologia trata do signo como signo ou seja da linguagem como instrumento. Por isso jamais ela pensa o velado do véu que é todo signo. A semiologia vive as peripécias do véu sem pensar o vazio insignificado e insignificante do silêncio como sentido de todo significado. A semiologia como estudo e ciência do significado diz respeito aos traços concretizantes na medida em que estes constituem correntes de significados mas sem jamais se voltar para a nascente, sentido de todo rio e correnteza. A semiologia chega até à ambigüidade do véu mas sem jamais adentrar a ambigüidade do velado, porque aí deixaria de ser semiologia como significado de códigos para ser um pensar a poesia como sentido da linguagem, o que em todo desvelamento se vela.
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: O [[signo]] é um [[véu]]. O véu é um [[signo]]. Mas véu e [[signo]] [[signam]] e [[velam]] a partir do assinalado e do [[velado]] que se doa como [[signo]] e [[véu]] na [[clareira]]. A partir da [[clareira]], o [[velar]] se [[doação|doa]] como véu e signo o que se desvela como [[assinalar]] e ao mesmo tempo assinala o [[velar]] como [[véu]]. O [[signo]] e o [[véu]] não são ''[[homoíosis]]'' de nada. O des-velo e excessividade amorosa do [[nada]] é que se presentifica como [[signo]] e [[véu]]. Nesse sentido, a partir do nada, o signo e o véu são criptofânicos. É o que nos diz Heráclito no frag. 123: "''Phýsis krýptesthai phileî''". A ''[[phýsis]]'' se vela no [[desvelo]]. Nesta criptofania amorosa recebe o véu e o signo não só seu significado mas também seu sentido, pois não há significado nem sentido como não há [[figura]] / [[imagem]] sem [[vazio]]. É o que nos mostra o [[mito]] de [[Cura]]. Há por isso uma semiologia gramático-formal e há também uma semio-''[[poíesis]]''. Uma trata dos significados formais do [[código]]. A outra ausculta o [[sentido]] da [[linguagem]] do [[código]]. O [[signo]] e o [[véu]] guardam (''bewahren'') como [[signo]] e [[véu]] o [[desvelamento]] ([[verdade]]) que se vela ([[não-verdade]]). Mas então não serão [[signos]] e [[véus]] como ''[[homoíosis]]'', mas [[obras de arte]] (''[[poíesis]]'').
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:O signo é um véu. O véu é um signo. Mas véu e signo só signam e velam a partir do assinalado e do velado que se doa como signo e véu na clareira. A partir da clareira, o velar se doa como véu e signo o que se desvela como assinalar e ao mesmo tempo assinala o velar como véu. O signo e o véu não são "homoiosis" de nada. O des-velo e excessividade amorosa do Nada é que se presentifica como signo e véu. Nesse sentido, a partir do Nada, o signo e o véu são criptofânicos. É o que nos diz Heráclito no frag. 123: "Physis kryptesthai philei". A physis se vela no desvelo. Nesta criptofania amorosa recebe o véu e o signo não só seu significado mas também seu sentido, pois não há significado nem sentido como não há figura/imagem sem vazio. É o que nos mostra o mito de Cura. Há por isso uma semiologia gramático-formal e há também uma semio-poiesis. Uma trata dos significados formais do código. A outra ausculta o sentido da linguagem do código. O signo e o véu guardam (bewahren) como signo e véu o desvelamento (verdade) que se vela (não-verdade). Mas então não serão signos e véus como homoiosis, mas obras de arte (poiesis).
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: "[[Signo]] é, pois, o não [[mostrar-se]]. Mas este não do [[signo]] não se identifica com o não da [[linguagem]], isto é, com o [[parecer]] e a [[aparência]]. Pois o que não se mostra também nunca poderá [[aparecer]] e, por conseguinte, [[parecer]]. [[Signos]] são [[metáforas]], [[alegorias]], sintomas, [[índices]], indicações, embora cada um o seja à sua maneira" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Texto distribuído em sala de aula, num curso da pós, em 1971. Faculdade de Letras - UFRJ.
