Personagem-questão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 00h53min de 23 de Outubro de 2017 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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O que é uma personagem-questão? É uma personagem que como tal não existe senão para encarnar, hipostasiar uma ou mais questões. O próprio Rosa as denomina persona-gente. Riobaldo aparece contando para um leitor-questão toda a estória e história de sua vida. Porém, o leitor, aparentemente nunca diz nada. Só escuta. É nessa escuta que podemos, dialogando, escutar tanto o que a imagem-questão ser-tão quer nos dizer, quanto a imagem-questão veredas. O que é imagem-questão? É uma imagem-poética que se torna verbo e presença para manifestar de modo vivo a questão ou questões. Por isso também podemos nomeá-la imagem-poética, na medida em que toda poética pensa o acontecer do ser, no dizer do Rosa, o ser-tão. Esse dizer é o que quis dizer com verbo e presença, pois no caso trata-se da essência do agir e pensar.


- Manuel Antônio de Castro


Para fugir da terminologia retórico-metafísica criei a denominação personagem-questão, ou seja, uma questão (que nós não temos, mas que nos tem) dita, centralizada e condensada na personagem escolhida. Capitu, Mme. Bovary, Dom Quixote, Édipo etc. são personagens-questões. As imagens-questões se entre-tecem com o poder verbal-ambíguo da metá-fora, ou seja, literalmente: um conduzir no e pelo vigor do "entre" (meta). A personagem-questão é ambígua e retira sua ambiguidade do "entre", na medida em que a linguagem é a própria manifestação do Da-sein como Entre-ser, essência do ser humano em sua dignidade. O poder e vigor da personagem-questão está no fato de que conjuga tempo, linguagem, memória, narrar. Por isso ela repousa, como quietude enquanto tempo, "entre" o ser escrita e o ser lida, entre o ser vista, pensada, figurada e o ser narrada. Melhor, entre o ser pensada e experienciada. A personagem-questão é um modo concentrado e verbal de poíesis enquanto narrar, pelo qual a realidade acontece realizando-se em realizações que constituem o real. Como tal, concentra a fala de toda escuta e aguarda o desvelo poético da leitura do leitor aberto à escuta do logos, num diálogo originário. É a dialética originária. Quando tal acontece, dá-se no leitor uma aprendizagem. O que é aprendizagem? A apreensão da Cura como fonte de todas as questões que essencialmente fundam o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro