Nada
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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:(1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres''. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 25. | :(1) LISPECTOR, Clarice. ''Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres''. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 25. | ||
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Edição de 07h47min de 9 de Agosto de 2016
1
- "O poeta, em seu canto, próximo à Terra Natal, desfia a alegria a troco de Nada. Isso é contradizer-se, jogar no Vazio ou meditar extra-vagâncias? Devagar, vagando se descobre a falta-que-faz, o fazer-que-falta: cercando o eixo das rodas com raios, se descobre que a utilidade da roda consiste no seu Nada; escavando-se a argila para modelar vasos, descobre-se que a utilidade dos vasos está no seu Nada; abrindo-se portas e janelas para que haja um quarto, descobre-se que a utilidade do quarto está no seu Nada. Por isso, parafraseando Lao-Tzu, em seu fragmento XI, do Tao Te King, pode-se dizer que enquanto nos aproximamos do fazer, o que não é feito se aproxima de nós" (1).
- Referência:
- (1) ALBERNAZ, Maria Beatriz. Paideia poética na cidade sitiada - um estudo de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura, Área de Poética. Tese de doutorado, 2006.
2
- "P - O vazio é então a mesma coisa que o nada, isto é, o vigor que procuramos pensar como o outro de toda vigência e de toda ausência?
- J - De certo... Para nós, o vazio é o nome mais elevado para se designar o que o senhor quer dizer com a palavra ser" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 87.
3
- "Através de seus graves defeitos - que um dia ela talvez pudesse mencionar sem se vangloriar - é que chegara agora a poder amar. Até aquela glorificação: ela amava o Nada. A consciência de sua permanente queda humana a levava ao amor do Nada" (1).
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 25.
4
- Nada não pode ser niilismo porque só pode advir ao niilismo o ente, o vivente, a oração, o discurso, o significado, o tempo linear, a lembrança, o instante, o ente, que está, sem referência.
5
- O nada é sempre, como possibilidade de e para possibilidades, doação de novas realizações.
6
- "... em todo pensamento se dá algo que não somente não pode ser pensado como, sobretudo e em tudo que se pensa, significa pensar, isto é, faz e torna possível o pensamento. Este "não pensado", que nunca poderá ser pensado, é, pois, um nada. Mas não um nada somente negativo, nem um nada somente positivo e nem uma mistura, com ou sem dialética, de negativo e positivo. Mas então que nada é este? Um nada somente criativo tanto da negação como da posição e da composição de ambos" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.
7
- O temor e a angústia do Nada é como o sentir o abismo e sua proximidade a nossos pés, faltando-nos não só o chão como o próprio respirar. No entanto, é nele que estamos plantados. Dis-traídos pelos movimentos nos fios da rede como teia da vida nem notamos que sempre estamos pendurados no abismo dos vazios da rede. Nem notamos pela ocupação nas e com as funções em meio aos entes que só funcionamos porque o sistema parece configurar tudo, inclusive, os vazios em que ele não só se estende e perdura como também se expande. Mas não é verdade. E de repente somos assaltados pela gratuidade e presença dos vazios não só da rede como também da possibilidade de a rede ser rede e ser rede em funcionamento e expansão, porque a rede é uma doação do vazio, do silêncio, do Nada. A rede só se constrói como rede porque o Nada que a doa se retrai e deixa a rede e as funções e o sistema se presentificarem em seu funcionar. O Nada não niilifica, estrutura, doa, presentifica.
8
- "O professor só ensina quando aprende. O aluno só é ensinado quando aprende a aprender a pensar. O professor ensina nada e o aluno aprende o nada em que ele já desde sempre vigora, todo ser humano vigora. Pois ambos vigoram no mesmo. Esses são os horizontes das épocas das obras de arte da arte, onde aprender e ensinar é o deixar-se tomar pelo destinar-se do ser no vigorar da época. Época, nessa leitura e horizonte, é a essência do tempo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 316.