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: "''Signum, signi'', neutro: marca; sintoma; senha; sinal de comando; [[figura]], imagem esculpida, estátua; constelação; signo do zodíaco" (1). "''Signo, signare'': marcar por meio de um [[sinal]]; gravar, por selo em; cunhar moeda; [[significar]], indicar, ornar" (2). Como vemos, na [[raiz]] de todo [[significado]] e [[significante]] está um [[signo]], que remete necessariamente para uma [[representação]]. Esta [[representação]] se torna [[essencial]] para todos os [[estudos]], seja da [[palavra]] [[escrita]], seja das [[teorias]] sobre a [[poesia]] e os [[poemas]] [[escritos]]. E diz também o alcance de tais [[estudos]] através dos [[conceitos]] de [estilo]] e dos [[estilos]] de [[época]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) KOEHLER S. J., Pe. H. '''[[Dicionário]] Escolar Latino-Português. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 7. e., p. 794.'''
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: (2) KOEHLER S. J., Pe. H. '''[[Dicionário]] Escolar Latino-Português. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 7. e., p. 794.'''
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: "A [[imagem]] não se reduz à noção de [[signo]], já que traz, em si, no seu [[mostrar]], o próprio mostrar; no seu deixar [[aparecer]], o próprio deixar [[aparecer]], o qual se faz [[presente]] quanto mais segue ausentando-se: [[imagem]]-pronúncia da [[voz]] [[poética]]" (1).
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: (1) CALFA, Maria Ignez de Souza.''' "[[Imagem]]". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao [[pensar]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.'''
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: "A [[linguagem]], tanto no modo de [[manifestação]] positiva quanto no modo de [[manifestação]] negativa, nada tem a ver com os [[signos]], [[indícios]], indicação e [[denotação]]. O [[indício]] denota o que não se mostra em si mesmo, refere-se a algo que não é [[linguagem]]. [[Signo]] não diz o [[mostrar-se]] em si mesmo, mas um anunciar, um indicar uma [[coisa]] que não se mostra, nem como ela [[é]], nem como ela [[não é]], mediante outra que se mostra. [[Signo]] é, pois, o não [[mostrar-se]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' Texto distribuído em sala de aula, num curso da pós, em 1971. Faculdade de Letras - UFRJ.'''
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: "O [[vigor]] da [[linguagem]] é a [[saga]] do [[dizer]] enquanto o mostrante. O seu [[mostrar]] não se funda num [[signo]]. Todos os [[signos]] é que surgem de um mostrar, em cujo âmbito e para o qual os [[signos]] podem [[existir]]" (1).
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''A caminho da [[linguagem]]. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 203.'''
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: "Todo [[signo]] só pode indicar em [[razão]] do [[mostrar-se]] de alguma [[coisa]]. Este [[mostrar-se]] não é, em si mesmo, um [[signo]]. Todos os [[signos]] só são [[signos]] na dependência da [[linguagem]]. Quanto se diz, portanto, que a [[linguagem]] é um [[sistema]] de [[signos]], não se define, mas se pressupõe a [[linguagem]], e com a desvantagem de encobri-la, reduzindo-a à [[língua]]" (1).
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: Referência:
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== Ver também ==
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' Texto distribuído em sala de aula, num curso da pós, em 1971. Faculdade de Letras - UFRJ.'''
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*[[Conotação]]
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*[[Linguagem]]
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*[[Véu]]
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Edição atual tal como 22h20min de 13 de março de 2025

