Artista

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(3)
 
(5 edições intermediárias não estão sendo exibidas.)
Linha 1: Linha 1:
__NOTOC__
__NOTOC__
== 1 ==
== 1 ==
-
:É necessário considerar a questão moral não só em relação à [[obra]] mas também em relação ao artista. A censura das obras sempre atingiu os artistas. O viver dos artistas se torna também paradigmático e por isso são repelidos como suas obras, talvez por identificarem as obras com a vida do artista. A exclusão da arte se dá ''pari passu'' com a exclusão do artista. O artista ao escutar a voz das [[musas]] é portador de um conhecimento que o torna uma experiência viva do real, embora este paralelismo não se possa constituir em argumento para a ontologia da obra de [[arte]], porque a obra é necessariamente mais que a [[vida]] do artista. Mas esse paralelismo possível é que leva a muitas vezes querer explicar a obra por acontecimentos na vida do artista. Quem faz o artista e a obra é a poesia, é a arte. A arte é uma doação do [[sagrado]], daí serem, normalmente excluídos os artistas, porque são classificados como loucos. Santa loucura.
+
: É necessário considerar a questão moral não só em relação à [[obra]] mas também em relação ao artista. A censura das obras sempre atingiu os artistas. O viver dos artistas se torna também paradigmático e por isso são repelidos como suas obras, talvez por identificarem as obras com a vida do artista. A exclusão da arte se dá ''pari passu'' com a exclusão do artista. O artista ao escutar a voz das [[musas]] é portador de um conhecimento que o torna uma experiência viva do real, embora este paralelismo não se possa constituir em argumento para a ontologia da obra de [[arte]], porque a obra é necessariamente mais que a [[vida]] do artista. Mas esse paralelismo possível é que leva a muitas vezes querer explicar a obra por acontecimentos na vida do artista. Quem faz o artista e a obra é a poesia, é a arte. A arte é uma doação do [[sagrado]], daí serem normalmente excluídos os artistas, porque são classificados como loucos. Santa loucura.
-
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
+
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
 +
 
 +
 
 +
: '''Ver também:'''
 +
 
 +
: *[[Atitude]]
 +
 
 +
 
 +
 
 +
== 2 ==
 +
: "Neste preciso momento soam canções e coros, [[música]] de ópera e [[música]] de câmara extraídos da [[obra]] de Conradin Kreutzer. Nestes sons está o [[próprio]] [[artista]], pois a [[presença]] do [[mestre]] na [[obra]] é única que é [[autêntica]]. Quanto maior é um [[mestre]] mais completa a sua [[pessoa]] desaparece por detrás da [[obra]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Serenidade''. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 10.
 +
 
 +
== 3 ==
 +
: A [[obra de  arte]] manifesta o [[sentido]] do próprio [[ser]], fazendo com que a [[realidade]] advenha ao [[sentido]] e instituindo [[mundo]]. E o [[próprio]] [[artista]] manifesta [[dimensões]] [[essenciais]] do [[próprio]] [[ser humano]], daí a importância da [[arte]] na [[vida]] das [[pessoas]], pois o [[artista]] deixa de ser alguém simplesmente [[individual]] e que se serve da [[inspiração]]. O [[lugar]] do [[artista]] no todo da [[realidade]] enquanto [[mundo]] é [[essencialmente]] [[misterioso]], pois a [[criação]] do [[enredo]] e dos [[personagens]] e os [[valores]] que os guiam no seu [[agir]] transcendem tanto o [[eu]] do [[personagem]] ou dos [[personagens]] quanto o [[eu]] do [[artista]] ou do [[autor]]. O [[genial]] [[diretor]] de [[cinema]] Ingmar [[Bergman]] tematiza isso muito bem em dois famosos [[filmes]]: ''Infiel'' e ''Depois do ensaio''. São muitas as [[questões]] neles colocadas quanto às [[criações]] das [[obras]], aos [[personagens]] e ao próprio [[enredo]]. Qual o [[verdadeiro]] [[limite]] [[entre]] os [[valores]] e [[vida]] do [[artista]] e do [[personagem]] que ele representa?
 +
 
