Morte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 00h15min de 9 de janeiro de 2014 por Fábio (Discussão | contribs)

1

Ironia forma-se do grego eironeía, proveniente do verbo grego: eíro ou eréo, que significa: perguntar, questionar. Todo questionar questiona porque não sabe e, ao mesmo tempo, porque já sabe (atematicamente), senão nem poderia perguntar. No e pelo perguntar há um krínein, isto é, um distinguir, ou seja, um diferenciar. Todo questionar pressupõe um diálogo. Portanto, o questionar exercita sempre um criticar, no sentido de diferenciar, pelo e no diálogo. Todo diálogo já é, em si, um exercer diferenças. A ironia nas obras de arte funda explicitamente o diálogo de leitura como um diferenciar e um questionar. O diferenciar já traz em si o levar no entre em que o ser humano já desde sempre está lançado. Portanto, todo humano do ser humano se dá como ironia, porque em vida experiencia a morte como horizonte do sentido da vida. Desse modo todo questionar se funda na morte para chegar a viver a vida como plenitude. Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar. Há questionar quando se fazem e assumem perguntas essenciais, aquelas que só se podem fundar no sentido.


- Manuel Antônio de Castro


2

A questão da morte já aparece nos ritos iniciáticos. Todo rito de iniciação implica uma transformação e, automaticamente, a morte de algo para o surgimento também de algo. O verbo iniciar é, pois, ambíguo: iniciar é introduzir, porque implica também o fazer morrer. A travessia se dá na tensão vida/morte di-mensionada na e como experienciação.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


3

"– Antes de morrer se vive, Lóri. É uma naturalidade morrer, transformar-se, transmutar-se. Nunca se inventou nada além de morrer. Como nunca se inventou um modo diferente de amor de corpo que, no entanto, é estranho e cego e no entanto cada pessoa, sem saber da outra, reinventa a cópia. Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao paraíso, morrer é que é o paraíso" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 63.


4

"É verdade que não podemos conquistar a morte; podemos, contudo, conquistar nosso medo da morte" (1).


Referência:
(1) KAZANTZAKIS, Nikos. Testamento para El Greco. Rio de Janeiro: Artenova, 1975, p. 214.


5

Por vivermos já estamos agindo. Mas qual o motivo de nosso agir? O que em nossas ações temos em vista? Noutras palavras: o que dá sentido a nosso agir? E se for a morte? Como pode a morte, que é não-ação, dar sentido? Essa é a questão em que se move não somente o viver mas também o estar sendo no viver.


- Manuel Antônio de Castro.


6

A morte nada mais é do que o advento do não mais estar e passar a ser, não mais ser vivente para experienciar a vida, não mais ser instante para ser tempo e ser tempo para ser e deixar de estar.


- Manuel Antônio de Castro.


7

"Não houve um dia da minha vida em que não tenha pensado na morte ou em que o pensamento da morte não tenha me tocado de alguma maneira. Mas então aconteceu algo curioso. Desenvolvi um abscesso com sinais de envenamento sanguíneo que precisou ser extraído. Senti uma pequena dor na operação e depois nada. Oito horas da minha vida forma completamente esquecidas. Isso me fascinou, pois pensei: "- A morte é assim. Você é uma luz acesa. E então um dia ela é apagada. Depois não há nada, não sobra nenhuma chama. A morte não é nada para se temer. E depois veio o grande problema, o problema devastador. Foi quando Ingrid morreu há quase oito anos. Logicamente, eu disse para mim mesmo: "- Nunca mais verei Ingrid. Ela se foi para sempre". Mas a coisa estranha é: sinto intensamente a presença de ingrid, sobretudo aqui em Farö. E penso: "Não posso sentir sua presença se ela não existe, posso? Então é isso, a cirurgia que eu tinha feito foi uma reação química. Não foi uma morte real, mas uma morte artificial. Na morte verdadeira, pode ser simplesmente que Ingrid esteja esperando por mim e que ela exista. E que ela virá me encontrar. Então a coisa mais estranha acontece, pensei; "- É assim tão simples? Passamos nossas vidas pensando sobre a morte, o que acontece, o que não acontece. E realmente é simples assim. Aceito que irei encontrar Ingrid com minha morte, aquele outro pesadelo que nunca a encontraria de novo se desfaz" (1).


Referência:
BERGMAN, Ingmar. A ilha de Bergman. Fala de Bergman dizendo como encara a morte nesse filme de Marie Nyreröd.


8

“[...] morrer é o modo mais radical de experienciar a vida, tendo em vista que a morte é um dar de mãos com a existência, um contínuo desdobramento de presença e memória” (1).


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 45.


Ver também:

9

“[...], morrer é possibilitar o viver, é ser a linguagem culminando na tensão intransponível de ser enquanto se está sendo” (1).


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, pp. 62-3.