Dança
De Dicionário de Poética e Pensamento
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). ''O que me move, de Pina Bausch'' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82. | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). ''O que me move, de Pina Bausch'' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82. | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). ''O que me move, de Pina Bausch'' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 83. |
Edição de 14h19min de 22 de Junho de 2018
1
- "Naturalmente, existem situações que deixam você sem palavras. Você tem apenas uma noção das coisas. Também as palavras não ajudam muito... elas apenas evocam as coisas. É aà que entra a dança" (1).
- Referência:
- (1) Palavras de Pina Bausch, no filme Pina, de Wim Wenders. 2011.
2
- O que há de essencial na dança é que ela incorpora a música a partir do que é comum a ambas, o silêncio, e a faz desabrochar nas possibilidades de advir ao ver, onde comparecem o figurar e o vazio, enquanto poÃesis, o vigor do poético. Mas é necessária uma reflexão especial porque, embora a dança se funde no ver/imagem, também não incorpora a imagem-conceito-representação. Se a música faz presente a escuta, a dança faz presente a figuração-imagem, mas sem representação. A dança se dá na tensão vazio/gesto. E aà é necessário pensar a poÃesis - verbo noutras dimensões e medidas. Todo andar, se mover, lugar e mundo já são dança. Ela vai estar articulada à dzoé, à vida como psyché - respiração -, a Hermes como verbo - poÃesis - ou seja, ao vigor poético.
3
- O movimento é a grande questão para os filósofos gregos e pensadores originários. A solução de Galileu para o movimento foi achada na redução do movimento à equação matemática. Matematizar o movimento é a solução moderna e cientÃfica. A metafÃsica já o fizera através da substituição da questão pelo conceito. Por isso, há uma profunda simbiose entre técnica e matemática. Daà o movimento preciso. Nessa precisão técnica muitas vezes se resolve e conceitua o gesto e a dança como gestos. Contudo, essencialmente, o movimento só é dança quando ele se manifesta como sentido e essência do agir. É que na e pela ação poética o ser humano chega a ser o que é. Ora, os gregos, ao movimento como essência e sentido do agir, chamavam poÃesis. Esta poÃesis é sempre essencialmente um agir da phýsis/nascividade/natureza. Por isso, Heidegger diz a propósito de phýsis como surgir: "[...] podemos ainda pensar o surgir como quando o homem, concentrando o olhar, surge para si mesmo, como no discurso o mundo surge para o homem e com ele se reúne a fim de que o próprio homem se revele, como o ânimo se desdobra nos gestos, como sua essência persegue o desvelamento num jogo, como sua essência se manifesta na simples existência" (1).
- O ânimo se desdobrando nos gestos é a essência da dança. Fique, porém, claro que a palavra ânimo, de anima, alma, traduz o termo grego psykhé, que quer dizer o movimento vital de inspirar e expirar no respirar: o livre viver.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 101.
4
- "Com a dança que em voltas tece o tempo e toca a terra com o peso do ritmo, na música, o corpo de filha-de-santo e de orixá é um corpo. A dança já não é a atividade de um corpo possuÃdo por um ente divino, com tais e quais caracterÃsticas, própria de tal ou qual cultura. A dança é plenamente o orixá. É plenamente a filha-de-santo. A dança é, no lugar de encontro do corpo, a filha-de-santo e o orixá. Visto que a dança traz o sentido do encontro do corpo de filha-de-santo e orixá, ela não é outra coisa senão o acontecimento do sentido de reunião desta corporeidade. Assim, não é o corpo que dança. O corpo é a dança que se dança. A dança é o peso da música na terra, sua densidade e concretude. Instaurando o lugar da música, a dança é um corpo com o atabaque com o qual ela dança. O atabaque, fazendo vibrar no ar que se respira, no tempo que se abre generoso ao acontecimento da dança, é um com esta dança que faz o seu ritmo ser plenamente experienciado como música. O atabaque, tecendo o tempo em ritmo concede à dança o lugar de seu acontecimento" (1).
- Referência:
- (1) BRAGA, Diego. A terceira margem do mito: hermenêutica da corporeidade. In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 57.
5
- A profunda ligação e integração de corpo e dança não é simplesmente uma questão de posicionamento artÃstico ou estético, mas, sim, poético-onto-fenomenológico. Diz Capra, citando Varela e Coutinho: "[...] a dança mútua entre sistema imunológico e corpo [...] permite que o corpo tenha uma identidade mutável e plástica ao longo de toda a sua vida e seus múltiplos encontros" (1).
- Referência:
- (1) CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 220.
6
- "Como a dança faz o nada? Aqui me lembro de uma passagem do conto “O espelho†de Guimarães Rosa, onde diz: “Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo†(Rosa: 1967, 71). Para mim, a dança é o nada acontecendo. Portanto, a dança é um milagre" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 81.
7
- "A dança jamais pode se por a serviço de qualquer sistema, caso contrário perderá sua identidade, seu próprio. E qual é o próprio da dança, a sua identidade? Esta identidade não pode ser diferente da identidade de todo ser humano. O próprio é a medida de cada um. À realização dessa medida corresponde a história de cada um, que é sempre singular e irrepetÃvel. Ou ao menos deveria ser. A medida é o destino" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.
8
- "A realidade é o labirinto que exige de nós uma caminhada de sentido, um motivo que nos mova em nossa existência. É para esse sentido que a dança nos conduz, se a deixarmos operar ,se tivermos a coragem de nos entregarmos a ela em sua vigência. Na dança poética somos tomados pelo que somos, pois ser é sempre uma tarefa poética, onde quem vigora é o princÃpio: o não cessar de estar sendo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 83.