Criança

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Atentemos para o que nos diz a [[palavra]] infantil, uma vez  que falar de [[literatura]] é lutar com [[palavras]].  [[Infantil]] compõe-se do prefixo ''in-''  e de ''-fantilis''.  A forma ''fantilis'' tem sua [[origem]] no [[verbo]] ''for, fatus sum, fari'', que significa: [[dizer]], predizer e [[celebrar]] em [[poesias]].  Ora, se observarmos a [[palavra]] infantil superficialmente, chegamos a uma conclusão, até de certa maneira cômica, pois, olhando o dicionário, o prefixo ''in-'' indica a negação.  Logo, [[literatura]] [[infantil]] é a [[literatura]] que não fala ou a [[literatura]] para o [[homem]] enquanto não fala.  Este aparente [[paradoxo]] pode ser resgatado.  Se a [[criança]] ainda não exercita o [[sistema]] de [[signos]], não quer dizer que ela não more, não se movimente na [[luz]] da [[Linguagem]].  E uma constatação nos confirma isto.  Podemos afirmar que a [[criança]] ainda não fala,  mas efabula, faz suas [[fabulações]].  O verbo [[fabular]] ou [[efabular]] tem o mesmo radicl da [[palavra]] [[infantil]], o [[verbo]] ''fari''.  Logo, o [[sentido]] profundo do [[verbo]] ''fari'' não se confunde com o simples falar ao nível da [[língua]], mas remete para a [[Linguagem]], onde a [[criança]] eclode no  que é e a [[realidade]] se manifesta" (1).
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: "Atentemos para o que nos diz a [[palavra]] infantil, uma vez  que falar de [[literatura]] é lutar com [[palavras]].  [[Infantil]] compõe-se do prefixo ''in-''  e de ''-fantilis''.  A forma ''fantilis'' tem sua [[origem]] no [[verbo]] ''for, fatus sum, fari'', que significa: [[dizer]], predizer e [[celebrar]] em [[poesias]].  Ora, se observarmos a [[palavra]] infantil superficialmente, chegamos a uma conclusão, até de certa maneira cômica, pois, olhando o dicionário, o prefixo ''in-'' indica a negação.  Logo, [[literatura]] [[infantil]] é a [[literatura]] que não fala ou a [[literatura]] para o [[homem]] enquanto não fala.  Este aparente [[paradoxo]] pode ser resgatado.  Se a [[criança]] ainda não exercita o [[sistema]] de [[signos]], não quer dizer que ela não more, não se movimente na [[luz]] da [[Linguagem]].  E uma constatação nos confirma isto.  Podemos afirmar que a [[criança]] ainda não fala,  mas efabula, faz suas [[fabulações]].  O verbo [[fabular]] ou [[efabular]] tem o mesmo radical da [[palavra]] [[infantil]], o [[verbo]] ''fari''.  Logo, o [[sentido]] profundo do [[verbo]] ''fari'' não se confunde com o simples falar ao nível da [[língua]], mas remete para a [[Linguagem]], onde a [[criança]] eclode no  que é e a [[realidade]] se manifesta" (1).
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. ''Tempos de Metamorfose''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 132.
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. '''Tempos de Metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 132.
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: "Escrever para [[crianças]] e [[adolescentes]] é muito difícil. Em primeiro lugar há o desafio  de [[seduzir]] [[leitores]] inexperientes. A [[linguagem]] deve ser rica, sem ser inacessível; formativa e informativa, sem [[parecer]] uma dissertação. Deve ter [[humor]] e [[poesia]]. O [[escritor]] precisa recuperar  o [[olhar]] [[inaugural]] das [[crianças]], ou seja, precisa voltar a [[ver]] o [[mundo]] como se fosse pela primeira vez. Em segundo lugar, [[crianças]] estão atentas aos detalhes e não perdoam erros. Se gostam e um livro irão lê-lo, ou obrigar os pais a lê-lo, até saberem de cor parágrafos inteiros" (1).
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: "Escrever para [[crianças]] e [[adolescentes]] é muito difícil. Em primeiro lugar há o desafio  de [[seduzir]] [[leitores]] inexperientes. A [[linguagem]] deve ser rica, sem ser inacessível; formativa e informativa, sem [[parecer]] uma dissertação. Deve ter [[humor]] e [[poesia]]. O [[escritor]] precisa recuperar  o [[olhar]] [[inaugural]] das [[crianças]], ou seja, precisa voltar a [[ver]] o [[mundo]] como se fosse pela primeira vez. Em segundo lugar, [[crianças]] estão atentas aos detalhes e não perdoam erros. Se gostam de um livro irão lê-lo, ou obrigar os pais a lê-lo, até saberem de cor parágrafos inteiros" (1).
: Referência.
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Escrever a partir dos sonhos". In: ''O Globo'', "Segundo Caderno", sábado, 13-4-2019, p. 8.
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Escrever a partir dos sonhos". In: '''O Globo''', "Segundo Caderno", sábado, 13-4-2019, p. 8.
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: "Também melhor se entende a [[ficcionalidade]] se atentarmos para o terceiro significado do verbo latino ''fingere'': [[imaginar]].  O [[imaginar]] é o contraponto do [[formar]].  O contraponto indica a [[presença]] da tensão do [[limite]] e do [[ilimitado]], da [[diferença]] e da [[identidade]], da [[língua]] e da [[Linguagem]].  O [[formar]] sem o [[imaginar]] origina os formalismos, provocando equívocos sobre o fazer [[literário]].  Já o [[literário]] se realiza quando o [[imaginário]] irrompe em [[produções]].  É isto o que caracteriza fundamentalmente a [[literatura]] infantil: uma [[presença]] marcante e irrefreável do [[imaginário]]. Porque a [[criança]] é mais sensível ao [[imaginário]].  Nela, o [[sonho]] é [[realidade]] e a [[realidade]] é [[sonho]].  Nela, o [[imaginário]] é [[realidade]] e a [[realidade]] é [[imaginário]]. Ainda não sofreu o processo de [[formação]] que a deforma para o real-imaginário e a deseduca para a humanização.  Pelo [[imaginar]], o [[homem]] consuma a sua humanização, na medida em que manifesta o [[sentido]] do que ele é.  Isso se chama [[libertação]]. Na realidade ficcional-literária o [[imaginar]] é o [[real]] vigorando" (1).
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: "Também melhor se entende a [[ficcionalidade]] se atentarmos para o terceiro significado do verbo latino ''fingere'': [[imaginar]].  O [[imaginar]] é o contraponto do [[formar]].  O contraponto indica a [[presença]] da tensão do [[limite]] e do [[ilimitado]], da [[diferença]] e da [[identidade]], da [[língua]] e da [[Linguagem]].  O [[formar]] sem o [[imaginar]] origina os formalismos, provocando equívocos sobre o fazer [[literário]].  Já o [[literário]] se realiza quando o [[imaginário]] irrompe em [[produções]].  É isto o que caracteriza fundamentalmente a [[literatura]] infantil: uma [[presença]] marcante e irrefreável do [[imaginário]]. Porque a [[criança]] é mais sensível ao [[imaginário]].  Nela, o [[sonho]] é [[realidade]] e a [[realidade]] é [[sonho]].  Nela, o [[imaginário]] é [[realidade]] e a [[realidade]] é [[imaginário]]. Ainda não sofreu o processo de [[formação]] que a deforma para o real-imaginário e a deseduca para a humanização.  Pelo [[imaginar]], o [[homem]] consuma a sua humanização, na medida em que manifesta o [[sentido]] do que ele é.  Isso se chama [[libertação]]. Na [[realidade]] ficcional-literária o [[imaginar]] é o [[real]] vigorando" (1).
: Referência:
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. ''Tempos de Metamorfose''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 134.
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. '''Tempos de Metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 134.

