Método

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:A questão metodológica está pouco elaborada no que diz respeito  aos estudos literários. Por isso, a seguinte observação de Mircea Eliade esclarece: “Atualmente, os historiadores das religiões estão divididos entre duas orientações metodológicas divergentes, mas complementares: uns concentram sua atenção nas estruturas específicas dos fenômenos religiosos, enquanto outros interessam-se de preferência pelo contexto histórico desse fenômeno; os primeiros esforçam-se por compreender a essência da religião, os outros trabalham por decifrar e apresentar sua história”. Eliade, Mircea. O sagrado e o profano. S. Paulo, Martins Fontes, 2001, p. 13. A hermenêutica ontológica trabalha ao mesmo tempo sobre a essência e sobre a história, mas dando à interpretação e a esses conceitos um sentido ontológico. Os dois métodos de que fala Eliade têm origem científica. Que método usar para ficar fiel ao fato religioso, não como fato mas como fenômeno religioso? Pensando em Gadamer, notamos que o núcleo é a questão histórica, mas como fica a interpretação em sociedades arcaicas que não vivenciam o real como histórico no sentido científico? O homem também aí se dá um sentido e é de alguma maneira histórico. Mas que histórico é este? O que é isto o histórico? Pode haver histórico sem acontecer poético, pois como saber o que é a história sem tematizar o tempo e como questionar o tempo sem questionar a memória? Em relação à memória não se inscreve o método como caminhada de diálogo?
:A questão metodológica está pouco elaborada no que diz respeito  aos estudos literários. Por isso, a seguinte observação de Mircea Eliade esclarece: “Atualmente, os historiadores das religiões estão divididos entre duas orientações metodológicas divergentes, mas complementares: uns concentram sua atenção nas estruturas específicas dos fenômenos religiosos, enquanto outros interessam-se de preferência pelo contexto histórico desse fenômeno; os primeiros esforçam-se por compreender a essência da religião, os outros trabalham por decifrar e apresentar sua história”. Eliade, Mircea. O sagrado e o profano. S. Paulo, Martins Fontes, 2001, p. 13. A hermenêutica ontológica trabalha ao mesmo tempo sobre a essência e sobre a história, mas dando à interpretação e a esses conceitos um sentido ontológico. Os dois métodos de que fala Eliade têm origem científica. Que método usar para ficar fiel ao fato religioso, não como fato mas como fenômeno religioso? Pensando em Gadamer, notamos que o núcleo é a questão histórica, mas como fica a interpretação em sociedades arcaicas que não vivenciam o real como histórico no sentido científico? O homem também aí se dá um sentido e é de alguma maneira histórico. Mas que histórico é este? O que é isto o histórico? Pode haver histórico sem acontecer poético, pois como saber o que é a história sem tematizar o tempo e como questionar o tempo sem questionar a memória? Em relação à memória não se inscreve o método como caminhada de diálogo?
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==Ver Também==
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*[[Círculo]]
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:"O questionamento trabalha na construção de um [[caminho]]. Por isso, aconselha-se a considerar sobretudo o caminho e a não ficar preso às várias sentenças e aos diversos títulos. O caminho é um caminho de [[pensamento]]. Todo caminho de pensamento passa de maneira mais ou menos perceptível e de modo extraordinário pela linguagem"(1).
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*[[Metodologia]]
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*[[Arte|Obra de Arte]]
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*[[Poiesis]]
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:Referência
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*[[Religião]]
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*[[Verdade]]
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Ensaios e conferências''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 11.
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*[[Vontade]]
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:'''Ver também:'''
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:*[[Mistério]]
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:*[[Clareira]]
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:*[[Floresta]]

Edição de 11h49min de 1 de março de 2009

1

"O meu propósito não consiste aqui em ensinar o método que cada um deve seguir para bem dirigir a razão, mas sim mostrar apenas de que modo consegui dirigir a minha... Logo que terminei o curso de estudos com que é costume ser-se recebido na classe dos doutos, mudei inteiramente de opinião, pois vi-me tão embaraçado com dúvidas e erros que me pareceu não ter obtido outro proveito, ao tratar de me instruir, senão descobrir cada vez mais a minha ignorância" (1).