 +
 
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
 +
 
 +
== 4 ==
 +
: "[[Ente]] é [[tudo]] que [[é]]. É que a ''[[physis]]'' ou [[natureza]] passou a ser denominada [[ser]]. Ora, aquele que fazia [[entes]] que a [[natureza]] não fazia denominava-se, em [[grego]], ''[[technités]]''. Com este termo denominavam os [[gregos]] tanto o [[artesão]] como os [[artistas]], claro, aí incluídos os [[poetas]]. É que ''[[techné]]'' não dizia de jeito nenhuma para o [[grego]] algum [[fazer]] dominado pela [[razão]]. Ela tinha sua [[relação]] mais direta com a ''[[emperia]]'', com a [[experiência]]. Portanto, em [[grego]], ''[[techné]]'' diz um [[conhecimento]] e os [[processos]] de [[execução]]. A [[palavra]] ''[[techné]]'' foi traduzida para o [[latim]] como ''ars, artis'', isto é: [[arte]]. Desta se formou nossa [[palavra]] [[artista]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) www.travessiapoetica.blogspot.com>2010/10/as-musas-e-essencia-da-criacao-html

Edição atual tal como 22h52min de 7 de Agosto de 2020

1

É necessário considerar a questão moral não só em relação à obra mas também em relação ao artista. A censura das obras sempre atingiu os artistas. O viver dos artistas se torna também paradigmático e por isso são repelidos como suas obras, talvez por identificarem as obras com a vida do artista. A exclusão da arte se dá pari passu com a exclusão do artista. O artista ao escutar a voz das musas é portador de um conhecimento que o torna uma experiência viva do real, embora este paralelismo não se possa constituir em argumento para a ontologia da obra de arte, porque a obra é necessariamente mais que a vida do artista. Mas esse paralelismo possível é que leva a muitas vezes querer explicar a obra por acontecimentos na vida do artista. Quem faz o artista e a obra é a poesia, é a arte. A arte é uma doação do sagrado, daí serem normalmente excluídos os artistas, porque são classificados como loucos. Santa loucura.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:
*Atitude


2

"Neste preciso momento soam canções e coros, música de ópera e música de câmara extraídos da obra de Conradin Kreutzer. Nestes sons está o próprio artista, pois a presença do mestre na obra é única que é autêntica. Quanto maior é um mestre mais completa a sua pessoa desaparece por detrás da obra" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 10.

3

A obra de arte manifesta o sentido do próprio ser, fazendo com que a realidade advenha ao sentido e instituindo mundo. E o próprio artista manifesta dimensões essenciais do próprio ser humano, daí a importância da arte na vida das pessoas, pois o artista deixa de ser alguém simplesmente individual e que se serve da inspiração. O lugar do artista no todo da realidade enquanto mundo é essencialmente misterioso, pois a criação do enredo e dos personagens e os valores que os guiam no seu agir transcendem tanto o eu do personagem ou dos personagens quanto o eu do artista ou do autor. O genial diretor de cinema Ingmar Bergman tematiza isso muito bem em dois famosos filmes: Infiel e Depois do ensaio. São muitas as questões neles colocadas quanto às criações das obras, aos personagens e ao próprio enredo. Qual o verdadeiro limite entre os valores e vida do artista e do personagem que ele representa?


- Manuel Antônio de Castro.

4

"Ente é tudo que é. É que a physis ou natureza passou a ser denominada ser. Ora, aquele que fazia entes que a natureza não fazia denominava-se, em grego, technités. Com este termo denominavam os gregos tanto o artesão como os artistas, claro, aí incluídos os poetas. É que techné não dizia de jeito nenhuma para o grego algum fazer dominado pela razão. Ela tinha sua relação mais direta com a emperia, com a experiência. Portanto, em grego, techné diz um conhecimento e os processos de execução. A palavra techné foi traduzida para o latim como ars, artis, isto é: arte. Desta se formou nossa palavra artista" (1).


Referência:
(1) www.travessiapoetica.blogspot.com>2010/10/as-musas-e-essencia-da-criacao-html