Diálogo
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 01h59min de 26 de Julho de 2016 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- Em geral não se leva em conta a importância do fato de que cada dialogante já se encontra, ontologicamente, numa posição. Ora, esta posição já determina a nossa finitude ontológica, pois ninguém pode assumir todas as posições. Isto se torna essencial para a própria questão da verdade, em três dimensões: 1a. Cada dialogante não pode assumir todas as posições; 2a. Uma vez que a verdade da realidade se dá e retrai, jamais o não-visto e não-desvelado pode ser objeto de uma posição; 3a. Daí advém que todo diálogo já vigora na essência da dialética da verdade (aletheia) da realidade. Se agora nos lembrarmos que a palavra para posição, em grego, é thesis, significa isso que o ser de todo sendo jamais pode ser reduzido a uma posição, seguido de uma antítese e finalizado numa síntese, uma vez que jamais pode haver uma síntese total, pois a verdade é a dobra dialética de desvelamento e velamento. Toda dialética é necessariamente aberta, inconclusa. Jamais podemos ver tudo que se dá a ver e muito menos ver o que nunca se dá a ver. "Não se pode estabelecer todo relacionamento numa posição, a não ser aceitando a multiplicidade de posições. Na multiplicidade você se coloca, assume uma posição. Sempre há o outro, o diferente, tanto o outro do outro, quanto o outro de si mesmo, em cada posição. O outro é a diferença do próprio movimento de constituir uma diferença, uma posição. Toda posição se mantém numa processo de diferenciação, já é em si mesma um outro e traz consigo a dinâmica de diferenciação de sua proveniência" (1). A questão da posição se torna decisiva para compreender a profundidade de uma outra questão decisiva na vida de todo ser humano e até na sucessão dialética das épocas: o diálogo. E assim o diálogo externo (com os outros) é acompanhado ou solicitado um diálogo interno (com o outro de si mesmo), gerando, portanto, tanto uma dialética externa quanto uma externa. Mas estas denominações espaciais não levam em conta que a própria dialética é o sentido tanto do tempo quanto do espaço. Eis o complexo horizonte tanto do diálogo quanto da dialética.
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega: uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 212.
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- "Ninguém pode fazer uso do que os outros são, nem mesmo uso mental" (1).
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 62.
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- Há a passagem nº III do ensaio de Heidegger: "Hölderlin e a essência da poesia", onde Heidegger discute a essência do diálogo, a partir de verso do Hölderlin: "Desde que somos um diálogo e podemos ouvir uns aos outros" (1). Há aí o grande tema da escuta e da fala ligado ao diálogo.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Approche de Hölderlin. Paris: Gallimard, 1973, p. 48.
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- Podemos falar no diálogo de quatro instâncias: o eu, o outro, o lógos, o diá-. O lógos funda os três diálogos. Porém, no diálogo há algo bem mais complexo. Podemos então considerar seis instâncias:
- 1ª Essência do diálogo como disputa (1), (2);
- 2ª Essência da obra de arte como disputa dialógica;
- 3ª Essência do pensamento como diálogo (disputa entre as diferentes obras dos pensadores);
- 4ª Essência do pensamento como diálogo/disputa com: a) Phýsis/Ser; b) Ser-humano; c) Arte;
- 5ª Essência da poíesis como diálogo de disputa de poíesis e pensamento, ou seja, poesia pensante e pensamento poético;
- 6ª Essência, do ponto de vista do ser-humano: o agir dele no fazer obras ou desvelar, como diálogo/disputa. Então aqui o Diálogo se dá como Leitura. O interpretar é, portanto, um diálogo ético, porque todo interpretar é um interpretar-se pela escuta do lógos. "De todas as coisas a guerra é pai, de todas as coisas é senhor; a uns mostrou deuses, a outros, homens; de uns fez escravos, de outros, livres" (3).
- Referências:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. Lisboa: Edições 70, 2008.
- (2) HERÁCLITO. "Fragmento 53". In: ANAXIMANDRO; HERÁCLITO; PARMÊNIDES. Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991.
- (3) Idem, p. 73.
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- "De um diálogo faz parte que seu falar fale do mesmo e isso de um pertencer ao mesmo" (1).
- "O pensar, porém, é o poematizar da verdade do ser no diálogo historial dos pensadores" (2).
- Referências:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Pré-Socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 25.
- (2) ibidem, p. 47.
