Cristianismo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Também convém notar que o [[cristianismo]] que [[Feuerbach]] conheceu foi uma das muitas [[interpretações]] [[protestantes]] do [[cristianismo]]. Nestas interpretações se considerava o homem como intrinsecamente mau, incapaz de qualquer obra boa, e que é salvo apenas enquanto os méritos de Cristo cobrem a podridão moral do homem, mas não o purificam realmente. Numa tal concepção do cristianismo, a justiça está toda da parte de Deus, a bondade, o amor, o bem, são impossíveis no homem, por causa da queda original que corrompeu totalmente a natureza humana. Nesta perspectiva protestante, e somente nesta, se compreende esta frase de Feuerbach: “A religião não encontra nada de bom na natureza humana; para ela o homem é mau, corrompido, levando-o ao mal: se Deus é bom, só Ele quer o bem”. Mas esta frase é totalmente falsa, quando aplicada ao cristianismo em sua forma católica onde o pecado original não é interpretado como corruptor radical da natureza humana, onde, portanto, o homem é capaz de verdadeiras obras de justiça, de amor, e onde a salvação de Cristo não é apenas um manto, mas uma verdadeira purificação interna.
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: "Também convém notar que o [[cristianismo]] que [[Feuerbach]] conheceu foi uma das muitas [[interpretações]] [[protestantes]] do [[cristianismo]]. Nestas [[interpretações]] se considerava o [[homem]] como intrinsecamente [[mau]], incapaz de qualquer [[obra]] [[boa]], e que é salvo apenas enquanto os [[méritos]] de [[Cristo]] cobrem a podridão [[moral]] do [[homem]], mas não o purificam [[realmente]]. Numa tal [[concepção]] do [[cristianismo]], a [[justiça]] está toda da [[parte]] de [[Deus]], a [[bondade]], o [[amor]], o [[bem]], são [[impossíveis]] no [[homem]], por causa da queda [[original]] que corrompeu totalmente a [[natureza]] [[humana]]. Nesta [[perspectiva]] [[protestante]], e somente nesta, se compreende esta frase de [[Feuerbach]]: “A [[religião]] não encontra [[nada]] de [[bom]] na [[natureza]] [[humana]]; para ela o [[homem]] é [[mau]], corrompido, levando-o ao [[mal]]: se [[Deus]] é [[bom]], só Ele quer o [[bem]]”. Mas esta frase é [[totalmente]] [[falsa]], quando aplicada ao [[cristianismo]] em sua [[forma]] [[católica]] onde o pecado [[original]] não é interpretado como corruptor [[radical]] da [[natureza humana]], onde, portanto, o [[homem]] é capaz de [[verdadeiras]] [[obras]] de [[justiça]], de [[amor]], e onde a [[salvação]] de [[Cristo]] não é apenas um manto, mas uma [[verdadeira]] purificação interna" (1).
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: (1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ----. ''História da Filosofia''.
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: Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS, em 1964.

Edição de 15h52min de 26 de Outubro de 2019

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""O cristianismo opôs à visão do tempo cíclico da antiguidade greco-romana um tempo linear, sucessivo e irreversível, com um começo, um fim, da queda de Adão e Eva ao Juízo Final. Diante desse tempo histórico e mortal houve outro tempo sobrenatural, invulnerável diante da morte e da sucessão: a Eternidade. Por isso, o único episódio decisivo da história terrestre foi o da Redenção: o descenso de Cristo e o seu sacrifício representam a interseção entre a Eternidade e a temporalidade, o tempo recessivo e moral dos homens e o tempo do mais além, que não muda nem sucede, idêntico a si próprio sempre. A Idade Moderna começa com a crítica à Eternidade cristã e com a aparição de outro tempo. De um lado, o tempo finito do cristianismo, com um começo e um fim, se converte num tempo quase infinito da evolução natural e da história, aberto em direção do futuro. De outro lado, a modernidade desvaloriza a Eternidade: a perfeição se translada para o futuro, não no outro mundo, mas neste. Basta lembrar a imagem célebre de Hegel: a rosa da razão está crucificada no presente" (2).


Referência:
(1) PAZ, Octávio. "Ruptura e convergência". In: A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, pp. 36.


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"Também convém notar que o cristianismo que Feuerbach conheceu foi uma das muitas interpretações protestantes do cristianismo. Nestas interpretações se considerava o homem como intrinsecamente mau, incapaz de qualquer obra boa, e que é salvo apenas enquanto os méritos de Cristo cobrem a podridão moral do homem, mas não o purificam realmente. Numa tal concepção do cristianismo, a justiça está toda da parte de Deus, a bondade, o amor, o bem, são impossíveis no homem, por causa da queda original que corrompeu totalmente a natureza humana. Nesta perspectiva protestante, e somente nesta, se compreende esta frase de Feuerbach: “A religião não encontra nada de bom na natureza humana; para ela o homem é mau, corrompido, levando-o ao mal: se Deus é bom, só Ele quer o bem”. Mas esta frase é totalmente falsa, quando aplicada ao cristianismo em sua forma católica onde o pecado original não é interpretado como corruptor radical da natureza humana, onde, portanto, o homem é capaz de verdadeiras obras de justiça, de amor, e onde a salvação de Cristo não é apenas um manto, mas uma verdadeira purificação interna" (1).


(1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ----. História da Filosofia.
Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS, em 1964.
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