Renúncia
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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Edição de 21h18min de 22 de Outubro de 2016
1
- No ensaio "O caminho do campo" (1), Heidegger diz em determinado momento que há necessidade de renúncia. Mas que a renúncia não tira, dá. Este paradoxo essencial ocorre porque o viver e o experienciar se dão na liminaridade do entre. E esta se dá como o sentido do caminho do ser. Porém, o caminho implica sempre o "entre": entre vida e morte, finito e não-finito, verdade e não-verdade, livre e não-livre, ação e não-ação. A renúncia é a disciplina, não do sistema pelo sistema, mas do metá-hodós do ser. Nisso, e só nisso, consiste a ascese da renúncia pela qual se mede a medida – e isto é a renúncia – do ser – e isto dá o sentido do ser.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "O caminho do campo". In: Revista de Cultura Vozes. Petrópolis: 4, 1977, 71, pp. 326-8.
2
- Quem não tiver a coragem da renúncia ao falatório fácil e consumista, quem não aprender a falar tão-somente a partir da experienciação do silêncio, nunca poderá chegar a ser o que propriamente é. A renúncia conduz ao silêncio e produz pelo educar da fala e da escuta o que cada um é. Pro-duzir não diz criar a partir das nossas ações e vontade, mas levar a desabrochar no que cada um já e recebeu para ser.
3
- No filme Samsara, de Pan Nalin, o personagem Tashi diz: "Tem coisas que devemos desaprender para poder aprendê-las. E tem coisas que precisamos possuir para poder renunciar a elas". Trata-se, evidente, do que podemos compreender por possuir. O que recebemos e possuímos unicamente é o ser que somos e nos foi feita doação. A posse de todo o resto não passa de um uso provisório. Mas o que somos são possibilidades de e para possibilidades. Toda realização de uma possibilidade implica o empenho por algo. Sem o alcance deste algo não é possível renunciar a ele. Como somos possibilidades de e para possibilidades,é necessário que não nos prendamos às possibilidades realizadas, para podermos livremente nos lançar na realização de novas possibilidades. Daí a necessidade da renúncia para que nos empenhemos permanentemente naquilo que deve ser o empenho de todos os empenhos: o que somos e nos foi doado. Por isso, no filme, o mestre de Tashi diz: "O que é melhor: satisfazer mil desejos ou realizar apenas um?". Este "um" só pode ser o "bem" de todos os "bens", aquele que nos deve guiar em todas as procuras. Simplesmente porque os bens estarão sempre no âmbito dos "entes". E a realização do que somos só nos pode advir do Ser/Bem. É este o Amor. Sem dúvida nenhuma, aí a palavra essencial é: satis-fazer. "Satis", palavra latina que diz plenificar, ou seja, aquilo que nos faz plenos.
4
- Para a ciência, a sabedoria pode ser loucura e a aprendizagem algo com o qual nada se faz, isto é, inútil. Na ordem da ciência, a falta de bens e cultura pode ser indigência e na dimensão do humano a falta de cultura e bens pode ser renúncia para a aprendizagem. Porque a renúncia não tira, dá. Pois o silêncio não é a falta de voz da poesia e o som não é a falta de música, mas a sua plenitude.
5
- Essencialmente temos de renunciar a tudo que queremos adquirir. E quanto mais renunciamos mais o adquirimos. É o paradoxo de ser, de amar.