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- É do diálogo que seu falar fale do mesmo. E isso a partir de um co-pertencimento ao mesmo dos dialogantes. Na palavra portuguesa diálogo, o mesmo é o próprio lógos, ou seja, a Linguagem enquanto mundo e memória. Só porque co-pertencemos ao lógos e ele fala é que, se escutarmos, podemos dialogar, na medida em que a fala, como identidade, funda as diferenças de eu e tu, de masculino e feminino, de ser e não-ser. É no sentido do mesmo que a Linguagem é a mãe de todas as línguas.
- Ver também:
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- Em sua essência, o diálogo é dramático e não uma questão formal de narrativa direta. A estrutura dramática do diálogo surge a partir da essência dramática do real-ser-humano como entre-ser. As figurações narrativas todas provêm desta essência do real-ser-humano. Por isso, o narrar está ligado ao conhecer, mas este não se constitui em si pelo narrar e, sim, pela conjuntura hermenêutico-poético-ontofenomenológica. Esta se dá no horizonte da compreensão como pre- e entre-compreensão. É o que Heidegger trata em Ser e tempo como Vorhabe/o ter prévio, "Vorsicht/o ver prévio e Vorgriff/o perceber prévio. Mas estes se manifestam no ser-humano porque este é essencialmente um Da, um Entre.
- Neste sentido, as tradicionais divisões dos gêneros são as figurações dos três diálogos: o diálogo comunicativo (as coisas fazem parte essencial dos diálogos, daí a difícil e quase impossível caracterização da coisa) é a narração épica e a narração do romance. O autodiálogo é o lírico. E o dramático é o heterodiálogo, ou seja, a vigência ambígua das conjunturas na disputa de um eu e de um tu. O que vai ser comum aos três diálogos, que lhes dá unidade e identidade nas diferenças, é o lógos/linguagem. É claro que esta divisão é apenas indicativa e muito conceitual, pois aí se perderiam as diferenças e a originalidade de cada obra. Mas de qualquer maneira a densidade dialogal acompanha sempre as obras de arte da palavra. O que deve ser entendido agora como dramático é algo que está para além do formal narrativo. Todo diálogo se funda num entre, dual e ambíguo. É neste sentido que é tomada a palavra dramático no início desta ficha. O prefixo de diá-logo, diá- significa: através de; entre.
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- Ler um autor poeticamente é se apropriar do que lhe é próprio como pensamento do a-ser-pensado. Se alguém é heideggeriano, marxista, nietzscheano ou coisa semelhante, não é o que lhe é próprio, é um simulacro, uma representação da manifestação do que alguém é. E cada um é convidado e convocado sempre e sempre a ser o que lhe é próprio. Esse ser próprio se dá no diálogo com os outros, mas só e tão-somente na medida do lógos: a linguagem. Por esta e nesta seremos uma co-letividade dialogante e aí o outro - Heidegger, Marx, Nietzsche, Platão, ou seja quem for, comparece como co-lega dialogante da aventura e ventura do a-ser-pensado, do ser questionado e experienciado. A um tal diálogo se chama diálogo de diferenças. Por isso, a todo diálogo precede e se faz presente um questionar.
- Ver também:
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- "Não podemos discutir, aqui, de um modo aprofundado, em que extensão e por qual razão todo o diálogo e toda a fala é sempre uma tradução no interior da própria linguagem, precisamente, o que significa 'traduzir'" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Parmênides. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 29.
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- Em geral não se leva em conta a importância do fato de que cada dialogante já se encontra, ontologicamente, numa posição.
"Não se pode estabelecer todo relacionamento numa posição, a não ser aceitando a multiplicidade de posições. Na multiplicidade você se coloca, assume uma posição. Sempre há o outro, o diferente, tanto o outro do outro, quanto o outro de si mesmo, em cada posição. O outro é a diferença do próprio movimento de constituir uma diferença, uma posição. Toda posição se mantém numa processo de diferenciação, já é em si mesma um outro e traz consigo a dinâmica de diferenciação de sua proveniência" (1). A questão da posição se torna decisiva para compreender a profundidade de uma outra questão decisiva na vida de todo ser humano e até na sucessão dialética das épocas: o diálogo.
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega: uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 212.
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- "Dialogar não é monologar, é exercitar a difícil disciplina da escuta, onde acontecem as diferenças. Isso é aprender a pensar. Quando este se aprende, ler e escrever obtêm o seu máximo desempenho" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 26.