Referências:
(1) KIERKEGAARD, Sören. Temor e tremor. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 20.

2

Emmanuel Carneiro Leão precisa bem o conteúdo do método enquanto metodologia, em seu livro Aprendendo a Pensar II. Destaco, na página 164: “É necessário ter bem claro o objetivo deste fazer específico que é investigar. O objetivo estabelecido no tema determina o método, isto é, o conjunto das decisões sobre o caminho a seguir, o nível e registro a tomar, os recursos e meios a empregar, o grau e o como fazer. Decide, sobretudo, do necessário para a viagem chegar ao fim e atingir o objetivo. Pois desta definição prévia depende tudo: quem investiga, para quê, o quê, como e onde investigar!”


Referências:
LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis, Vozes, 1992

3

A questão do método tem muitos caminhos, mas para uma hermenêutica ontológica, ele passa necessariamente pela “questão que é digna de ser pensada”, pela “questão do pensamento”. Em relação ao método diz Ernildo Stein na “Nota do Tradutor”: “Não discutiremos aqui até que ponto Heidegger terá razão quando critica e procura superar Hegel e Husserl. É, sem dúvida, simplificação resumir a filosofia de ambos na subjetividade e, conseqüentemente, na questão do método; como também é impossível pensar em separar, na “questão do pensamento”, método e questão.” Ora, Heidegger não separa método e questão, apenas não fica preso às formulações metodológicas de ambos, que acabam por configurar seu pensamento, mas Heidegger pensa o método já dentro da questão, ao pensar o círculo da circularidade perfeita, nas trilhas do pensador Heráclito. Não se pode entender método em seu aspecto formal. Por isso Heidegger fala muito em caminho e o caminho nunca está desligado da questão. Ver só como exemplo o ensaio “O caminho do campo”. Esta questão do método também é fundamental para a questão da arte.


Referências:
STEIN, Ernildo. In: Os Pensadores. Heidegger. São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 67

4

O método, enquanto caminho, implica a verdade, porque aí caminho é, no fundo, realizar como ethos/agir o que nos é próprio. Ethos, de onde se forma a palavra ética, é o agir no horizonte do sentido do ser, onde se dá a ética, o livre agir movido pela sabedoria. Há, portanto, no método: 1-caminho; 2-ação; 3-ethos; 4-logos, como reunião de desvelamento e velamento. Portanto, tudo isso leva à alétheia (desvelamento ou verdade). verdade enquanto alétheia, a palavra grega para verdade, não pode ser confundida com verdadeiro (a que se opõe falso). A verdade se dá em tensão com a não-verdade e não com o falso. Não se pode falar de verdadeiro se já não nos movemos dentro e a partir da verdade.

5

Para as obras de arte não há um método geral e único. Quando isso ocorre, o próprio da obra de artre se retrai e fica silenciado. Toda obra de arte institui nela mesma o método ou caminho que devemos pela escuta seguir atenta e inauguralmente. Ao solicitar em primeiro lugar a escuta, a obra exige de cada leitor um caminho sempre inaugural. Por isso é que, nas leituras das grandes obras de arte, não só diferentes leituras do mesmo leitor, mas também as leituras de diferentes momentos históricos encontram sempre caminhos novos. “A Paidéia poética hölderliniana revigora a hermenêutica, pois esta admite que cada obra de arte solicita um método adequado ao princípio que articula seu corpo. O método canônico, pretensamente único e verdadeiro, tão cultuado pela metodologia *hipertrofiada* na *metodomania*, se denuncia como uma abstração que vale para tudo e coisa nenhuma.”


Referências:
Atualidade do trágico, In: SOUZA, Ronaldes de Melo e. Filosofia e literatura. Rio de Janeiro, Zahar, 2001, p.126.

6

Toda questão só é questão na medida em que empreende uma caminhada. Nesta, a questão advém e fala como verdade. É a alétheia (palavra grega que diz: desvelamento, e este é o que poeticamente se denomina verdade) do logos (linguagem). A alétheia pode ser a alétheia do logos porque ela se torna e é a partir da poiesis (vigor do poético) enquanto ethos (vigor do sentido do agir, ética) da questão. Por ser o ethos da questão, ela se dá como sophia (sabedoria) e não simplesmente como o a ser conhecido tecnicamente. Todo sophia, como ethos, vige na essência da linguagem: a physis (nascividade) / dzoé (vida). A questão de todo querer se dá como caminho e não simplesmente como desejo ao nível do psíquico ou pela vontade do querer.
Eis o que nos diz Heidegger: “A seguir questionaremos a técnica. O questionamento trabalha na construção de um caminho. Por isso aconselha-se a considerar sobretudo o caminho e a não ficar preso às várias sentenças e aos diversos títulos. O caminho é um caminho do pensamento. Todo caminho de pensamento passa, de maneira mais ou menos perceptível e de modo extraordinário, pela linguagem.”


Referências:
HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. In: Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p.11.

7

Fazer o itinerário ocidental do mito à ciência é fazer o itinerário das opções de método e o que ele sempre implica: a verdade. Na medida em que implica a verdade, nele estão implicados: o homem, o mundo, o real, a terra. Ora, o caminho no caminhar se dá sempre como diálogo. Por isso o diá-logo vai implicar a memória/história, a cultura, a co-letividade originária, que é originária quando se dá o cum-legere (verbo latino que significa: o ler em conjunto, em unidade) do homoleguein (verbo grego que significa: falar a partir do mesmo): é neste que temos a identidade originária ou ontológica.
É nessa dimensão que podemos diferenciar o que Marx diz sobre alienação e o que diz Heidegger. A questão já está encaminhada na escolha do método por Marx ao tomar como base a dialética hegeliana, ao passo que Heidegger a questiona e vai às diferenças. O que está em questão tanto em Marx quanto em Heidegger é a questão do humano. O que é o humano? A questão é que nenhum humanismo pode dimensionar o humano do homem. E é nisso que Heidegger insiste. É com este olhar que é preciso ler os dois ensaios de Heidegger, que depois foram reunidos: Identidade e diferença. O método decide da questão porque nele se dimensiona a questão da verdade. Verdade e método decidem do que no questionar se coloca como homem, mundo, real, ou seja, como essência do agir.

8

A questão metodológica está pouco elaborada no que diz respeito aos estudos literários. Por isso, a seguinte observação de Mircea Eliade esclarece: “Atualmente, os historiadores das religiões estão divididos entre duas orientações metodológicas divergentes, mas complementares: uns concentram sua atenção nas estruturas específicas dos fenômenos religiosos, enquanto outros interessam-se de preferência pelo contexto histórico desse fenômeno; os primeiros esforçam-se por compreender a essência da religião, os outros trabalham por decifrar e apresentar sua história”. Eliade, Mircea. O sagrado e o profano. S. Paulo, Martins Fontes, 2001, p. 13. A hermenêutica ontológica trabalha ao mesmo tempo sobre a essência e sobre a história, mas dando à interpretação e a esses conceitos um sentido ontológico. Os dois métodos de que fala Eliade têm origem científica. Que método usar para ficar fiel ao fato religioso, não como fato mas como fenômeno religioso? Pensando em Gadamer, notamos que o núcleo é a questão histórica, mas como fica a interpretação em sociedades arcaicas que não vivenciam o real como histórico no sentido científico? O homem também aí se dá um sentido e é de alguma maneira histórico. Mas que histórico é este? O que é isto o histórico? Pode haver histórico sem acontecer poético, pois como saber o que é a história sem tematizar o tempo e como questionar o tempo sem questionar a memória? Em relação à memória não se inscreve o método como caminhada de diálogo?

9

"O questionamento trabalha na construção de um caminho. Por isso, aconselha-se a considerar sobretudo o caminho e a não ficar preso às várias sentenças e aos diversos títulos. O caminho é um caminho de pensamento. Todo caminho de pensamento passa de maneira mais ou menos perceptível e de modo extraordinário pela linguagem"(1).


Referência
(1) HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 11.


Ver também: