Gramática
De Dicionrio de Potica e Pensamento
(Diferença entre revisões)
(→5) |
(→6) |
||
Linha 68: | Linha 68: | ||
:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p.30. | :(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p.30. | ||
+ | |||
+ | |||
+ | |||
+ | == 7 == | ||
+ | : "O [[esquecimento]] do [[poder]] [[verbal]] da [[palavra]] é tão forte e dominante que, [[gramaticalmente]], o [[verbo]] [[ser]], o [[verbo]] de todos os [[verbos]], não passa de um [[verbo]] de ligação ou auxiliar de outros. Um parasita. Nessa [[tradição]], o [[esquecimento]] do [[destinar-se]] do [[sentido do ser]] nos projeta em [[interpretações]] [[substantivo]]-[[subjetivas]] e não em [[interpretações]] [[verbais]], como é o [[próprio]] [[acontecer]] da [[realidade]], ao qual devemos [[estar]] atentos e [[abertos]] para sua [[escuta]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, ''Dialética em questão I''. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 10. |
Edição de 13h41min de 23 de Julho de 2019
1
- "A linguagem viva não tem consciência de sua própria estrutura, gramática, sintaxe etc., portanto, de tudo aquilo que a ciência da linguagem tematiza. Uma das perversões típicas do natural aparece quando a escola moderna introduz a gramática e a sintaxe em sua própra língua materna, em lugar de introduzi-la numa língua morta como o latim. Exige-se de todos um gigantesco esforço de abstração para tomar consciência expressa da gramática do idioma que se domina enquanto língua materna. A concretização efetiva da linguagem faz com que essa desapareça detrás daquilo que nela se diz" (1). Essa observação do pensador alemão é extremamente pertinente e atual. Além disso, a gramática se tornou um instrumento dos meios de comunicação, onde tudo se reduz a abstrações. Na medida em que a linguagem, manifestada em cada língua, sempre ultrapassa a gramática ou discurso da língua, sendo a língua originariamente arte e a arte linguagem, querer ensinar a arte como gramática (gêneros e estilos) é não respeitar a natureza da linguagem: ser arte.
- Referência:
- (1) GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 178.
- Ver também:
2
- A questão da gramática fica mais clara quando se opõe discurso e proposição. O discurso remete para a retórica, tanto no sentido originário como no sentido sofista. Mas no sofista já se dá a junção de discurso e proposição. Em Aristóteles é a sintese da relação discurso/gramática, mas sem o vigor do originário, pois a sua Retórica trata do discurso e a sua Lógica trata de fundo gramatical, tanto que a sintaxe se chamava análise lógica, hoje travestida de coerência e coesão ou simplemente discurso. As teorias variam, mas o fundo permanece o mesmo: a visão metafísica do lógos. Que coesão e coerência podemos encontrar numa constatação simples como: "Eu sou e eu não-sou"? A Poética seria a lógica do discurso da poíesis, isto é, do vigor do poético. Na retórica ainda temos a presença da força e vigor do rhema (do verbo eiro, o dizer do sagrado) mas já não como poíesis/ lógos/ dzoé/ phýsis. Limitou-se ao peitho, persuadir, ligado ao pascho/paixão da psykhé como algo psíquico e sentimental. Na questão da gramática e suas variantes teóricas, o essencial é recuperar o vigor poético e a ambiguidade da phýsis, e ir também para além de uma visão simplesmente epistemológica.
3
- Na questão da pro-posição gramático-formal é necessário estudar profundamente:
- a) como a gramática se relaciona com o tempo-verbo;
- b) como a gramática "pensa" (define) a relação entre sujeito e verbo;
- c) como os dois pontos anteriores se fazem presentes no conceito.
- Exatamente essas questões vistas não conceitualmente mas como sintaxe poética é que permitirão um diálogo produtivo com a questão:
- a) gramatical;
- b) da linguagem;
- c) do sujeito;
- d) da funcionalidade.
- Para estudo do conceito de coisa que origina a proposição, onde se funda a gramática, ver a referência abaixo.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte, primeira parte: o primeiro conceito de coisa. Tradução para consulta acadêmica, em tradução de Manuel Antonio de Castro e Idalina Azevedo da Silva, disponível em: Travessia Poética
4
- Ao tratar da gramática é essencial a interpretação da coisa como juízo/oração constituído de sujeito/predicado, porque aí se dá a relação entre a teoria da linguagem e o agir, ou seja, por detrás da gramática temos uma teoria da essência do agir. Daí estar relacionada à lógica. Oração: enunciado/enunciação: agir – real ou verdade; phýsis/ on: sujeito – predicado ou inteligível – sensível. A oração é a interpretação e explicação metafísica da essência do agir.
5
- "Libertar a linguagem da gramática, para um contexto essencial mais originário, está reservado ao pensar e poetizar" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 26.
- Ver também:
6
- "Essas três razões (a estética, a história, entendida como historiografia, e a análise) estabelecem as leis de desdobramento do real, em que não sobra lugar para a diferença, senão como exceção. Numa realidade dominada por leis e suas exceções, são vistas como instâncias sempre provisórias que tenderão a se enquadrar, a se comportar mediante a prescrição, até se converterem em novas leis" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p.30.
7
- "O esquecimento do poder verbal da palavra é tão forte e dominante que, gramaticalmente, o verbo ser, o verbo de todos os verbos, não passa de um verbo de ligação ou auxiliar de outros. Um parasita. Nessa tradição, o esquecimento do destinar-se do sentido do ser nos projeta em interpretações substantivo-subjetivas e não em interpretações verbais, como é o próprio acontecer da realidade, ao qual devemos estar atentos e abertos para sua escuta" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 10.