Poesia

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"A [[relação]] entre o homem e a poesia é tão antiga como nossa [[história]]: começou quando o homem começou a ser homem. Os primeiros caçadores e colhedores de frutas um dia se olharam, atônitos, durante um [[instante]] interminável, na água estagnada de um poema. Desde então, os homens não deixaram de se [[olhar]] nesse [[espelho]] de imagens. E têm se olhado, simultaneamente, como criadores de [[imagem|imagens]] e como imagens de suas [[criações]]" (1).  
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:"A [[relação]] entre o homem e a poesia é tão antiga como nossa [[história]]: começou quando o homem começou a ser homem. Os primeiros caçadores e colhedores de frutas um dia se olharam, atônitos, durante um [[instante]] interminável, na água estagnada de um poema. Desde então, os homens não deixaram de se [[olhar]] nesse [[espelho]] de imagens. E têm se olhado, simultaneamente, como criadores de [[imagem|imagens]] e como imagens de suas [[criações|criação]]" (1).  
:Como se vê, Paz ainda reflete a [[posição]] moderna de que o ser humano é [[criador]]. Aqui ele aparece como criador de imagens, evidente, através de sua faculdade imaginativa. Porém, o ser humano não cria nada. Tudo já é. Cabe, apenas, a ele se deixar tomar pelo [[vigorar]] do [[ser]] que nele habita e manifestar o que já é. Esse vigorar é que faz com que ele seja poeta, pois é no vigorar da [[linguagem]] nele que mora o ser. A linguagem falando constitui o que cada ser humano é. Ele não cria, pois ele é o que recebeu para ser. O ser humano é uma [[doação]] da linguagem. E é no vigorar desta que ele é [[poeta]]. Todo ser humano é poeta. Se assim não fosse não poderia [[dialogar]] com os poemas de qualquer [[língua]] e qualquer [[época]].
:Como se vê, Paz ainda reflete a [[posição]] moderna de que o ser humano é [[criador]]. Aqui ele aparece como criador de imagens, evidente, através de sua faculdade imaginativa. Porém, o ser humano não cria nada. Tudo já é. Cabe, apenas, a ele se deixar tomar pelo [[vigorar]] do [[ser]] que nele habita e manifestar o que já é. Esse vigorar é que faz com que ele seja poeta, pois é no vigorar da [[linguagem]] nele que mora o ser. A linguagem falando constitui o que cada ser humano é. Ele não cria, pois ele é o que recebeu para ser. O ser humano é uma [[doação]] da linguagem. E é no vigorar desta que ele é [[poeta]]. Todo ser humano é poeta. Se assim não fosse não poderia [[dialogar]] com os poemas de qualquer [[língua]] e qualquer [[época]].

Edição de 21h16min de 18 de Abril de 2014

1

O eu-lírico é um conceito abstrato-formal inexistente, a que nenhuma realidade corresponde. Quando num poema fala um eu, se o poema é verdadeiro, este será sempre fala da poesia. Jamais será fala do poeta ou um formal e abstrato eu-lírico. É o eu-concreto da poesia manifestando-se no poeta e nos leitores que verdadeiramente têm o poema da poesia. O poeta ou o leitor fala, mas quem diz é a poesia. Um poema é verdadeiro quando é esse dizer concreto da poesia.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


2

"As palavras '...poeticamente o homem habita...' dizem muito mais. Dizem que é a poesia que permite ao habitar ser um habitar. Poesia é deixar-habitar, em sentido próprio. Mas como encontramos habitação? Mediante um construir. Entendida como deixar-habitar, poesia é um construir"(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 167.


Ver também:

3

"A poesia é a Memória feita imagem e esta convertida em voz. A outra voz não é a voz do além túmulo: é a do homem que está dormindo no fundo de cada homem. Tem mil anos e tem nossa idade e ainda não nasce. É nossa avó, nosso irmão e nosso bisneto" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. Trad. Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 144.

4

"A relação entre o homem e a poesia é tão antiga como nossa história: começou quando o homem começou a ser homem. Os primeiros caçadores e colhedores de frutas um dia se olharam, atônitos, durante um instante interminável, na água estagnada de um poema. Desde então, os homens não deixaram de se olhar nesse espelho de imagens. E têm se olhado, simultaneamente, como criadores de imagens e como imagens de suas criação" (1).
Como se vê, Paz ainda reflete a posição moderna de que o ser humano é criador. Aqui ele aparece como criador de imagens, evidente, através de sua faculdade imaginativa. Porém, o ser humano não cria nada. Tudo já é. Cabe, apenas, a ele se deixar tomar pelo vigorar do ser que nele habita e manifestar o que já é. Esse vigorar é que faz com que ele seja poeta, pois é no vigorar da linguagem nele que mora o ser. A linguagem falando constitui o que cada ser humano é. Ele não cria, pois ele é o que recebeu para ser. O ser humano é uma doação da linguagem. E é no vigorar desta que ele é poeta. Todo ser humano é poeta. Se assim não fosse não poderia dialogar com os poemas de qualquer língua e qualquer época.


- Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. Trad. Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 148.

5

"A poesia nunca foi privilégio exclusivo do poema. Ela sempre esteve e estará nos lugares mais diversos. A própria ciência, enquanto linguagem e não simplesmente na sua ostensiva dimensão semântica, guarda a poesia. O cientista tem que ser poeta, isto é, fundador, para ser cientista". (1)


Referência:
(1) PORTELLA, Eduardo. “Limites ilimitados da teoria literária”. In: PORTELLA, Eduardo (org.). Teoria Literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976, p. 17.


6

"Assim, ser homem é de alguma maneira suportar a disciplina, a ascese de morar no interior das questões: entre realidade, real e realização. Esse interior é o que nós chamamos de utopia. E o que abre a possibilidade de fazer essa experiência de utopia é sempre a poesia" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Poesia e utopia. In: FAGUNDES, Igor (Org.). Permanecer silêncio - Manuel Antônio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 132.


7

“[...] poesia diz respeito ao nosso próprio devir enquanto humanidade sempre a se criar, a se inventar” (1).


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 18.


8

“[...] a poesia é o que nos aproxima de nossa morte, pois finca raízes em nossa carne, pondo-nos também em questão. Quando isso acontece, o mundo deixa de ser a realidade estável do senso comum para se mostrar como paisagem de instabilidade. Pois a realidade não é estável, e sua mobilidade é o mistério que nos toma sempre inesperadamente, restando-nos o abismo” (1).


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 60.


9

Língua de corpo inteiro que clama no cheio de suas vozes o derradeiro momento da poesia: a ambiguidade entre ser e existir que dinamiza em suas nuances de palavra e gesto a instabilidade: poesia: movimento: poíesis” (1). Essa passagem foi escrita durante a interpretação do poema "Língua de corpo inteiro", do poeta moçambicano Virgílio de Lemos.


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 62.