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De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Parede e fundo, de que é feita a jarra e com que fica em pé, não perfazem propriamente o recipiente. Caso, porém, este estivesse no vazio da jarra, então, o oleiro, que molda, no torno, parede e fundo, não fabrica, propriamente, a jarra; ele molda, apenas, a argila. Pois é para o vazio, no  vazio e do vazio que ele conforma, na argila, a conformação de receptáculo" (1).
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:"Parede e fundo, de que é feita a jarra e com que fica em pé, não perfazem propriamente o recipiente. Caso, porém, este estivesse no [[vazio]] da jarra, então, o oleiro, que molda, no torno, parede e fundo, não fabrica, propriamente, a jarra; ele molda, apenas, a argila. Pois é para o vazio, no  vazio e do vazio que ele conforma, na argila, a conformação de receptáculo" (1). Se entendemos por autor o que cria algo, aqui fica evidente que moldar ainda não é criar. Isso se aplica a toda a [[criação]] artística. Redigir algo ainda não é criar, pois a redação é apenas a inscrição que a própria [[linguagem]] doa a quem escreve ou fala. A [[ideia]] de autor propalada desde a [[Modernidade]] é falha porque não se abre para o acontecer da [[realidade]], entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de [[imaginação]], [[silêncio]], vazio, [[nada criativo]], é porque como [[finitos]] temos sempre de nos mover no [[limite]]. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela [[finitude]]. Criar mesmo nunca  criamos, não somos autores de nada, mas acontece em nós o [[advir]] ao [[sentido]] a própria realidade, o vazio de que nos fala o [[pensador]]. Mover-se na [[autoria]] é ainda ficar restrito à [[entificação]] subjetiva. Mas sem [[ser]] não há [[ente]]. Deve haver [[dialética]] entre [[língua]] e [[linguagem]], entre silêncio e fala. O oleiro faz a jarra com o que a realidade lhe oferece, mas quem lhe dá sentido e acolhimento é o vazio. O [[poético]] é isso e é essencialmente dialético.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 19h50min de 20 de fevereiro de 2012

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"Este ano celebra o segundo centenário do nascimento de Hegel. Há mais de cento e cinquenta anos que age o pensamento de Hegel. Na ação o pensador guarda a sua presença. Encolhe-se a distância cronológica que nos separa da obra de seu pensamento. Celebrar Hegel será apresentar-lhe a presença na operação histórica do seu pensamento" (1). Aqui se destaca o autor enquanto obra de pensamento. Isso se pode dizer também do poeta enquanto obra da poíesis. "Celebrar Hegel já não será apenas rememorar um filósofo que nasceu há duzentos anos. Será tomar consciência do que hoje somos e não somos" (2), pois "uma celebração que não pretender negar-se como celebração de um pensador, incluirá necessariamente um diálogo de pensamento" (3).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Hegel, Heideger e o absoluto". In: Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 251.
(2) Idem.
(3) idem.


2

As possibilidades poéticas das obras não são diferentes daquelas que vigoraram nos autores e se fazem presentes nas obras, porque, em verdade, os autores não são os autores das obras. As obras é que são as autoras dos autores e dos leitores. E o podem ser porque tanto autores como leitores vigoram e podem acontecer na mesma mediação: a poiesis, que se torna e desde sempre é a medida do humano.


- Manuel Antônio de Castro



3

"Parede e fundo, de que é feita a jarra e com que fica em pé, não perfazem propriamente o recipiente. Caso, porém, este estivesse no vazio da jarra, então, o oleiro, que molda, no torno, parede e fundo, não fabrica, propriamente, a jarra; ele molda, apenas, a argila. Pois é para o vazio, no vazio e do vazio que ele conforma, na argila, a conformação de receptáculo" (1). Se entendemos por autor o que cria algo, aqui fica evidente que moldar ainda não é criar. Isso se aplica a toda a criação artística. Redigir algo ainda não é criar, pois a redação é apenas a inscrição que a própria linguagem doa a quem escreve ou fala. A ideia de autor propalada desde a Modernidade é falha porque não se abre para o acontecer da realidade, entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de imaginação, silêncio, vazio, nada criativo, é porque como finitos temos sempre de nos mover no limite. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela finitude. Criar mesmo nunca criamos, não somos autores de nada, mas acontece em nós o advir ao sentido a própria realidade, o vazio de que nos fala o pensador. Mover-se na autoria é ainda ficar restrito à entificação subjetiva. Mas sem ser não há ente. Deve haver dialética entre língua e linguagem, entre silêncio e fala. O oleiro faz a jarra com o que a realidade lhe oferece, mas quem lhe dá sentido e acolhimento é o vazio. O poético é isso e é essencialmente dialético.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A coisa. In: ---. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 147.
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