Interpretar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Interpretar é em latim ''interpretari''. É a tradução do verbo grego ''hermeneúein'', que significa: transmitir, trazer [[mensagem|mensagens]]. O [[intérprete]] dos deuses é Hermes. Tanto ''hermeneúein'' como Hermes provêm do radical '''Wer'' ou ''Wre'', que significa o [[falar]] e o [[dizer]] da língua enquanto interpretação do mistério' (1). [...] Interpretar é descer à dinâmica da história" (2).
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: "[[Interpretar]] é em latim ''interpretari''. É a [[tradução]] do verbo grego ''hermeneúein'', que significa: transmitir, trazer [[mensagem|mensagens]]. O [[intérprete]] dos deuses é [[Hermes]]. Tanto ''hermeneúein'' como [[Hermes]] provêm do radical '''Wer'' ou ''Wre'', que significa o [[falar]] e o [[dizer]] da [[língua]] enquanto [[interpretação]] do [[mistério]]" (1). [...] "[[Interpretar]] é descer à dinâmica da [[história]]" (2).
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 248.
:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 248.
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:(2) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 80.
:(2) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 80.
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: Se quisermos saber o que é e como [[interpretar]] uma [[obra de arte]], certamente, não deveremos partir dos [[conceitos]] dos teóricos. No [[interpretar]] devem sempre [[vigorar]] as sinalizações das [[questões]], porque estas são os alimentos de que todos os grandes [[poetas]] se nutrem. Nas próprias [[obras de arte]] devemos encontrar tais sinalizações, que estão à espera de cada [[leitor]], para que este se entregue à [[iniciação]] poética do [[diálogo]], uma [[iniciação]] que se dá sempre no [[diálogo]] com as [[obras]] enquanto [[auto-diálogo]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Se quisermos saber o que é e como interpretar uma [[obra de arte]], certamente, não deveremos partir dos [[conceitos]] dos teóricos. No interpretar devem sempre vigorar as sinalizações das [[questões]], porque estas são os alimentos de que todos os grandes poetas se nutrem. Nas próprias obras de arte devemos encontrar tais sinalizações, que estão à espera de cada [[leitor]], para que este se entregue à [[iniciação]] poética do [[diálogo]], uma iniciação que se dá sempre no diálogo com as obras enquanto [[auto-diálogo]].
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: "[[Interpretar]], todo [[interpretar]] é sempre um ''[[apropriar]]''. [[Apropriar]], porém, não deve ser entendido no [[sentido]] [[subjetivista]], que habitual e imediatamente nos é sugerido. Ou seja, [[interpretar]], à medida que é [[apropriar]], não é, por parte de algum [[sujeito]]-intérprete ([[eu]]), impor, imprimir ao interpretado, ao ''objeto'', a sua [[vontade]], isto é, a [[formação]], os [[conhecimentos]], os [[desejos]], [[valores]] caprichos e idiossincrasias de seu ''[[interior]]'', de sua [[subjetividade]], modelando assim o interpretado, o [[objeto]], à sua [[imagem]] e semelhança e, assim, [[tudo]] nivelando, achatando, igualando ao seu ''[[eu]]'', à sua [[vontade]]" (1).
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
 
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: (1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org).'''Permanecer silêncio: Manuel Antônio de Castro e o humano como obra'''. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 115.
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: "E o que todo [[interpretar]] implica? É algo que vai muito além das [[teorias]] semântico-gramaticais e já nos demanda o [[pensamento]] fundador da [[etimologia]]. Qual a [[relação]] entre “pré-dizer” e “reunir letras”? Somente podemos “reunir letras” porque podemos “pré-dizer” ou “pré-ler” " (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 19.
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: [[Pensar]] é [[interpretar]]. Mas isto jamais diz uma [[ação]] de quem interpreta como o determinante do [[pensar]]. Todo [[interpretar]] é um abrir-se para o [[vigorar]] do que em nós provoca e convoca uma [[escuta]]. Dessa maneira, todo [[interpretar]] é sempre um [[vigorar]] no "[[entre]]", pelo qual medimos nossa condição a [[partir]] do que somos e não-somos, na [[vigência]] do [[sentido]] do [[ser]]. O que sempre no [[pensar]] advém é o [[sentido]] do que somos. Isso é [[interpretar]].
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: [[Interpretar]] é fazer [[eclodir]] o que somos pelo [[vigorar]] da [[energia]] das [[obras de arte]]. [[Interpretar]] é [[crescer]] e [[libertar-se.]]
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:FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In:''Permanecer silêncio: Manuel Antonio de Castro e o humano como obra''.  FAGUNDES, Igor (org). Rio de Janeiro: Confraria do Vento, p. 115
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 02h56min de 17 de Outubro de 2022

1

"Interpretar é em latim interpretari. É a tradução do verbo grego hermeneúein, que significa: transmitir, trazer mensagens. O intérprete dos deuses é Hermes. Tanto hermeneúein como Hermes provêm do radical 'Wer ou Wre, que significa o falar e o dizer da língua enquanto interpretação do mistério" (1). [...] "Interpretar é descer à dinâmica da história" (2).


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 248.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 80.

2

Se quisermos saber o que é e como interpretar uma obra de arte, certamente, não deveremos partir dos conceitos dos teóricos. No interpretar devem sempre vigorar as sinalizações das questões, porque estas são os alimentos de que todos os grandes poetas se nutrem. Nas próprias obras de arte devemos encontrar tais sinalizações, que estão à espera de cada leitor, para que este se entregue à iniciação poética do diálogo, uma iniciação que se dá sempre no diálogo com as obras enquanto auto-diálogo.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Interpretar, todo interpretar é sempre um apropriar. Apropriar, porém, não deve ser entendido no sentido subjetivista, que habitual e imediatamente nos é sugerido. Ou seja, interpretar, à medida que é apropriar, não é, por parte de algum sujeito-intérprete (eu), impor, imprimir ao interpretado, ao objeto, a sua vontade, isto é, a formação, os conhecimentos, os desejos, valores caprichos e idiossincrasias de seu interior, de sua subjetividade, modelando assim o interpretado, o objeto, à sua imagem e semelhança e, assim, tudo nivelando, achatando, igualando ao seu eu, à sua vontade" (1).


Ver também:
Lógos
Linguagem
Hermes


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org).Permanecer silêncio: Manuel Antônio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 115.

4

"E o que todo interpretar implica? É algo que vai muito além das teorias semântico-gramaticais e já nos demanda o pensamento fundador da etimologia. Qual a relação entre “pré-dizer” e “reunir letras”? Somente podemos “reunir letras” porque podemos “pré-dizer” ou “pré-ler” " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 19.

5

Pensar é interpretar. Mas isto jamais diz uma ação de quem interpreta como o determinante do pensar. Todo interpretar é um abrir-se para o vigorar do que em nós provoca e convoca uma escuta. Dessa maneira, todo interpretar é sempre um vigorar no "entre", pelo qual medimos nossa condição a partir do que somos e não-somos, na vigência do sentido do ser. O que sempre no pensar advém é o sentido do que somos. Isso é interpretar.


- Manuel Antônio de Castro

6

Interpretar é fazer eclodir o que somos pelo vigorar da energia das obras de arte. Interpretar é crescer e libertar-se.


- Manuel Antônio de Castro
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