Auscultar
De Dicionrio de Potica e Pensamento
(Diferença entre revisões)
(→4) |
(→4) |
||
(6 edições intermediárias não estão sendo exibidas.) | |||
Linha 10: | Linha 10: | ||
== 2 == | == 2 == | ||
- | : "Ouve-me. Ouve o meu [[silêncio]]. O que falo nunca é o que falo e, sim, outra coisa. Capta a ''outra coisa'' porque eu mesmo não posso" (1). Como nos diz a pensadora-poeta Clarice, a [[escuta]] real pressupõe também [[silêncio]]. Quando tal acontece, temos o [[auscultar]], a [[ausculta]]. Mas toda [[escuta]] do [[silêncio]], ou [[ausculta]], é [[pensar]]. | + | : "Ouve-me. Ouve o meu [[silêncio]]. O que falo nunca é o que falo e, sim, outra coisa. Capta a ''outra coisa'' porque eu mesmo não posso" (1). Como nos diz a pensadora-poeta Clarice, a [[escuta]] real pressupõe também [[silêncio]]. Quando tal acontece, temos o [[auscultar]], a [[ausculta]]. Mas toda [[escuta]] do [[silêncio]], ou [[ausculta]], é [[pensar]]. Mais: o que nela acontece não depende de nossa [[vontade]]. Temos, sim, que nos [[predispor]], [[abrir]] para o [[possível]] [[acontecer]]. |
: - [[Manuel Antônio de Castro]] | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
- | |||
: Referência: | : Referência: | ||
: (1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte. | : (1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte. | ||
- | |||
- | |||
== 3 == | == 3 == | ||
Linha 31: | Linha 28: | ||
: (1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: ''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 71. | : (1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: ''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 71. | ||
+ | |||
+ | == 4 == | ||
+ | : "Portanto, [[saber]] o que somos é [[acolher]] e [[auscultar]] o ''[[lógos]]'' como [[unidade]] das [[diferenças]]. Essa é a [[essência]] da [[Escuta]]: um [[sábio]] [[saber]] que [[tudo]] é [[um]]. Para ele nos remete a [[palavra cantada]] [[verdadeiramente]] [[poética]]. Por isso, o mesmo [[pensador]] insiste no [[fragmento]] 19" (1): | ||
+ | |||
+ | : " ''Não sabendo [[auscultar]], não sabem [[falar]]''" (2). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 153. | ||
+ | |||
+ | : (2) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: ''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 63. |
Edição atual tal como 15h53min de 18 de Setembro de 2020
Tabela de conteúdo |
1
- "Não sabendo auscultar, não sabem falar" (1).
- Referência:
- (1) HERÁCLITO. Fragmento 19. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 63.
2
- "Ouve-me. Ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e, sim, outra coisa. Capta a outra coisa porque eu mesmo não posso" (1). Como nos diz a pensadora-poeta Clarice, a escuta real pressupõe também silêncio. Quando tal acontece, temos o auscultar, a ausculta. Mas toda escuta do silêncio, ou ausculta, é pensar. Mais: o que nela acontece não depende de nossa vontade. Temos, sim, que nos predispor, abrir para o possível acontecer.
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.
3
- "Auscultando não a mim, mas ao Logos, é sábio concordar : tudo é um" (1). Sem dúvida nenhuma, o Logos é o sentido de tudo, pelo qual tudo se interconecta, se inter-realaciona, pois o Logos, enquanto sentido, é a linguagem que dá unidade a tudo, uma vez que a tudo perpassa. De um modo ou de outro, a realidade somente se torna realidade, isto é, unidade de tudo, na medida em que tal tornar-se da realidade é o que denominamos mundo. É por isso que sem Logos não poderia haver a verdade da realidade, ou seja, a sua manifestação ou aletheia, como apreenderam e compreenderam os gregos o que é verdade. É pelo uno que tudo é e é na medida em que o Ser é o uno.
- Referência:
- (1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 71.
4
- "Portanto, saber o que somos é acolher e auscultar o lógos como unidade das diferenças. Essa é a essência da Escuta: um sábio saber que tudo é um. Para ele nos remete a palavra cantada verdadeiramente poética. Por isso, o mesmo pensador insiste no fragmento 19" (1):
- " Não sabendo auscultar, não sabem falar" (2).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 153.
- (2) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 63.