Personagem-questão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: O que é uma [[personagem-questão]]? É uma [[personagem]] que como tal não existe senão para encarnar, [[hipostasiar]] uma ou mais [[questões]]. O próprio Rosa as denomina persona-gente. Riobaldo aparece contando para um [[leitor-questão]] toda a [[estória]] e [[história]] de sua [[vida]]. Porém, o [[leitor]], aparentemente nunca diz [[nada]]. Só [[escuta]]. É nessa [[escuta]] que podemos, dialogando, [[escutar]] tanto o que a [[imagem-questão]] [[ser-tão]] quer nos dizer, quanto a [[imagem-questão]] [[veredas]]. O que é [[imagem-questão]]? É uma [[imagem-poética]] que se torna [[verbo]] e [[presença]] para [[manifestar]] de modo vivo a [[questão]] ou [[questões]]. Por isso também podemos nomeá-la [[imagem-poética]], na medida em que toda [[poética]] pensa o [[acontecer]] do [[ser]], no [[dizer]] do Rosa, o [[ser-tão]]. Esse [[dizer]] é o que quis [[dizer]] com [[verbo]] e [[presença]], pois no caso trata-se da [[essência]] do [[agir]] e [[pensar]].
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: O que é uma [[personagem-questão]]? É uma [[personagem]] que como tal não existe senão para encarnar, [[hipostasiar]] uma ou mais [[questões]]. O próprio Rosa as denomina persona-gente. Riobaldo aparece contando para um [[leitor-questão]] toda a [[estória]] e [[história]] de sua [[vida]]. Porém, o [[leitor]], aparentemente nunca diz [[nada]]. Só [[escuta]]. É nessa [[escuta]] que podemos, dialogando, [[escutar]] tanto o que a [[imagem-questão]] [[ser-tão]] quer nos dizer, quanto a [[imagem-questão]] [[veredas]].  
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Edição atual tal como 01h38min de 23 de Outubro de 2017

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O que é uma personagem-questão? É uma personagem que como tal não existe senão para encarnar, hipostasiar uma ou mais questões. O próprio Rosa as denomina persona-gente. Riobaldo aparece contando para um leitor-questão toda a estória e história de sua vida. Porém, o leitor, aparentemente nunca diz nada. Só escuta. É nessa escuta que podemos, dialogando, escutar tanto o que a imagem-questão ser-tão quer nos dizer, quanto a imagem-questão veredas.


- Manuel Antônio de Castro

Para fugir da terminologia retórico-metafísica criei a denominação personagem-questão, ou seja, uma questão (que nós não temos, mas que nos tem) dita, centralizada e condensada na ou nas personagens escolhidas em cada mito, em cada narrativa. Riobaldo, Capitu, Mme. Bovary, Dom Quixote, Édipo Rei etc. são personagens-questões. As imagens-questões se entre-tecem com o poder verbal-ambíguo da metá-fora, ou seja, literalmente: um conduzir no e pelo vigor do "entre" (meta). A personagem-questão é ambígua e retira sua ambiguidade do entre, na medida em que a linguagem é a própria manifestação do Da-sein como Entre-ser, essência do ser humano em sua dignidade. O poder e vigor da personagem-questão está no fato de que conjuga tempo, linguagem, memória, narrar. Por isso ela repousa, como quietude enquanto tempo, "entre" o ser escrita e o ser lida, entre o ser vista, pensada, figurada e o ser narrada. Melhor, entre o ser pensada e experienciada. A personagem-questão é um modo concentrado e verbal de poíesis enquanto narrar, pelo qual a realidade acontece realizando-se em realizações que constituem o real. Como tal, concentra a fala de toda escuta e aguarda o desvelo poético da leitura do leitor aberto à escuta do logos, num diálogo originário. É a dialética originária. Quando tal acontece, dá-se no leitor uma aprendizagem. O que é aprendizagem? A apreensão da Cura como fonte de todas as questões que essencialmente fundam o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro