Sentidos
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | :Numa mentalidade positivista como a que a ciência do século XIX criou, a determinação do real é vista, geralmente, como sendo feita pelos sentidos. Contudo, aí não se vê o círculo vicioso em que se move essa determinação: o real é determinado e configurado pelos sentidos que, por sua vez, já são sentidos, ditos e pensados/racionalizados pela realidade. Não se nota que o círculo pressupõe já o manifestar do que os sentidos apreendem e até a razão que os caracteriza além de terem de ser "ditos", ou seja, a Linguagem os precede. A questão do real só passa pelos sentidos se: a) nos | + | :Numa mentalidade [[positivismo|positivista]] como a que a [[ciência]] do século XIX criou, a determinação do [[real]] é vista, geralmente, como sendo feita pelos sentidos. Contudo, aí não se vê o círculo vicioso em que se move essa determinação: o [[real]] é determinado e configurado pelos sentidos que, por sua vez, já são sentidos, ditos e pensados/racionalizados pela realidade. Não se nota que o círculo pressupõe já o [[manifestar]] do que os sentidos apreendem e até a [[razão]] que os caracteriza além de terem de ser "ditos", ou seja, a [[Linguagem]] os precede. A questão do real só passa pelos sentidos se: a) nos abrirmos para o que se manifesta para os sentidos sentirem; b) os sentidos são sentidos do real que também se manifesta, não nos sentidos, mas também como sentidos; c) a linguagem que "dita" o alcance dos sentidos; d) os sentidos do [[sentir]]. A tensão realidade e sentido traz em si e se move já na questão da [[verdade]]. A esse respeito, em "Da essência da verdade" (1), o autor interpreta o "Mito da Caverna" e algumas passagens do ''Teeteto'', de [[Platão]]. É um Platão [[novo]] e [[originário]] que surge. A grande questão do sentido inerente ao ''[[eídos]]'' platônico está correlacionada à questão dos sentidos, especialmente do [[ver]]. |
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Edição de 16h58min de 9 de Abril de 2009
1
- Os sentidos sentem o que a phýsis doa ao sentir e ao sentente. Este lógos e esta poíesis da phýsis no sentir dos sentidos é que "fazem" com que uma Nona sinfonia seja muito mais e algo completamente diferente do que uma sucessão de sons ordenados formalmente e que uma análise físico-acústica pode calcular e medir. Tais conhecimentos formais ou físico-acústicos se auto-determinam e jamais podem fundar ou analisar o sentir e o seu sentido ético-poético. Até porque o sentido ético-poético se dá a partir da phýsis se manifestando na clareira criptofânica de desvelamento e velamento, de som e silêncio. Até porque este ou aquele sentido nunca pode ser isolado a não ser abstratamente, conceitualmente. Até porque todo sentido só pode ser sentido do corpo em sua tripla dimensão (1).
- Ver também:
2
- Numa mentalidade positivista como a que a ciência do século XIX criou, a determinação do real é vista, geralmente, como sendo feita pelos sentidos. Contudo, aí não se vê o círculo vicioso em que se move essa determinação: o real é determinado e configurado pelos sentidos que, por sua vez, já são sentidos, ditos e pensados/racionalizados pela realidade. Não se nota que o círculo pressupõe já o manifestar do que os sentidos apreendem e até a razão que os caracteriza além de terem de ser "ditos", ou seja, a Linguagem os precede. A questão do real só passa pelos sentidos se: a) nos abrirmos para o que se manifesta para os sentidos sentirem; b) os sentidos são sentidos do real que também se manifesta, não nos sentidos, mas também como sentidos; c) a linguagem que "dita" o alcance dos sentidos; d) os sentidos do sentir. A tensão realidade e sentido traz em si e se move já na questão da verdade. A esse respeito, em "Da essência da verdade" (1), o autor interpreta o "Mito da Caverna" e algumas passagens do Teeteto, de Platão. É um Platão novo e originário que surge. A grande questão do sentido inerente ao eídos platônico está correlacionada à questão dos sentidos, especialmente do ver.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Da essência da verdade". In: Ser e verdade. Petrópolis: Vozes, 2007.
- Ver também:
3
- Há o universal abstrato e o universal concreto. Os sentidos se fazem presentes no universal concreto, mas não são os sentidos tomados racionalmente. Há nos sentidos o lado, a dimensão emocional, esta não pode ser tomada como o oposto do racional, ou seja, o universal abstrato. Ela remete muito mais para o aspecto criativo, para a dimensão imaginária. Mas também esta pode ser entendida equivocadamente. Não significa algo inventado, projetado, por oposição às coisas. Pelo contrário, são as coisas mesmas, em seu aspecto real e concrescente. Isso é o imaginário. É a phýsis se manifestando como lógos, como sentido e verdade, tanto mais quanto se desvelando se vela, se figurando se retrai no vazio. Todo imaginário nasce e vigora no vazio, no silêncio. À circunscrição das coisas como sentido e verdade é que constituem os valores, daí os valores estarem ligados à manifestação, à criação. Criar é manifestar valores. Por isso os valores não advêm das relações, das funções. O valor liberta, a função sistematiza. As coisas, apreendidas em funções, estabelecem os valores do sistema. Os valores crescem no vigor da dzoé, ou seja, da phýsis enquanto acontecer apropriante de desvelamento e velamento.
- Ver também: