Presente

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 21h27min de 31 de Julho de 2016 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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Heidegger diz: "Mas talvez um dia cheguemos a intuir que o mistério velado de nossa essência se nos apresenta no passado vigente, sendo, portanto, presente. Como, se nem sabemos direito o que é o presente? Como, se só sabemos calcular entre o que acabou de passar, o que é transitório agora e o que já passou muito, muito antes?" (1) Ora, o entendimento atual da morte é tributário desta concepção de tempo. Ou seja, ela muda conforme a sua concepção. Para entendermos o que é o homem como ser mortal, é necessário pensá-lo a partir da essência do tempo como ser. Daí poder ser plenitude, como a impossibilidade de todas as possibilidades. Prossegue: "o passado vigente sempre nos sobrevém". Se ele sobrevém, o que parece futuro ou o depois do presente é, na realidade, o passado vigente - pessoal e coletivo. Nós desaguamos no vigente do passado: a Memória, que foi, é e será. Daí, para os gregos, a morte - thánatos - ser um retornar ao rio Léthes: o passado vigente enquanto o que se vela e esquece. Mas a Modernidade só conhece a morte biológica. Porém, todas as grandes obras de arte falam da morte como "uma outra vida", certamente não a "biológica", mas a phýsis/ dzoé/ lógos/ sóphos - a plenitude da sabedoria/sabor.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 206.

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"Aparentemente não existe nada de mais evidente, de mais tangível e palpável do que o momento presente. E, no entanto, ele nos escapa completamente. Toda a tristeza da vida está aí. Durante um único segundo, nossa vista, nossa audição, nosso olfato registram (consciente ou inconscientemente) uma massa de acontecimentos e, por nossa cabeça, passa um cortejo de sensações e ideias. Cada instante representa um pequeno universo, irremediavelmente esquecido no instante seguinte" (1).


Referência:
(1) KUNDERA, Milan. A arte do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p.28.


3

O inaugural da realidade é o presente. Sempre sem causa e sem finalidade. Puro acontecer poético-apropriante, inesperado para o qual o passado e o futuro podem nos tornar cegos (só voltados para o domínio das circunstâncias dominantes e não para aquelas que acontecem no instante. O presente como temporalidade é o não-causal. Esse é o destino do entre-ser (Dasein) que nos liberta. Toda libertação - acontecer poético-apropriante - é possibilidade de para possibilidade.


- Manuel Antônio de Castro
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