Fala

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Para os [[mortais]], [[falar]] é [[evocar]] pelo [[nome]], é chamar, a partir da simplicidade da [[diferença]], [[coisa]] e [[mundo]] para vir. Na [[fala]] dos [[mortais]], o dito do [[poema]] é puro chamado. [[Poesia]] nunca é propriamente apenas um modo (''melos'') mais elevado da [[linguagem]] cotidiana. Ao contrário. É a [[fala]] cotidiana que consiste num [[poema]] esquecido e desgastado, que quase não mais ressoa" (1).

Edição de 01h36min de 3 de Novembro de 2018

1

Para experienciar a escuta é necessário dar ouvidos à fala. Há duas falas: a do poeta e a da musa. Há então a escuta da fala e a fala da escuta. No diálogo se dá uma dupla fala e uma dupla escuta, mas que supõe uma outra fala e uma outra escuta. No dizer de Emmanuel Carneiro Leão: "Assim a Linguagem é o éthos, a estância onde o extraordinário visita o homem... A partir desta estância, os filósofos dizem sempre a mesma coisa sobre a mesma coisa" (1). Para chegar "à mesma coisa", Emmanuel propõe três leituras e é na terceira que se pode chegar à "mesma coisa" que ele identifica com o que Parmênides nos propõe em seu pensamento: o "[...] coração intrépido da verdade de circularidade perfeita!" (2). Esta fala é o silêncio da Linguagem. Por isso acrescenta: "É que a compreensão só se instala no instante em que começa a brilhar em nós o que o texto não diz mas quer dizer em tudo quanto diz" (3). Essa FALA, esse núcleo é a medida. Há a fala, o silêncio e a escuta: estes são articulados em todos os empenhos (agir) de perguntar e desempenhos de responder.
Há a fala intramundana: a linguagem instrumental e reprodutiva/cotidiana. E há a fala como manifestação: a linguagem poética. Aqui o que fala é o que se manifesta no vigor do que se oculta, o silêncio da linguagem como a fala poética. A ESCUTA é a eclosão da compreensão do sentido e da verdade do ser, do sentido e da verdade do outro, do TU/EU, tanto em relação ao hétero-diálogo quanto ao auto-diálogo, onde cada eu é também um tu, porque é e não-é. Tanto no hétero-diálogo como no auto-diálogo a possibilidade da compreensão acontece porque ambos se dão na identidade e unidade do lógos, fundamento de todos os diálogos. O lógos fala, não o homem. O homem só fala quando escutando, corresponde à fala do lógos (4).


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O pensamento de Heiddeger no silêncio de hoje". In: Revista Vozes, nº 4. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 6.
(2) Idem, p. 7.
(3) Idem.
(4) Cf. HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2008.


Ver também:

2

A história do Ser é fala e escuta. A escuta, no essencial, é a abertura de toda ek-sistência, é o Da (entre) - de todo Sein (ser): Da-sein ou Entre-ser, onde quem fala, pensa, age, sente é o silêncio enquanto velamento e Noite, que se retrai para que o dia apareça como dia da Noite. Na história do Ser, esse retraimento nos FALA nas Ideias de Platão, no Ens Creatum da Idade Média, no Cogito de Descartes ou ideias claras e distintas da Modernidade. Por isso A. R. Buzzi diz: "O processamento do Ser em sua história é sempre uma fábula. A fábula moderna, isto é, a via em que o homem hoje se colocou para processar a verdade de seu ser é o Discours de la méthode (Discurso do método), onde as figuras exponenciais não são táteis como na fábula mítica, nem deuses, anjos e demônios como na fábula teológica; são as ideias claras e distintas. As ideias claras e distintas são as figuras exponenciais da fábula do cogito" (1). Até onde as ideias claras e distintas nos lançam no abismo da Noite? Até onde a fábula do cogito (penso, raciocino) admite-se como fala do que se dá a escutar como fala, não do cogito, do penso, da razão, mas do silêncio?
No sintagma: fala E escuta, que lugar ocupa o "E"? Como conciliar os dois sintagmas: fala E escuta/ fala E silêncio? Não é a escuta a mediação ou o E de fala E silêncio? A escuta pressupõe sempre a fala e o silêncio. A questão é em que níveis eles se dão.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) BUZZI, A. R. "A modernidade". In: Revista Vozes, nº 4. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 26.


3

A fala é filha sempre original da mãe/pai que é o silêncio. A voz mais poderosa do silêncio em todos os tempos e da realidade como tempo é enunciada, pronunciada e anunciada na poiesis, a fala de sentido de todas as artes. A poiesis é a voz do silêncio. Mas só ouve uma tal voz quem cultiva-cultua o silêncio. A fala do silêncio é o originário de todas as culturas e cultos, a identidade de todas as diferenças, a voz crítica de toda libertação.


- Manuel Antônio de Castro.


4

"Para os mortais, falar é evocar pelo nome, é chamar, a partir da simplicidade da diferença, coisa e mundo para vir. Na fala dos mortais, o dito do poema é puro chamado. Poesia nunca é propriamente apenas um modo (melos) mais elevado da linguagem cotidiana. Ao contrário. É a fala cotidiana que consiste num poema esquecido e desgastado, que quase não mais ressoa" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 24.
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