Ideia

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 15h14min de 6 de Setembro de 2013 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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"Se o horizonte aberto de Platão se denomina ideia e se as cordas do limite se dizem como coisas, a descoberta de Platão foi perceber que as ideias não são anteriores, nem imanentes, nem posteriores às coisas. As ideias são como as coisas, aparecendo somente no ato de realização do mundo. O horizonte só aparece na odisseia realizadora do olhar" (1). Mas devemos assinalar que tanto o horizonte quanto o olhar já são doação do que se dá como e na clareira. Se não nos abrirmos para a clareira na qual já estamos pro-jetados como entre-ser, podemos facilmente cair nas malhas da epistemologia.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia S. C. Ensaios de filosofia. Vozes: 1999, p. 173.

2

Ideia está ligada ao télos (fim/sentido) e ela significa o aspecto, a fisionomia. Isto poderia facilmente ser confundido com a aparência ou o que lhe é oposto: o ideal atemporal. Tal não se dá em Platão. Eis como Heidegger explica: "Isso que alguma coisa é, o ser-isso de alguma coisa (a quididade da casa, o brotar do broto etc.) é o que Platão apreende como idéa, o aspecto, a fisionomia que mostra alguma coisa, de tal modo que esta se mostra em seu ser-isso. A julgar pela visibilidade, essas 'fisionomias' das coisas e de cada ente não são, porém, visualizadas numa visão sensível. São a fisionomia não-visível, a fisionomia supra-sensível" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 281.

3

"Thea (veja-se teatro) diz a fisionomia, o perfil em que alguma coisa se mostra, a visão que é e oferece. Platão chama esse perfil, em que o vigente mostra o que ele é, de eîdos. Ter visto, eidenai, o perfil é saber" (1). A ideia (eîdos) lida dentro do vigorar e do contexto do pensamento de Platão, o que no platonismo foi pensado como ideia, e é o que se repete hoje inadvertidamente, o que nela pensa o grande pensador é algo completamente diferente. Ideia é algo a ser pensado e não a ser repetido de uma maneira abstrata e vazia. Platão exige de nós o exercício do pensar. Eîdos é o aspecto em que a realidade em seu manifestar-se (verdade) se dá a ver. Nós só podemos ver aquilo que já de antemão se deu a ver. Mas vemos muito pouco do que se dá a ver. Por Isso, para o pensador Platão, o eîdos, o aspecto em que a realidade se dá a ver enquanto o a-ser-pensado, diz o vigorar desse dar-se a ver. Não é representação nem conceito abstrato. Só sabemos por podermos ver o que se dá a ver. Isso é o eîdos e não o nosso modo de conhecer o que vemos.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 45.

4

Eidos ou ideia é o vigorar das questões do questionar inerente a todo ser humano em suas possibilidades ontológicas, brindo estas sempre novas dimensões pela dialética de ideal e real. Ideia sendo possibilidades que o ser humano recebeu jamais pode ser reduzida a algo enquanto representação ou estando em um outro mundo. Dialética então diz aí a concreticidade da realidade na realização do real, jamais podendo haver qualquer dicotomia. Neste horizonte da ideia como possibilidades qualquer posição advinda do Platonismo perde sua validade. O argumento para tal se funda numa simples contatação: Platão jamais escreveu qualquer tratado, mas Diálogos", fundados nessa dialética.


- Manuel Antônio de Castro

5

"É, fundamentalmente, através da instituição da ideia, como critério privilegiado de apreensão do real, que se é capaz de constituir um mundo que, se não é inteiramente sem unidades, acaba por fazer das unidades meros operadores expostos ao domínio da identidade, ou por outra, um mundo de unidades reversíveis, reprocessáveis, retornáveis a estágios prévios, anteriores à con-formação dessas mesmas unidades" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 73.


6

"[...] ideia é a possibilidade que todo e qualquer ser humano tem de fazer subsumir o seu relacionamento com o real configurando este, para além ou para aquém de sua múltipla concretude advinda de suas unidades componentes, como composto por gêneros abstratos que produzem a simplificação deste mesmo real" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 221.