Edição atual tal como 22h15min de 5 de Dezembro de 2022

1

"O tempo (Aión) é uma criança, criando, jogando o jogo de pedras, vigência da criança" (1).
Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73.

2

"Atentemos para o que nos diz a palavra infantil, uma vez que falar de literatura é lutar com palavras. Infantil compõe-se do prefixo in- e de -fantilis. A forma fantilis tem sua origem no verbo for, fatus sum, fari, que significa: dizer, predizer e celebrar em poesias. Ora, se observarmos a palavra infantil superficialmente, chegamos a uma conclusão, até de certa maneira cômica, pois, olhando o dicionário, o prefixo in- indica a negação. Logo, literatura infantil é a literatura que não fala ou a literatura para o homem enquanto não fala. Este aparente paradoxo pode ser resgatado. Se a criança ainda não exercita o sistema de signos, não quer dizer que ela não more, não se movimente na luz da Linguagem. E uma constatação nos confirma isto. Podemos afirmar que a criança ainda não fala, mas efabula, faz suas fabulações. O verbo fabular ou efabular tem o mesmo radical da palavra infantil, o verbo fari. Logo, o sentido profundo do verbo fari não se confunde com o simples falar ao nível da língua, mas remete para a Linguagem, onde a criança eclode no que é e a realidade se manifesta" (1).


CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 132.

3

"Escrever para crianças e adolescentes é muito difícil. Em primeiro lugar há o desafio de seduzir leitores inexperientes. A linguagem deve ser rica, sem ser inacessível; formativa e informativa, sem parecer uma dissertação. Deve ter humor e poesia. O escritor precisa recuperar o olhar inaugural das crianças, ou seja, precisa voltar a ver o mundo como se fosse pela primeira vez. Em segundo lugar, crianças estão atentas aos detalhes e não perdoam erros. Se gostam de um livro irão lê-lo, ou obrigar os pais a lê-lo, até saberem de cor parágrafos inteiros" (1).


Referência.
(1) AGUALUSA, José Eduardo. "Escrever a partir dos sonhos". In: O Globo, "Segundo Caderno", sábado, 13-4-2019, p. 8.

4

"Também melhor se entende a ficcionalidade se atentarmos para o terceiro significado do verbo latino fingere: imaginar. O imaginar é o contraponto do formar. O contraponto indica a presença da tensão do limite e do ilimitado, da diferença e da identidade, da língua e da Linguagem. O formar sem o imaginar origina os formalismos, provocando equívocos sobre o fazer literário. Já o literário se realiza quando o imaginário irrompe em produções. É isto o que caracteriza fundamentalmente a literatura infantil: uma presença marcante e irrefreável do imaginário. Porque a criança é mais sensível ao imaginário. Nela, o sonho é realidade e a realidade é sonho. Nela, o imaginário é realidade e a realidade é imaginário. Ainda não sofreu o processo de formação que a deforma para o real-imaginário e a deseduca para a humanização. Pelo imaginar, o homem consuma a sua humanização, na medida em que manifesta o sentido do que ele é. Isso se chama libertação. Na realidade ficcional-literária o imaginar é o real vigorando" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 134.
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