1

Conotação é o signo que, como significante e significado, além deste significado enquanto denotação, ainda tem um outro significado não diretamente notado e assinalado, mas que se dá na reunião da realidade denotada com a realidade conotada. Etimologicamente, tanto denotação como conotação são sím-bolos. O signo (obra-texto) representação que é um objeto e que como significante, além do seu significado enquanto representação, ainda tem uma outra representação que é o símbolo. Se o signo está mais diretamente ligado a sintomas, enquanto corpo que procura a linguagem: psicanálise concebida como sintoma e signo, o objeto-representação está mais diretamente ligado à imaginação que procura a realidade. Resta a questão: sintoma é, mas de que é sintoma? Imaginação é, mas de que é imaginação? Signo é, mas de que é significante e significado? Símbolo é, mas de que é símbolo? Como ficam todos esses conceitos se o que é se mostrando como aparecimento e aparência é e não é, como é e como não é?


- Manuel Antônio de Castro

2

O signo é um véu. O véu é um signo. Mas véu e signosignam e velam a partir do assinalado e do velado que se doa como signo e véu na clareira. A partir da clareira, o velar se doa como véu e signo o que se desvela como assinalar e ao mesmo tempo assinala o velar como véu. O signo e o véu não são homoíosis de nada. O des-velo e excessividade amorosa do nada é que se presentifica como signo e véu. Nesse sentido, a partir do nada, o signo e o véu são criptofânicos. É o que nos diz Heráclito no frag. 123: "Phýsis krýptesthai phileî". A phýsis se vela no desvelo. Nesta criptofania amorosa recebe o véu e o signo não só seu significado mas também seu sentido, pois não há significado nem sentido como não há figura / imagem sem vazio. É o que nos mostra o mito de Cura. Há por isso uma semiologia gramático-formal e há também uma semio-poíesis. Uma trata dos significados formais do código. A outra ausculta o sentido da linguagem do código. O signo e o véu guardam (bewahren) como signo e véu o desvelamento (verdade) que se vela (não-verdade). Mas então não serão signos e véus como homoíosis, mas obras de arte (poíesis).


- Manuel Antônio de Castro

3

"Signo é, pois, o não mostrar-se. Mas este não do signo não se identifica com o não da linguagem, isto é, com o parecer e a aparência. Pois o que não se mostra também nunca poderá aparecer e, por conseguinte, parecer. Signos são metáforas, alegorias, sintomas, índices, indicações, embora cada um o seja à sua maneira" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Texto distribuído em sala de aula, num curso da pós, em 1971. Faculdade de Letras - UFRJ.

4

"Signum, signi, neutro: marca; sintoma; senha; sinal de comando; figura, imagem esculpida, estátua; constelação; signo do zodíaco" (1). "Signo, signare: marcar por meio de um sinal; gravar, por selo em; cunhar moeda; significar, indicar, ornar" (2). Como vemos, na raiz de todo significado e significante está um signo, que remete necessariamente para uma representação. Esta representação se torna essencial para todos os estudos, seja da palavra escrita, seja das teorias sobre a poesia e os poemas escritos. E diz também o alcance de tais estudos através dos conceitos de [estilo]] e dos estilos de época.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) KOEHLER S. J., Pe. H. Dicionário Escolar Latino-Português. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 7. e., p. 794.
(2) KOEHLER S. J., Pe. H. Dicionário Escolar Latino-Português. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 7. e., p. 794.

5

"A imagem não se reduz à noção de signo, já que traz, em si, no seu mostrar, o próprio mostrar; no seu deixar aparecer, o próprio deixar aparecer, o qual se faz presente quanto mais segue ausentando-se: imagem-pronúncia da voz poética" (1).


Referência:
(1) CALFA, Maria Ignez de Souza. "Imagem". In: -----. CASTRO, Manuel Antônio de (0rg.). Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 123.

6

"A linguagem, tanto no modo de manifestação positiva quanto no modo de manifestação negativa, nada tem a ver com os signos, indícios, indicação e denotação. O indício denota o que não se mostra em si mesmo, refere-se a algo que não é linguagem. Signo não diz o mostrar-se em si mesmo, mas um anunciar, um indicar uma coisa que não se mostra, nem como ela é, nem como ela não é, mediante outra que se mostra. Signo é, pois, o não mostrar-se" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Texto distribuído em sala de aula, num curso da pós, em 1971. Faculdade de Letras - UFRJ.

7

"O vigor da linguagem é a saga do dizer enquanto o mostrante. O seu mostrar não se funda num signo. Todos os signos é que surgem de um mostrar, em cujo âmbito e para o qual os signos podem existir" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 203.

8

"Todo signo só pode indicar em razão do mostrar-se de alguma coisa. Este mostrar-se não é, em si mesmo, um signo. Todos os signos só são signos na dependência da linguagem. Quanto se diz, portanto, que a linguagem é um sistema de signos, não se define, mas se pressupõe a linguagem, e com a desvantagem de encobri-la, reduzindo-a à língua" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Texto distribuído em sala de aula, num curso da pós, em 1971. Faculdade de Letras - UFRJ.
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