Nome

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) GADALLA, Moustafa. "Tehuti, a Língua Divina". In: -----. ''Cosmologia egípcia - o universo animado''. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 72.
: (1) GADALLA, Moustafa. "Tehuti, a Língua Divina". In: -----. ''Cosmologia egípcia - o universo animado''. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 72.
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: "...Uzodinma quis [[saber]] se me incomodava [[ser]] tratado por mulato Nunca me reconheci em [[classificações]] [[racistas]]. Na verdade, nem sequer me [[reconheço]] no meu [[nome]], que me soa tão alheio agora quanto me soava quando era [[criança]]. Acho tão [[estranho]] [[ser]] apresentado como branco, quanto como mulato ou indiano - o que também [[acontece]]. Nenhuma [[raça]] me [[define]]. Não [[sou]] uma [[raça]]. Respondi que aquela [[palavra]] tanto pode magoar quanto [[celebrar]] ou [[acarinhar]]. O que magoa é o [[sentimento]] que nela coloca quem a utiliza" (1).
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: Referência:
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Palavras más". Crônica publicada no "Segundo Caderno", de ''O Globo'', sábado, 21-09-2019, p. 8.

Edição de 14h20min de 21 de Setembro de 2019

1

Guimarães Rosa diz: "Era um nome, ver o que. Que é que é um nome? Nome não dá, recebe" (1). E noutra passagem complementa: "O que é pra ser - são as palavras" (2). E como! Recebe todas as nossas aventuras e desventuras, vias e desvios, falas e silêncio. Essa tensão entre nome e palavra se torna importante porque o nome indica algo ou alguém, ao passo que a palavra nesta citação está se referindo a Hermógenes. E aqui em palavra ressoa o mito de Hermes. Este coloca o sentido original de palavra: mediação entre duas instâncias. Daí Hermes ser o mensageiro dos deuses. E, no caso, tal mito se torna a questão da verdade. Mas esta não entendida como algo pétreo e definitivo. Pelo contrário: há sempre aí a tensão entre verdade e não-verdade. Por isso, no mito o personagem Hermes em determinado momento declara: Direi sempre a verdade, mas não toda a verdade. Cf. o mito de Hermes para melhor compreender tal personagem-questão.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 121.
(2) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 39.


2

"O homem não é só um ser simplesmente finito. O homem é o mais finito dos seres, porque, na finitude, ele sente sempre o infinito do nada, mesmo em toda pretensão, escamoteada, de ser infinito. É na finitude sem fim do nada que afirma, em tudo que faz e/ou deixa de fazer, o infinito. Por isso, todo nome, que dá, é sempre um pseudônimo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 121.


3

"Desde a criação o homem é, portanto, o denominador universal do ser de tudo que é. Apenas para ele mesmo não encontrou seu nome próprio. É por isso que todo nome dado ao homem e a seus modos de ser não é próprio, é sempre pseudônimo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 122.


11

"Pois justamente a relação entre coisa e palavra, e isso na configuração de ser e dizer, foi uma das primeiras coisas que o pensamento ocidental colocou em palavras. Essa relação avassalou o pensamento de tal modo que se pronunciou numa única palavra. Essa palavra diz: logos. Essa palavra é, ao mesmo tempo, nome para o ser e para o dizer" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A essência da linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 144.


12

"Nomes são palavras pelas quais o que já é, o que se considera como sendo, se torna tão concreto e denso que passa a brilhar e a florescer por toda parte na terra, predominando como beleza. Os nomes são palavras que apresentam. Os nomes apresentam o que já é, entregando-o para a representação. Mediante essa sua força de apresentação, os nomes testemunham seu poder paradigmático sobre as coisas" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 178.


13

"...os textos egípcios da criação enfatizam repetidamente a crença sobre a criação por meio da Palavra. Descobrimos no Livro da Vaca Divina (encontrado no túmulo de Tut-Ankh-Amen), que Ra cria os céus e seus anfitriões simplesmente ao pronunciar algumas palavras cujo som evoca os nomes das coisas - que surgem respondendo ao seu chamado. Quando seu nome é pronunciado, a coisa se torna um ser, pois o nome é uma realidade, a própria coisa. Em outras palavras, cada som particular tem/é sua forma correspondente..." (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "Tehuti, a Língua Divina". In: -----. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 72.


14

"...Uzodinma quis saber se me incomodava ser tratado por mulato Nunca me reconheci em classificações racistas. Na verdade, nem sequer me reconheço no meu nome, que me soa tão alheio agora quanto me soava quando era criança. Acho tão estranho ser apresentado como branco, quanto como mulato ou indiano - o que também acontece. Nenhuma raça me define. Não sou uma raça. Respondi que aquela palavra tanto pode magoar quanto celebrar ou acarinhar. O que magoa é o sentimento que nela coloca quem a utiliza" (1).


Referência:
(1) AGUALUSA, José Eduardo. "Palavras más". Crônica publicada no "Segundo Caderno", de O Globo, sábado, 21-09-2019, p. 8.
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